Engenheiro de MG tentou embarcar para Romênia mas não conseguiu devido à lotação. Ele diz ter sido deixado para atrás por um grupo que deixou o país no fim de semana e afirma que recebeu informação errada do Itamaraty nesta semana. O Itamaraty enviou nota dizendo que "presta toda a assistência cabível aos nacionais brasileiros naquele país", sem comentar a reclamação.
Os três brasileiros que estão abrigados em um bunker de um hotel no Centro de Kiev, na Ucrânia, à espera de resgate, relataram terem sido expulsos nesta segunda-feira (28) de trens por autoridades ucranianas. Eles tentaram sair da cidade para fugir da guerra, mas não conseguiram e tiveram que retornar ao abrigo. Mais cedo, nas redes sociais, o engenheiro mineiro David Abu-Gharbil filmou uma estação de Kiev cheia de pessoas.
"Tentamos todas as direções possíveis, todos os trens que apareceram, quatro, cinco trens, o que aparecesse a gente estava entrando, todas as direções para ficar longe de Kiev. Infelizmente estavam lotados. Você precisa ter uma passagem e eles dão preferência para ucranianos quando é gratuito. Então a gente não entrava por ser estrangeiro", disse o engenheiro mineiro.
David relata que ele e os amigos, os jogadores de futsal Jonatan Bruno Santiago, de 30 anos, de Santa Catarina e Matheus Ramires, do Rio Grande do Sul, tentaram embarcar em um dos trens após pagarem o maquinista, mas foram expulsos pouco depois.
"Tentamos dar um jeitinho brasileiro, a gente ia na frente com o maquinista. Mas quando nós subimos lá, chegou o chefe do maquinista e tirou a gente à força. Me empurraram lá de cima, eu bati o peito, fiquei sem ar. Uma tensão total, tudo escuro, soldados falando pra ir embora", contou.
David contou no vídeo que ele e os amigos vão tentar sair do país pelos trens mais uma vez nesta terça-feira (1º), mas que na dúvida, já compraram passagens para embarcarem na próxima quarta (2).
"Conseguimos comprar uma passagem, compramos quatro. Tudo lotado, a gente vai com passagem, é o que tinha. Vamos para Ivana Frankivsk [cidade localizada no oeste da Ucrânia]. É muito tenso ficar aqui, o que a gente passou hoje, indo e voltando na rua, supermercados lotados, tudo foi tenso", completou.
Informações erradas e sem trem
O plano 'A' dos brasileiros era fugir em sentido à Romênia, mas, segundo David, a embaixada brasileira repassou informações erradas.
“A embaixada falou que iria ajudar, e não ajudou em nada. Só falou pra gente ir até os trens. Até agora o metrô está fechado. Eles deram a informação de que estava aberta e não está, então quem estiver longe e tiver que ir para o metrô não vá, porque não está aberto”, disse David em suas redes sociais.
A estação citada pelo David é a Universytet, no Centro de Kiev. Ele contou que a linha vermelha do trem estava fechada quando chegaram até o metrô.
O plano era que eles saíssem do hotel após o toque de recolher, que vai até às 8h (3h de Brasília) e pegassem um trem que iria para Chernivtsi, cidade no oeste do país, a 535 km da capital ucraniana, nas proximidades das fronteiras com a Romênia e a Moldávia.
"A embaixada brasileira não ajuda nada. Falam uma notícia, fazem você ir até o local e você tem que se virar do mesmo jeito. Não tem trem de embaixada! São todos os trens para todos, quem chegar primeiro, por ordem de prioridade. Você tem que dar sorte de entrar"
O Itamaraty enviou nota dizendo que "presta toda a assistência cabível aos nacionais brasileiros naquele país", sem comentar sobre a reclamação.
Deixados para trás
O mineiro David Abu-Gharbil e mais dois amigos, os jogadores de futsal Jonatan Bruno Santiago, de 30 anos, de Santa Catarina e Matheus Ramires, do Rio Grande do Sul, estavam desde sexta-feira (25) no hotel com um grupo de mais 50 brasileiros, entre familiares e jogadores do Dínamo e do Shakhtar Donetsk.
No entanto, na tarde de sábado (26), os jogadores deixaram o hotel e os três brasileiros ficaram para trás.
"Ficou eu, um jogador e mais um brasileiro. Só ficou a comissão técnica deles, que são todos italianos. Foi todo mundo embora. A gente estava o tempo todo junto, e eles simplesmente esqueceram da gente e foram embora", relatou Jonatam Santiago.
Além dos três brasileiros, há um outro amigo deles que está em um bairro de Kiev, a cerca de 30 quilômetros do hotel. Ele não chegou a ir para o local porque foi parado pelo Exército ucraniano e foi orientado a voltar para casa. Segundo o mineiro David, os amigos não vão deixar ninguém para trás.
"Tem outro amigo nosso brasileiro, o Rony. Nós combinamos que ninguém vai sair deixando alguém para trás, nós vamos todo mundo embora daqui, começamos em quatro, vamos nós quatro até o final, ninguém vai ficar para trás.
Relatos da guerra
O brasileiro natural de Coqueiral, no Sul de Minas, está relatando todos os momentos vividos por ele e os amigos em Kiev, durante a guerra na Ucrânia. Ele trabalha como engenheiro eletricista no país.
Na noite de quinta-feira (24), ele publicou um vídeo em suas redes sociais logo após a queda de uma bomba em Kiev. Segundo o engenheiro, a bomba caiu a cerca de 2 km de distância do apartamento onde ele mora.
Na sexta-feira (25), David e um outro amigo foram convidados a irem para o hotel onde estavam um grupo de 50 brasileiros, entre eles jogadores brasileiros do Dínamo de Kiev e do Shakhtar Donetsk. A ideia era que todos pudessem conseguir ir embora juntos para o Brasil.
Itamaraty
Em nota ao g1, o Itamaraty informou que segue acompanhando a situação na Ucrânia e presta toda a assistência aos brasileiros que estão no país. (Leia baixo na íntegra)
O Brasil segue acompanhando ativamente a situação na Ucrânia e presta toda a assistência cabível aos nacionais brasileiros naquele país.
Até o momento, registraram-se junto à Embaixada do Brasil em Kiev cerca de 250 brasileiros. O Itamaraty reitera a importância de que todos os brasileiros se registrem junto à Embaixada, com urgência, a fim de acelerar ao máximo as providências logísticas, de contato e de identificação em curso.
Mais de 40 nacionais lograram embarcar nesta manhã (de sábado) em trem de Kiev para a cidade de Chernivtsi. De lá, seguirão até a fronteira, onde serão recepcionados por funcionários da Embaixada do Brasil em Bucareste, que já estão em contato com o grupo.
Há confirmação de que outros brasileiros, acompanhados de cidadãos latino-americanos, cruzaram o mesmo ponto da fronteira hoje pela manhã e, nesse momento, estão a caminho da capital romena.
O Itamaraty, por meio das Embaixadas do Brasil em Kiev e em Bucareste, está coordenando a operação de retirada dos brasileiros em contato direto com o chefe da estação central de trens de Kiev, das autoridades locais em Chernivtsi e das autoridades migratórias romenas.
Informações atualizadas sobre a evolução do plano de contingência para a evacuação dos brasileiros na Ucrânia encontram-se disponíveis nas páginas eletrônicas da Embaixada em Kiev.