Golpes em compra e venda de veículos pela internet aumentam durante pandemia; saiba como evitar

 Segundo dados da Polícia Civil, números deste ano já superam o mesmo período de 2019; mais de 80% dos golpes ocorreram após início do isolamento social.




Dados da Polícia Civil apontam que o número de golpes envolvendo a venda de veículos pela internet aumentou desde o início da pandemia no Sul de Minas. Conforme levantamento exclusivo feito a pedido do G1, a polícia registrou 140 golpes do tipo nas seis maiores cidades da região em 2020, 7,6% a mais que o mesmo período de 2019. Mais de 80% desses golpes foram aplicados durante a pandemia, coincidentemente quando várias restrições foram impostas pelo isolamento social.

Pouso Alegre é a campeã de registros de golpes de venda de carros pela internet na região. Segundo a Polícia Civil, foram 59 ocorrências registradas até outubro, contra 52 do mesmo período do ano passado. Já Poços de Caldas registrou 25 casos de golpes neste ano, contra 13 do ano passado.

Itajubá registrou 13 golpes até outubro contra 10 no mesmo período do ano passado e Passos teve oito ocorrências contra quatro do ano passado. Varginha e Lavras registraram redução no número de golpes. Em Varginha foram 17 registros neste ano contra 30 do mesmo período do ano passado enquanto Lavras teve 18 registros contra 21 de 2019.


O golpe da "OLX"

A reportagem do G1 constatou como funciona a abordagem dos golpistas ao colocar um veículo à venda em um dos sites mais tradicionais na internet, a OLX. Poucas horas após anunciar um carro, o repórter foi abordado por dois golpistas se passando por supostos compradores. Em comum entre eles, a mesma tática explicada pelo delegado Jorge Bruno Barbosa da Silva, titular da delegacia de polícia de Elói Mendes, que ocorre em golpes aplicados em todo o país.

"Neste golpe, a vítima anuncia de boa fé e após o anúncio, o estelionatário entra em contato solicitando mais informações sobre aquele veículo. Pede a placa, pede fotos do veículo, pede que ela faça vídeos mostrando o interior, o motor, esse tipo de coisa, o tempo todo se mostrando interessado em fazer a aquisição daquele veículo. A vítima, acreditando que se trata de uma pessoa interessada em fazer a compra, fornece todas aquelas informações e chega inclusive a mandar uma foto do documento daquele veículo, onde constam todos os dados de identificação", explica o delegado.

Ainda conforme o delegado, o golpe começa quando o estelionatário pede para que a vítima retire o anúncio da venda do carro do ar, para que ele possa criar um anúncio falso, com valores bem abaixo do de mercado.

"Em posse dessas informações, dessas fotografias, desse documento, desses vídeos, o estelionatário faz um anúncio falso, geralmente no mesmo site, um anúncio de venda daquele mesmo veículo. E para manter aquele anúncio e não despertar qualquer dúvida por parte de futuras vítimas, o estelionatário pede ao dono do veículo que retire o seu anúncio. Ele fala: 'Olha, tem como você tirar o seu anúncio, porque realmente eu vou comprar o seu veículo, já está tudo certo, já estou levantando o dinheiro para fazer a compra, então você pode tirar lá que está certo, eu vou comprar, eu vou ficar com ele'.

E aí a vítima de boa fé, achando que realmente acabou de vender o veículo, retira o anúncio e nesse momento, o único anúncio que fica no site é o anúncio falso, do estelionatário", explica o delegado Jorge.

É neste momento, conforme o delegado, que começa a segunda parte do golpe. Quando outra vítima, interessada em comprar de fato o veículo, vê o anúncio falso e entra em contato com o golpista.

"Uma outra vítima olha aquele anúncio, acredita ser um anúncio verdadeiro, entra em contato com aquele estelionatário e manifesta o interesse da compra e aí o estelionatário começa a negociar com essa segunda vítima. Essa é a pessoa que realmente vai perder o dinheiro. Porque o estelionatário manda os dados da sua conta para essa vítima, essa vítima faz a transferência para a conta do estelionatário, acreditando que se trata, que ele realmente é o dono do veículo, mas na verdade ele não está em posse daquele veículo, aquele veículo pertence à primeira vítima e aí nós temos uma pessoa que perdeu o dinheiro, que mandou para a conta do estelionatário, que não tinha veículo algum", conta o delegado.

Conforme o delegado, para que o golpe ousado possa dar certo, o estelionatário consegue armar um encontro entre as duas vítimas, a que está vendendo e a que realmente quer comprar o carro.

"Isso acontece quando o estelionatário acerta com o vendedor do carro: 'Olha, vai passar uma pessoa aí para olhar o veículo, eu vou comprar o carro de você, essa pessoa vai passar aí, mas você fala que o carro é meu, que você só está vendendo esse carro para mim. Fala que você é meu irmão e fica tranquilo, que assim que ele me der o 'ok' eu transfiro o dinheiro pra você e você já pode entregar o veículo pra ele", explica o delegado.

Geralmente a pessoa que está interessada no veículo é a primeira que transfere para a conta do estelionatário e após essa transferência, o estelionatário manda um comprovante falso montado, para o dono do carro e ele acredita que aquele dinheiro foi enviado para a sua conta e que está fazendo um negócio lícito.

"Mas no final das contas, o único comprovante verdadeiro de transferência é aquele da pessoa que está interessada em comprar transferindo para a conta do estelionatário. O outro comprovante é falso.

O dono do carro acredita que o dinheiro vai cair na sua conta e entrega o veículo para essa terceira pessoa que está interessada, só que depois, ela descobre que o dinheiro não caiu na sua conta e que na verdade tudo não passou de um golpe", completa o delegado.

