A média móvel de novos casos de Covid-19 em todo o país vem crescendo de forma ininterrupta desde 4 de maio, segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), que contabiliza dados repassados pelos estados. Ontem, a média de novos casos estava em 66.091. Desde o início da pandemia, ainda no primeiro trimestre de 2020, esse índice só foi mais alto entre 15 de março e 15 de abril deste ano. Ao ser questionado sobre o assunto na Câmara, Queiroga disse que a variante indiana pode influenciar o incremento de casos.
— Pode haver tendência de aumento, que vai se refletir em nova pressão sobre o sistema de saúde. Mas também pode ser fruto de uma variante. Nós não temos essa resposta ainda — disse o ministro. — Pode ser necessário que se adote uma medida restritiva, mas cabe a cada autoridade municipal. O ministério fica vigilante para que se possa orientar. E vamos trabalhar juntos para que se possa evitar essa terceira onda.
A tendência de crescimento também pode ser vista na média diária de internações no estado de São Paulo. Ontem foram 2.618 novas entradas em enfermaria e UTIs, de acordo com a plataforma InfoTracker, da USP e Unesp. O número, que vem crescendo desde a primeira semana de maio, voltou a um nível próximo ao registrado na primeira quinzena de abril e é maior do que qualquer taxa contabilizada em 2020. O pico de internações no estado ocorreu em 25 de março, com 3.354 casos diários, segundo o InfoTracker.
— Estamos piorando. Não tão rápido quanto da outra vez (entre março e abril), mas estamos em piora progressiva e ininterrupta há praticamente um mês — diz Márcio Bittencourt, médico do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da USP. — Em primeiro lugar, porque vacinamos menos que em outros países. Em segundo, porque estamos mais abertos do que na maior parte dos países. Se você olhar o tipo de atividade e o tipo de permissão que se tem para fazer as coisas, estamos mais abertos agora do que estavam alguns estados dos EUA até o mês passado.
A piora nos indicadores levou o governo de São Paulo a adiar por pelo menos 15 dias a flexibilização no comércio, que estava prevista para semana que vem. A decisão foi tomada ontem após reunião do Comitê de Contingência da Covid-19. Pelas próximas duas semanas, o comércio pode funcionar com até 40% de ocupação, entre 6h e 21h. Na última segunda-feira, a taxa de ocupação de leitos de UTI para pacientes com Covid-19 voltou a ultrapassar 80% no estado, segundo a Secretaria de Saúde.
— As projeções indicam que ainda teremos um recrudescimento nas próximas semanas — afirma Paulo Menezes, coordenador do Centro de Contingência da Covid-19, que só visualiza uma melhora nos índices a partir do meio de junho.
Algumas cidades do interior de São Paulo adotaram medidas ainda mais rígidas. Em Ribeirão Preto, onde a prefeitura já decretou lockdown em março, mercados e outros comércios só vão funcionar por meio de delivery até semana que vem, enquanto o transporte público deixará de circular. Outras 14 cidades da região estudam soluções parecidas para os próximos dias.
Outros três estados decidiram que o comércio precisa ficar mais tempo fechado. Em Pernambuco, onde a taxa de ocupação dos leitos de UTI está acima de 90% há três meses, medidas de restrição vão valer pelo menos até 6 de junho. Em algumas cidades, o comércio terá um horário reduzido de funcionamento apenas aos fins de semana. No Rio Grande do Norte, o governo prorrogou até dia 9 medidas sanitárias que preveem, entre outras coisas, toque de recolher das 22h às 5h. Além de restrição de circulação, o governo do Rio Grande do Sul anunciou que pretende fazer, a partir do dia 1º, um programa de reforço na testagem.
Em nova atualização na projeção para distribuição de vacinas, o Ministério da Saúde passou a informar um total de 43,8 milhões de doses para o mês de junho. Antes das 13h, o número publicado no site da pasta era de 39, 7 milhões ante os 52 milhões do cronograma anterior, o que representaria uma redução de 12,5 milhões.
O secretário-executivo do ministério, Rodrigo Cruz, informou em audiência na Câmara que a mudança ocorre devido ao atraso na produção pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) da vacina AstraZeneca.
— Quando tivemos confirmação de que não seria possível a produção, reduzimos nosso cronograma — disse o secretário-executivo.
Fonte: Yahoo Notícias