Me desculpem se eu gritar gol

Pedido de desculpas de um "inconsciente" que vai torcer pela Seleção Brasileira




A Copa ainda nem havia começado, mas uma coisa já estava clara: não ia ser fácil torcer pelo Brasil na Copa do Mundo de Futebol desse ano.

Não, o problema não é o time.

Na verdade, comparando com o último, bem como com o nível dos demais, acredito que temos uma boa chance.

Mas, enfim (me desculpem falar sobre futebol), a questão é que parece que o nosso país foi “dividido”, entre dois grupos distintos (e não, aparentemente, não há outra classificação possível):

1 - Os “conscientes”, que não torcem (e que algumas - talvez muitas - vezes abominam quem torce) pela seleção brasileira, já que isso seria uma afronta à racionalidade, à moral, à ética e aos “bons costumes” (entre outros pontos), diante do momento que o nosso país atravessa;

2 - Os “inconscientes”, que torcem (e que muitas vezes querem pintar a rua, comprar camisa e reunir a família pra assistir os jogos) pela seleção brasileira, já que são “alienados” à realidade da nossa sociedade, da nossa política, do mundo, do aquecimento global e dos Tratados da ONU (entre outros pontos), não se importando com o momento que o nosso país atravessa.

É isso.

Antes mesmo da Copa começar a divisão já estava posta, e, caso você ainda não tenha decidido em qual “grupo” você está, sugiro que o faça rapidamente.

Até mesmo porque, é isso, né?!

Não daria pra colocar uma camisa do Ronaldinho Gaúcho - que tenho desde a Copa de 2002 - e ao mesmo tempo me preocupar com a vergonhosa e alarmante falta de leito nos hospitais públicos, que diariamente acarreta a morte de milhares de pessoas, que pagam diuturnamente uma das cargas tributárias mais elevadas do mundo.

Não daria pra usar um daqueles chapéus verde-amarelo grandes e engraçados - que tive na Copa de 2014 (sim, eu usava ele no 7x1) - e ao mesmo tempo me preocupar com a nossa segurança pública caótica, que há anos vem sendo sucateada e desvalorizada pelos nossos inescrupulosos governantes.

Não daria pra ficar ansioso pelo primeiro jogo do domingo - que confesso que nem sei que será as 15:00 horas, na Arena de Rostov, na cidade Rostov-on-Don - e ao mesmo tempo me preocupar com quem elegeremos como governador, deputado, senador e presidente nessa próxima eleição, especialmente diante de alguns “monstros” que vem ganhando força com discursos, no mínimo, assustadores.

Enfim, não daria mesmo pra gritar “gol” quando o Neymar entrar na área, puxar pra direita, puxar pra esquerda, ameaçar ir pra cima, parar (olhando somente para o adversário, com calculismo extremo), puxar definitivamente para a perna boa (se é que tem ruim) e bater cruzado pro fundo da rede (na bochecha do gol) - jogada que possivelmente (provavelmente) vai acontecer - e ao mesmo tempo ser, definitivamente, um verdadeiro “patriota”, preocupado com o bem da nossa nação, com o futuro dos nossos filhos (os que ainda terei), com o respeito que deve ser dado aos nossos idosos e com a dignidade que merece o nosso povo.

Ou será que daria?

Só sei que já me antecipo: conscientes, me desculpem se eu gritar gol.

- Kayki Martins

(Espero que entendam a mensagem, mas, para não deixar dúvidas: vamos rumo ao hexa, Brasil!!!...e vamos continuar lutando pelo futuro do nosso país!)


Kayki Ribeiro
Especialista em Direito Público (Administrativo)
Advogado especialista em Direito Público pela PUC Minas, focado em direitos dos servidores públicos municipais.