Minas Gerais: Análise foi feita pelo MEC, que também aponta que apenas quatro instituições do estado, de um total de 280, tiraram nota máxima no levantamento
Pouca excelência e um longo caminho a percorrer rumo à qualidade total nas universidades. Apenas quatro instituições de ensino superior mineiras alcançaram nota máxima no indicador que representa o termômetro da graduação no país: o Índice Geral de Cursos (IGC).
Entre elas, três são públicas – as universidades federais de Minas Gerais (UFMG), de Belo Horizonte; de Viçosa (UFV), na Zona da Mata; e a de Lavras (Ufla), no Sul de Minas. Apenas a Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje) entra no seleto grupo representando as particulares.
Juntas, essas quatro se mantêm no ranking das melhores. Em outra avaliação, a excelência também foi para poucos. Somente 6,2% do total de 799 cursos verificados em Minas Gerais tiraram 5, a maior pontuação do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). Os dados, referentes ao ano de 2015, foram divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia do Ministério da Educação (MEC).
As notas – tanto para instituições quanto para cursos – vão de 1 a 5, com o desempenho até 2 sendo considerado insatisfatório. Em todo o país, um a cada quatro cursos tirou as duas piores notas. Já em Minas Gerais, 159 (20% ou um a cada cinco) ficaram no patamar de insuficiência, quase todos com nota 2 (veja arte). Dos 799 cursos avaliados nas instituições mineiras, apenas 50 (6,2%) alcançaram a pontuação máxima.
Cursos com desempenho abaixo do tolerável ficam na berlinda e são passíveis de punição. Em todo o país, mais de 900 graduações podem sofrer medidas cautelares do MEC para melhoria da qualidade. As instituições têm prazo para se adequar e, caso as inspeções não constatem avanços, podem até mesmo ter vagas extintas, com a proibição de novas matrículas.
Já com relação às instituições, em todo o país, cerca de 15% das avaliadas tiveram índices de avaliação insuficientes. O IGC leva em consideração o desempenho dos estudantes, a infraestrutura, a formação dos professores e ainda indicadores da pós-graduação. Em Minas, o percentual de insuficiência ficou acima da média nacional, chegando a 16,7% de instituições, todas elas faculdades. Já as instituições com notas desejáveis, entre 3 e 5, sendo 3 a média e 5 a excelência, somam 83,3%.
DESTAQUE Com 260 mil volumes, a biblioteca da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje), no Bairro Planalto, na Região Norte de Belo Horizonte, é uma das razões do bom resultado da instituição, que funciona desde 1982, tem 30 professores e 500 alunos de graduação e pós-graduação. “Temos conquistado esse patamar 5 há muitos anos. Quando começou a avaliação, ficamos surpreendidos, e agora vemos que é o resultado de uma proposta pedagógica”, diz o reitor. “Nossa biblioteca, com foco em obras de teologia e filosofia, é uma das melhores em qualidade do estado. Recebemos pesquisadores de todo o Brasil”, afirma.
O reitor diz que para o futuro há projeto de aumentar o leque de ofertas de cursos de especialização nas áreas em que a Faje tem mais expertise. Destaca ainda que a faculdade trabalha em rede, no país e na América Latina, com outras instituições de ensino superior jesuítas, entre elas a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), no Rio Grande do Sul, a PUC Rio (RJ), a Universidade Católica de Pernambuco (PE), o Centro Universitário Fei (SP) e a Escola Superior Dom Helder Câmara, em Belo Horizonte.
