Funcionário de hospital corta cabelos de pacientes de graça em MG: 'ajuda até na recuperação'

William Paulo de Morais é assistente administrativo na Santa Casa de Passos. Nas horas vagas, ajuda os pacientes com um toque especial.




Os 15 anos de trabalho na Santa Casa de Passos (MG) poderiam ter feito de William mais um funcionário comum na área administrativa. Mas na rotina dos corredores do hospital, ele quis ser diferente. Há dois anos e meio, descobriu o prazer da barbearia. Encontrou na nova paixão uma forma de fazer o bem – começou a cortar os cabelos de pacientes internados na Santa Casa, sempre de forma voluntária.

O cuidado com quem está internado, dentro dos próprios quartos do hospital, sempre foi feito de forma anônima pelo William Paulo de Morais, de 36 anos. Até um amigo que trabalha junto com ele decidir postar o gesto nas redes sociais. William ganhou a admiração de milhares de pessoas.

“Quando a gente liga no jornal, ou abre as redes sociais, só vê coisas ruins. Só tem morte, ganância, políticos roubando... então, quando eu vi essa coisa tão bonita, eu achei bom falar, pra ver se o povo ficaria mais feliz. O William ficou até famoso aqui na cidade. Ele ficou tão feliz”, contou o Marcelo Alves, dono da publicação.

Mas não é a contagem de curtidas ou a admiração que faz William se sentir bem. “Os pacientes ficam muito alegres. É muito prazeroso também, viu? Você mexer com o emocional de uma pessoa, fazendo o bem. Isso levanta a autoestima, até ajuda na recuperação”, ele conta.

A ideia veio do setor de Assistência Social da própria Santa Casa de Passos. Primeiro, foi o convite para um dia de beleza dos pacientes. O dia teve um grande impacto positivo.

Desde então, assistentes sociais ou enfermeiros sempre chamam o William para pacientes específicos, tudo de forma autorizada. "Sempre que precisam, eles me chamam. Aqui no hospital todo mundo se envolve um com o outro, aí facilita".

Os cortes em homens, mulheres, crianças e idosos viraram tarefa especial e William tem agora uma coleção de histórias. “Teve um paciente que estava cortando o cabelo comigo, mas infelizmente ele faleceu. Antes, eu vim e ainda cortei o cabelo dele. A família ficou muito satisfeita".

"Você precisa de ver a alegria dos pacientes.Tem alguns que estão até em fase terminal. Eu venho e tenho um cuidado com eles. É um cuidando do outro, né? A gente não está aqui pra ganhar nada em troca. É uma coisa que eu gosto demais”.

Nos comentários da publicação na rede social não faltam bons comentários sobre o ofício de William. Se já tinha orgulho do amigo, ver a energia positiva deixou Marcelo ainda mais emocionado.

“O ser humano hoje pensa só em dinheiro, coisas ruins, a gente vê muita ganância e quando aparece gente boa igual a ele é incrível, a gente fica até meio sem palavras. Surpreende a gente, é tão raro isso hoje”, conta Marcelo.

William tem também a própria barbearia, onde atende todos os dias depois do expediente de 7h às 17h no hospital. A rotina é pesada, mas nem por isso ele pensa em se aposentar logo.

“Aqui eu não paro não. Só se Deus falar: ‘olha, meu filho, não tem jeito mais’. Independente de ser na Santa Casa, na própria barbearia mesmo. Às vezes, passa alguém pedindo pra cortar o cabelo e diz que está sem dinheiro. Aí eu corto. A gente não pode pensar pelo lado material e financeiro. Fazer o bem vale mais e é muito prazeroso, você ganha muito mais com isso”.

*sob supervisão de Fernanda Rodrigues

Fonte: G1 Sul de Minas