Carne bovina vira 'artigo de luxo' e consumo cai 50% no Brasil

 




A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). estima que o consumo de carne vermelha no país seja o menor em 25 anos.


Está cada vez mais difícil conseguir fazer o preço dos alimentos caber no orçamento. A ida ao açougue, por exemplo, tem exigido planejamento. A aposentada Iva Batista, 60, separa pelo menos três horas do dia que decide ir ao mercado para pesquisar só os preços das carnes. Isso porque a carne vermelha já acumula alta de 31,87% nos últimos 12 meses em Belo Horizonte, segundo pesquisa realizada pelo site Mercado Mineiro. “Nem lembro a última vez que comi carne”, conta a aposentada, que disse que carne de boi virou “artigo de luxo”.

De acordo com a Associação de Frigoríficos de Minas Gerais, do Espírito Santo e do Distrito Federal (Afrig), Iva não está sozinha. Segundo a entidade, o consumo de carne caiu pelo menos 50% nos últimos meses. A estatística vai ao encontro da projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que estima que o consumo de carne vermelha no país seja o menor em 25 anos.

“A gente tenta pesquisar, mas não tem muito para onde correr, em todo lugar os preços estão absurdos”, disse o aposentado Wellington Maia, 83. Na Casa de Carnes Drummond, no centro de Belo Horizonte, até o consumo de frango e porco caiu em torno de 20%. O motivo? O preço. De acordo com o IBGE, no último ano, a carne suína e a ave já disparam 30,98% e 20%, respectivamente. “As pessoas têm cada vez levado menos para casa. Com o aumento do preço não tem como, o cliente acaba comprando menos”, explica o gerente da unidade, Antônio Justino. Segundo ele, a alternativa da maioria dos clientes tem sido a linguiça.

Para driblar os reajustes, o consumidor tem recorrido aos cortes conhecidos como “de segunda”. “A procura tem sido pela salsicha, pelo pescoço de peru, até pela carcaça do frango. O que antes eram cortes descartáveis, uma parte desprezada, virou uma opção de venda até para os supermercados, que precisam atender as classes mais baixas, que realmente estão sem alternativas”, analisa o economista Feliciano Abreu, diretor do site Mercado Mineiro.

A dona de casa Ray Ribeiro, 46, tem usado outras estratégias. “Além de estar consumindo muito menos carne, tenho procurado locais que vendem perto do vencimento, porque sai mais em conta. Como não existe mais compra mensal, comprar picado e aproveitar as promoções têm amenizado um pouco”, afirma.

Em julho, com a exportação aquecida e cotações em alta, o preço em dólar da tonelada de carne bovina exportada foi 32% superior ao mesmo período de 2020.



Produtores reclamam da alta de custos

De acordo com o presidente da Associação de Frigoríficos de Minas Gerais, do Espírito Santo e do Distrito Federal (Afrig), Silvio Silveira, os produtores estão trabalhando apertado por conta do aumento dos custos. “Eles vão quebrar, não dá para diminuir os preços. O custo do quilo do porco, por exemplo, fica em R$ 8,50 e tem sido vendido a R$ 7. O produtor não está dando conta do preço do milho, da soja, do adubo, tudo só sobe”, destaca.

Segundo ele, a diminuição do consumo de carnes se deu com o fim do auxílio emergencial. “O que acontece é que, agora, o consumo de tudo caiu, de todos os alimentos em geral, mas antes, durante o benefício, a demanda tinha aumentado”, disse.

O economista Feliciano Abreu, ainda acrescenta: "Temos vários fatores para esses aumentos das carnes. Ano passado, tivemos uma demanda externa muito grande, tanto do rebanho bovino quanto do suíno. Fora o aumento do dólar, que incentiva muito o produtor brasileiro a exportar. Outro ponto é o custo de produção que é influenciado por todas as conjunturas que estamos vivendo, a alta da energia, do combustível, tudo isso influencia também", analisa.



Preço salgado

Veja quais foram os reajustes no valor das carnes em Belo Horizonte



Variação do preço em 12 meses

Carne de porco: 30,98%

Frango inteiro: 20%

Ovos: 13%



Cortes bovinos

Variação do preço em 6 meses / Variação do preço em 12 meses

Contrafilé / 11,59% / 27,54%

Chã de dentro / 13,98% / 32,19%

Alcatra / 18,06% / 33,69%

Patinho / 13,73% / 33,03%

Músculo / 17,09% / 41,03%

Pá / 8,49% / 30,03%

Acém / 14,16 % / 35,3%

Costela / 11,38% / 31,41%

Picanha / 4,14% / 30,21%



31,87% é o aumento do preço da carne bovina em um ano

Preços médio das carnes na RMBH*



Boi

- Acém: R$ 31,80

- Alcatra: R$ 43,83

- Chã de Dentro: R$ 40,93

- Chã de Fora: R$ 38,41

- Contra Filé: R$ 45,39

- Filé Mignon: R$ 56,65

- Fraldinha: R$ 36,34

- Lagarto: R$ 38,50

- Maminha: R$ 41,84

- Miolo de Alcatra: R$ 45,60

- Patinho: R$ 38,95

- Picanha: R$ 60,39



Porco

- Bisteca Suína: R$ 19,26

- Copa Lombo : R$ 18,81

- Costelinha: R$ 22,98

- Lombinho Filé: R$ 21,04

- Lombo Aparado: R$ 20,97

- Lombo Inteiro: R$ 20,50

- Orelha: R$ 10,16

- Pazinha: R$ 16,30

- Pé: R$ 13,19

- Pernil C/ Osso: R$ 17,05

- Pernil S/ Osso: R$ 19,01

- Rabinho: R$ 17,02

- Toucinho Comum: R$ 11,52

- Toucinho P/ Torresmo: R$ 20,65

- Salsicha: R$ 10,56



Frango

- Asa Resfriada: R$ 16,61

- Coração: R$ 26,70

- Coxa S/ Coxa: R$ 12,34

- Filé de Peito: R$ 18,01

- Frango Cong.: R$ 10,90

- Frango Resfriado: R$ 10,86

- Peito Resfriado: R$ 13,19

- Pescoço de Peru: R$ 19,83



*Valores referentes a 18 de agosto



Fonte IBGE e Mercado Mineiro
Fonte: O Tempo