Também em Belo Horizonte, o pró-reitor de Graduação da UFMG, professor Ricardo Takahashi, avalia o desempenho da federal: “O resultado reflete, além da existência de uma excelência em nosso ensino de graduação e pós-graduação, um fato que nos distingue: a homogeneidade nessa excelência. O conjunto de nossos cursos é bem avaliado, sendo que essencialmente não temos discrepâncias internas (que ocorreriam se tivéssemos algumas áreas bem avaliadas e outras mal avaliadas)”. Segundo o pró-reitor, “isso significa que uma pessoa que procura a UFMG para ingressar em uma graduação ou em uma pós-graduação pode esperar um curso de alta qualidade, em qualquer área do conhecimento. O índice IGC igual a 5 era esperado pela UFMG, uma vez que temos alcançado a nota máxima nessa avaliação do MEC em todas as últimas edições”.
Zelo, dedicação e infraestrutura. A reitora Nilda de Fátima Ferreira Soares, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), na Zona da Mata, diz que o ótimo resultado “ deve-se à excelência que a instituição tem demonstrado ao longo de sua história e à dedicação de toda a comunidade acadêmica”. “O zelo pela infraestrutura da universidade possibilita uma formação diferenciada, seja pela vivência em laboratórios, unidades experimentais ou atividades extracurriculares”, completa. Ela diz ainda que um destaque da instituição é a internacionalização, tendo sido uma das universidades que mais enviaram alunos para intercâmbio pelo programa Ciência sem Fronteiras. “Além disso, a UFV é pioneira ao criar o programa Primeiro Ano, uma iniciativa que visa integrar o calouro ao ambiente universitário e reduzir a evasão escolar observada nos dois primeiros semestres, comum em todas as universidades.”
Já o professor José Roberto Soares Scolforo, reitor da Universidade Federal de Lavras (Ufla), no Sul de Minas, afirma que os resultados alcançados pela instituição nas avaliações do IGC refletem o esforço conjunto de toda a comunidade acadêmica – estudantes, professores e técnicos administrativos, além de demais colaboradores e parceiros. “É sempre um orgulho saber que estamos em um grupo de excelência, mesmo sendo ainda uma universidade de menor porte, localizada em uma cidade de interior mineiro. As avaliações externas nos incentivam a perseverar na busca por melhorias contínuas, sempre com o objetivo de prestar um serviço de alta qualidade à sociedade. Essa é a motivação”, resume.
O trabalho desenvolvido na Ufla, segundo o reitor, tem buscado privilegiar a interação permanente de ações de assistência estudantil, extensão, atividades extracurriculares, infraestrutura, incentivo à pesquisa e ao empreendedorismo. “A avaliação é de que a atenção a todos esses projetos e iniciativas projetam reflexos positivos na qualidade do ensino e dos cursos, assim como no desempenho dos estudantes. Como instituição centenária, as conquistas do presente são também consideradas como frutos do trabalho de uma sequência de gerações que vêm se empenhando para consolidar a qualidade da instituição.”
REESTRUTURAÇÃO Em processo de reestruturação, a Escola Superior de Meio Ambiente de Iguatama, na Região Centro-Oeste, ficou com a nota 1, a mais baixa na avaliação do MEC. Lembrando-se dos tempos em que a instituição era nota A no provão de biologia, em 2000, o diretor Bruno Bibiano, também vice-presidente da Fundação Educacional Vale do São Francisco, informa que a atual gestão assumiu a instituição em 2015, quando era nota 2. “Estamos implementando uma série de medidas saneadoras nas áreas pedagógica, financeira e de estrutura física. Vamos voltar a ser nota 5”, afirma Bruno, informando que a escola, com 100 alunos matriculados e oferta de cursos de ciências biológicas, biomedicina e administração, mantém uma clínica oftalmológica.
Foram avaliados os seguintes cursos: administração, administração pública, ciências contábeis, ciências econômicas, comunicação social/jornalismo, comunicação social/publicidade e propaganda, design, direito, psicologia, relações internacionais, secretariado executivo, teologia e turismo. E mais: os tecnológicos comércio exterior, design de interiores, design de moda, design gráfico, gastronomia, gestão comercial, gestão da qualidade, gestão de recursos humanos, gestão financeira, gestão pública, logística, marketing e processos gerenciais.
Fonte: EM