Segundo o delegado, algumas pessoas chegam a entregar o veículo e ficam sem o carro e sem o dinheiro.




O golpe do financiamento

Segundo o delegado, um outro golpe bastante comum envolvendo compra e venda de veículos é um golpe mais simples e que é mais fácil de ser detectado. Esse golpe começa quando a vítima se interessa por um veículo anunciado em sites de venda, mas na verdade está diante de anúncios falsos, promovidos pelos golpistas.

"A vítima se interessa naquele veículo e começa um contato geralmente pelos chats dessas redes sociais, pelos canais de conversa e mensagens, manifestando interesse na aquisição daquele veículo e a pessoa que anuncia aquele veículo, que é um estelionatário, geralmente parte de um grupo de estelionatários, diz que tem o carro. Geralmente é um veículo muito bom, com um preço abaixo do mercado, o que faz com que a vítima seja mais facilmente atraída. Ele fala: 'Eu tenho esse veículo aqui e eu consigo fazer o financiamento desse veículo para você'", explica o delegado.

Conforme o delegado, geralmente a vítima é de pouca instrução e que tem uma situação econômica um pouco mais carente e na maioria das vezes tem o seu nome com restrições cadastrais e não consegue financiar um veículo por não ter uma renda tão elevada.

"Ela é atraída por essa suposta facilidade que o estelionatário oferece para financiar aquele veículo e aquele estelionatário coloca essa pessoa em contato com um segundo estelionatário, que seria supostamente uma pessoa que promoveria o financiamento daquele veículo. Nesse momento, ele pede que a vítima mande a ele os dados, como nome completo, RG, CPF, endereço, renda, ele manda para essa vítima um suposto contrato que ela tem que preencher e mandar de volta", explica o delegado.

O golpe começa a se materializar, quando os estelionatários começam a solicitar para a vítima o pagamento de taxas.

"Após esse preenchimento desse cadastro, os estelionatários começam a solicitar supostas taxas, alegando que são taxas de consulta a crédito, taxas que a vítima deveria supostamente pagar para que a suposta financeira, que na verdade não existe, faça uma consulta de seu nome nos órgãos de proteção ao crédito. Esses valores variam de acordo com o que os golpistas podem perceber da capacidade econômica daquela vítima, e variam de R$ 500 a R$ 3 mil, R$ 4 mil", explica o delegado.


Após o pagamento da primeira taxa, os golpistas exigem ainda mais pagamentos.

"Algum tempo depois, o estelionatário novamente solicita outra quantia: 'Olha, agora você tem que pagar uma taxa de abertura de contrato para que o banco possa dar seguimento no seu financiamento. A vítima faz outra transferência e durante todo esse tempo, o estelionatário promete que o veículo será entregue no endereço da vítima. Inclusive, eles fazem algumas solicitações de dinheiro, alegando ser a taxa de frete do veículo", explica o delegado.

Durante todo o tempo, a vítima acredita que vai receber o veículo em sua casa, até que chega um momento em que, sem receber retorno, ela descobre que foi vítima de um golpe.

"A vítima, depois de passado muito tempo sem receber o veículo, sem receber qualquer documentação de qualquer banco, de qualquer financeira, começa a desconfiar que aquilo não passa de um golpe e então confronta o estelionatário, que geralmente some, bloqueia a vítima no Whatsapp e das redes sociais. Para de conversar e a vítima realmente confirma que foi lesada em um golpe de estelionatário", completa o delegado.


Cuidados para não ser vítima de um golpe

Segundo o delegado Jorge Bruno Barbosa da Silva, há alguns cuidados que podem ser tomados para evitar ser vítimas de estelionatários ao anunciar ou tentar comprar veículos pela internet:


Quem está vendendo

Não troque informações pessoais;
Não forneça dados de identificação do veículo para a pessoa interessada em comprá-lo;
Só passe informações além do anúncio de forma presencial;
Se alguém solicitar foto do documento ou informações do veículo, peça para que essa pessoa vá até você ou combine um local onde vocês possam se encontrar, não troque informações pela internet;
Evite chamadas de vídeo com o suposto comprador;
Desconfie de ligações de intermediários (Segundo a polícia, hoje os golpistas utilizam chips com o mesmo DDD da vítima para que ela pense que ele está próximo, quando na verdade, estão em outros estados).


Quem está comprando

Para quem está interessado em comprar um veículo, a melhor forma de se precaver é indo até a pessoa e até onde o veículo está presencialmente;
Certifique-se se o nome da pessoa que consta no documento do veículo a ser vendido é o mesmo da pessoa que anunciou o carro;
Procure o Detran, solicite informações do veículo;
Não faça transferências antes de ter qualquer contato presencial com a pessoa que está negociando o veículo.


Quem quer fazer um financiamento

Desconfie de veículos com valores muito abaixo dos de mercado, com anúncios tentadores, propostas muito tentadoras;
Desconfie de empresas, financeiras, com nomes desconhecidos, procure informações em buscas na internet;
Procure informações em sites que registram reclamações de consumidores sobre empresas;
Desconfie de contas bancárias em nome de pessoas físicas;
Não faça nenhuma transferência bancária antes de ter qualquer segurança que aquele negócio está realmente sendo fechado;
Desconfie de taxas antecipadas, já que geralmente as financeiras inserem as taxas dentro do próprio financiamento;
Desconfie de qualquer suposta taxa de frete;
Desconfie de qualquer contrato de compra e venda de veículos que seja feito 100% pela internet.



Fonte: G1 Sul de Minas