Até 7 de janeiro de 2017, 15 pessoas morreram afogadas no estado.
“É uma saudade que nunca acaba”. Este é o sentimento de Dyellen Silva, 22 anos, que perdeu a mãe vítima de afogamento quando aproveitava o verão no Sul de Minas. Em 2016, 334 pessoas morreram afogadas em Minas Gerais, quase uma morte por dia. A maioria dos casos acontece entre novembro e fevereiro, quando muitas pessoas se arriscam em rios e cachoeiras, responsáveis por 90% dos acidentes com água. Destino de turismo natural, o Sul de Minas concentra 18,56% dos casos de afogamentos.
Há cinco anos, a mãe de Dyellen foi para uma fazenda com alguns amigos para se refrescar em um dia típico de verão, em São Pedro da União (MG), onde morava. Segundo a jovem, Hosana Maria da Silva, de 33 anos, não sabia nadar e entrou no rio mesmo assim.
“Enquanto os amigos dela estavam em um local, ela entrou em outro rio e caiu. Ao tentar se levantar, ela não conseguiu ficar em pé e tornou a cair. Quando os amigos dela chegaram ao local, não encontraram mais o corpo”, conta.
Ainda de acordo com a jovem, não havia Corpo de Bombeiros próximo ao local na época, e devido à demora, os amigos resolveram fazer uma busca pelo corpo da vítima, que ainda estava desaparecido. “Eles jogaram uma rede de peixe no rio e conseguiram encontrar ela antes que os bombeiros chegassem”.
Hosana deixou Dyellen e mais quatro filhos. “Foi muito difícil no começo, nós éramos muito dependentes dela, para tudo. Além disso, eu e meus irmãos fomos morar em casas separadas, cada um com um tio. É uma saudade que nunca acaba, mas a gente aprende a viver”.
Diversão arriscada
Somente até o dia 7 de janeiro deste ano, o Corpo de Bombeiros já registrou 15 afogamentos no estado. Segundo a instituição, 90% dos acidentes com água acontecem em áreas naturais, como rios, represas, lagoas, cachoeiras e córregos, sendo que, a maior parte deles, 25%, são nos rios. Já os outros 10% são em águas não naturais, sendo que 2% delas acontecem em piscinas. Os índices de afogamentos aumentam entre os meses de novembro e fevereiro, chegando a 44% dos registros.
Em 2014, 78 dos 385 afogamentos, ou seja, 20,25% dos casos no estado foram na região do Sul de Minas. Já em 2015, a porcentagem diminuiu para 18,51%, ou seja, foram registrados 70 afogamentos na região e 378, quase dez a menos em Minas Gerais. Apesar da redução, o número de casos continua alto no Estado. Nestes dois anos, foi registrado cerca de um afogamento por dia pelo Corpo de Bombeiros.
Ainda de acordo com a instituição, 51% das vítimas são pessoas com até 29 anos. No Sul de Minas, duas crianças morreram afogadas em Poços de Caldas (MG) no início deste ano. No dia 2 de janeiro, um menino de 1 ano e meio se afogou depois de cair em uma piscina de 1000 litros, no quintal de casa. No dia 8, um menino de 5 anos morreu afogado em uma piscina pública no Complexo Juca Cobra.
“É importante ressaltar que crianças devem ficar com uma distância de segurança de um braço e ser sempre observadas pelos pais. Adultos, em caso de afogamento, não devem pular para salvar o outro, mas sim utilizar de materiais para auxiliar, como cordas, galhos; e ligar para o 193”, alerta o Tenente do Corpo de Bombeiros, Claudio de Souza.
(Confira no vídeo abaixo procedimentos de segurança para evitar acidentes na água)
A vida de João Carlos da Cruz também mudou para sempre em 2001. Ele perdeu o filho de 10 anos quando a família aproveitava o dia na piscina de um clube em Guaxupé (MG). “Estávamos (João, sua esposa e seus dois filhos: Gabriel e João Mateus) em um clube da cidade, quando em questão de minutos o João Mateus se afogou”.
Segundo Cruz, pessoas que estavam no local tentaram tirar a criança da piscina com vida, mas não foi possível. “O Gabriel (outro filho) saiu correndo pelo meio da rua, nós procuramos algum salva-vidas ou a ajuda de alguém que trabalhava no local para salvar o João, mas somente as pessoas que estavam lá para se divertir, amigos e conhecidos, nos ajudaram”, conta.
João Mateus Silva Cruz morreu no dia 7 de janeiro daquele ano, alguns dias antes de completar 11 anos. “Nós tivemos e temos a fé em Deus para nos amparar, o que tornou esse momento um pouco mais fácil de superar”.
*Sob supervisão de Samantha Silva, do G1 Sul de Minas