O Brasil registra mais de 1,6 milhão de casos e mais de 65 mil mortes pela pandemia do novo coronavírus. Mesmo diante de números alarmantes, casos de desrespeito às medidas de isolamento social preconizadas pelos órgãos de saúde têm sido frequentes, como ocorreu no último fim de semana. Pessoas lotaram bares, restaurantes, praias e participaram de bailes funk. Em vários estados, como Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Mato Grosso, houve flagrantes de pessoas aglomeradas e sem máscaras, “quebrando” a quarentena e, em alguns casos, exigindo a intervenção de agentes públicos. As atitudes de “desobediência” também representam desrespeito às vítimas, suas famílias e aos profissionais da saúde que atuam diariamente no combate ao coronavírus.
O último caso gritante de desrespeito aconteceu no sábado, durante ronda da Vigilância Sanitária na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Um casal tentou intimidar Flávio Graça, servidor da prefeitura. “A gente paga você, filho. O seu salário sai do meu bolso”, afirmou a mulher enquanto o marido filmava. “Cadê sua trena? Quero saber como você mediu sem trena”, debochou o homem. O fiscal então respondeu: “Tá, cidadão”, e foi surpreendido pela fala da mulher: “Cidadão, não. Engenheiro civil, formado. Melhor do que você”. Flávio atua como superintendente de inovação, pesquisa e educação em vigilância sanitária, da Fiscalização e Controle de Zoonoses da Prefeitura do Rio de Janeiro.
A cena também viralizou nas redes sociais e causou indignação. No Instagram do Estado de Minas, onde a notícia teve mais de 16 mil visualizações em duas horas, internautas comentaram a atitude do casal. “Desacato, mas antes disso, desrespeito. Um absurdo a atitude dessas pessoas. Sentem-se melhores que os outros. Deveriam ser punidos!, comentou a leitora Lylian Salomé. Com a repercussão negativa do caso, a Taesa, empresa privada do setor de energia onde a mulher trabalhava, anunciou a demissão da funcionária alegando que ela “desrespeitou a política vigente na empresa”.
LEBLON
Ainda no Rio, outro desrespeito na última quinta-feira. Clientes de bares e restaurantes causaram aglomeração no Leblon, na Zona Sul da cidade. Com as portas abertas, donos dos estabelecimentos ignoraram a lei municipal que determina redução de 50% da quantidade de mesas e de atendimento apenas para pessoas sentadas. O limite de horário de funcionamento – até as 23h – também não foi respeitado. Além disso, também houve grande movimento em praias, rodas de samba e bailes funk no fim de semana. Agentes da prefeitura tentaram interferir, mas alguns foram hostilizados. Segundo o Centro de Operações Rio e a empresa de tecnologia Cyberlabs, no domingo, o isolamento na cidade foi de 53%.
Em Belo Horizonte, mesmo com todas as recomendações das autoridades de saúde e da prefeitura, parte da população continua se expondo em tempos de quarentena. E não é de agora. Em abril, o Estado de Minas já havia apontado uma festa de aniversário na Praça Nova York, no Bairro Sion, Região Centro-Sul da capital. No último domingo, um homem de 37 anos foi conduzido à Central de Flagrantes do Barreiro. Ele estava dando uma festa em seu apartamento no Bairro Belvedere, também no Centro-Sul. Na Pampulha, foi preciso cercar a orla da lagoa para que o isolamento fosse respeitado.
Na última semana, o EM publicou o testemunho do médico Luís Cláudio Mendes do Valle, que dirige o Hospital César Leite, de Manhuaçu, na Zona da Mata. Ele afirma que Minas está diante do “olho do furacão” e que a crise vai crescer se as pessoas não seguirem o isolamento social. No domingo, Belo Horizonte registrou a maior taxa de ocupação de leitos de UTI desde o início da pandemia. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, 91% dos leitos para pacientes da COVID-19 estão ocupados. Dados da secretaria dão conta que há 8.273 casos confirmados da doença e 177 mortes na capital. São 2.124 pacientes em acompanhamento.
“Morra quem morrer”, diz prefeito
Outro exemplo de desrespeito ao isolamento veio do prefeito de Itabuna (BA), Fernando Gomes (PTC), que disse que vai reabrir o comércio da cidade no próximo dia 9, “morra quem morrer”. A declaração foi dada por Gomes durante entrevista para anunciar que iria postergar a retomada das atividades por mais uma semana, devido ao alto número de infectados pelo coronavírus na cidade.
“Primeiro lutar pela vida, a vida é uma só. Morreu, acabou. Não tem fortuna, não tem pobreza, não tem falência, não tem nada. Mas não posso abrir uma coisa sem cobertura. Na dúvida, com gente nossa morrendo por causa de leito em Itabuna, vou transferir a reabertura, mandei já fazer um decreto. Dia 9 abre, morra quem morrer”, disse. Após a repercussão negativa da declaração, o prefeito pediu desculpas pela frase e afirmou tratar a pandemia com “máximo rigor”.
BAILES FUNK
Em São Paulo, dois bailes funk e uma festa clandestina foram interrompidos no fim de semana. Em Ribeirão Preto, entre a noite de sábado e a manhã deste domingo, uma quadra de esportes foi fechada e ao menos cinco campos de futebol tiveram as atividades paralisadas por equipes da Guarda Civil Metropolitana, Fiscalização Geral e Vigilância Sanitária de Ribeirão Preto. De acordo com a prefeitura, todas as pessoas foram dispersadas e os responsáveis pelos eventos foram notificados. Os flagrantes ocorreram em diversos pontos da cidade e os locais foram lacrados.
Em Campo Grande (MS), a Guarda Civil Metropolitana chegou a receber 311 denúncias de desrespeito às normas de isolamento social nas últimas semanas. Além da resistência dos comerciantes de se adequarem às novas regras, o que chama atenção na capital do Mato Grosso é o comportamento da população. Nas ações realizadas pelos guardas, é notória a falta de conscientização por parte dos clientes que ignoram em sua maioria as medidas adotadas. Isso levou o órgão a fazer um apelo para que as pessoas fiquem em casa e só saiam somente se necessário, publicado no mês passado.
Fonte: Estado de Minas