Do papel à alça, tudo é reaproveitado na produção artesanal.
Com trabalho, a faxineira Vera e o gari Umberto conquistam lojistas.
Com trabalho, a faxineira Vera e o gari Umberto conquistam lojistas.
Em uma casa de quatro cômodos de Monte Sião (MG), sonhos são construídos todos os dias pelos dedos ágeis de "seo" Umberto e pelo espírito empreendedor de dona Vera. Dali, nas poucas horas que restam entre o trabalho fora de casa e o cansaço que teima em não deixar os olhos abertos, saem sacolas dos mais diversos tamanhos, cores e utilidades, feitas a partir de papel para estampas e sobras de costura da produção de malhas de tricô, em um processo de reciclagem que devolve para o mercado, que tanto dá fama à cidade, aquilo que de outra forma se tornaria um problema de descarte.
Para o corpo de cada sacola, a beleza das folhas que antes serviram para estampar camisetas, blusas, vestidos nas centenas de confecções espalhadas por Monte Sião. Para a alça, pedaços de tricô que sobraram da costura. Mede, corta, cola, testa. Em dois minutos, tudo vira uma simpática embalagem que vai parar em lojas de roupas como a de José Luiz Moraes Pires Anarri, um dos primeiros locais a apostar na iniciativa do casal.
"São muito bem feitas, bonitas e têm boa saída. Gostamos muito do trabalho deles e sempre fazemos novos pedidos", conta Anarri, que repõe o estoque semanalmente.
Cinco anos atrás, bem poucos se animavam tanto quanto o lojista com a ideia da faxineira Vera Lúcia de Freitas Pereira Pires, de 43, e do marido, o gari Umberto Pires, de 52. Primeiro, porque eles não faziam a menor ideia de como se montava uma sacola. Em segundo lugar, porque a matéria-prima que eles pensavam em utilizar era considerada lixo na cidade.
Durante a confecção de roupas nas malharias, alguns tecidos são tingidos por meio de sublimação, processo em que um desenho é transferido para as peças a partir de folhas de papel aquecidas em uma chapa. Cada folha é usada uma única vez e descartada. Para se ter uma ideia do volume de lixo gerado, basta lembrar que a cidade, conhecida nacionalmente como a capital do tricô, possui mais de 1,5 mil malharias. Além disso, com o corte, muitos retalhos dificilmente podem ser reaproveitados. Nenhum desses materiais tinha um destino correto, até que o empreendimento do casal apareceu.
Por volta de 2012, nasce uma ideia
Dona Vera conta que, já há algum tempo sentia a necessidade de incrementar a forma como apresentava os produtos de beleza que revendia para aumentar a renda. Dez anos antes, ela, o marido e os quatro filhos tinham saído de São Paulo para tentar a vida no interior de Minas e logo aprenderam a se virar como podiam para garantir o próprio sustento.
"Ou você entende de tricô ou não tem emprego. Tudo aqui gira em torno do tricô. Quem trabalha em outros ramos padece um pouco", observa "seo" Umberto.
Sem emprego, até latinhas os dois chegaram a catar. Anos depois, veio o concurso público. Dona Vera virou funcionária da prefeitura local. "Seo" Umberto passou a pegar ônibus diariamente às 6h para iniciar o trabalho na Prefeitura de Águas de Lindóia (SP), a 7 Km. A estabilidade abriu a possibilidade para os planos- a sonhada casa própria, a venda de cosméticos, a volta aos estudos de Vera, após 23 anos sem pisar em uma escola, e eles queriam mais.
Para o corpo de cada sacola, a beleza das folhas que antes serviram para estampar camisetas, blusas, vestidos nas centenas de confecções espalhadas por Monte Sião. Para a alça, pedaços de tricô que sobraram da costura. Mede, corta, cola, testa. Em dois minutos, tudo vira uma simpática embalagem que vai parar em lojas de roupas como a de José Luiz Moraes Pires Anarri, um dos primeiros locais a apostar na iniciativa do casal.
"São muito bem feitas, bonitas e têm boa saída. Gostamos muito do trabalho deles e sempre fazemos novos pedidos", conta Anarri, que repõe o estoque semanalmente.
Cinco anos atrás, bem poucos se animavam tanto quanto o lojista com a ideia da faxineira Vera Lúcia de Freitas Pereira Pires, de 43, e do marido, o gari Umberto Pires, de 52. Primeiro, porque eles não faziam a menor ideia de como se montava uma sacola. Em segundo lugar, porque a matéria-prima que eles pensavam em utilizar era considerada lixo na cidade.
Durante a confecção de roupas nas malharias, alguns tecidos são tingidos por meio de sublimação, processo em que um desenho é transferido para as peças a partir de folhas de papel aquecidas em uma chapa. Cada folha é usada uma única vez e descartada. Para se ter uma ideia do volume de lixo gerado, basta lembrar que a cidade, conhecida nacionalmente como a capital do tricô, possui mais de 1,5 mil malharias. Além disso, com o corte, muitos retalhos dificilmente podem ser reaproveitados. Nenhum desses materiais tinha um destino correto, até que o empreendimento do casal apareceu.
Por volta de 2012, nasce uma ideia
Dona Vera conta que, já há algum tempo sentia a necessidade de incrementar a forma como apresentava os produtos de beleza que revendia para aumentar a renda. Dez anos antes, ela, o marido e os quatro filhos tinham saído de São Paulo para tentar a vida no interior de Minas e logo aprenderam a se virar como podiam para garantir o próprio sustento.
"Ou você entende de tricô ou não tem emprego. Tudo aqui gira em torno do tricô. Quem trabalha em outros ramos padece um pouco", observa "seo" Umberto.
Sem emprego, até latinhas os dois chegaram a catar. Anos depois, veio o concurso público. Dona Vera virou funcionária da prefeitura local. "Seo" Umberto passou a pegar ônibus diariamente às 6h para iniciar o trabalho na Prefeitura de Águas de Lindóia (SP), a 7 Km. A estabilidade abriu a possibilidade para os planos- a sonhada casa própria, a venda de cosméticos, a volta aos estudos de Vera, após 23 anos sem pisar em uma escola, e eles queriam mais.
"Em São Paulo, a gente vê muito aqueles rolos de papel de presente e eu reparei que as malharias jogavam fora uns rolos de papel que pareciam com isso. Falei para o meu marido sobre a minha ideia, que era usar esses papeis para fazer as sacolinhas dos meus produtos. Foi aí que começou tudo. Para mim mesma, ele nem consegue fazer sacola porque tudo o que a gente faz a gente vende", comenta, fazendo uma brincadeira com o marido.
Sempre mexendo com alguma corda ou papel, Umberto tem os olhos brilhantes. Ele logo mostra que seu primeiro projeto de sacola tinha como molde caixas- de perfume, de sabão em pó, qualquer uma-, o que, no entanto, causava cortes em seu dedo, quando não a perda do material.
"Eu embrulhava a caixa, moldava e puxava a sacola por baixo. Ficava apertado e eu acabava me machucando. Aí um dia peguei uma sacolinha de papel, dessas prontas, abri, remontei e aprendi a fazer as minhas sem o molde. Agora a gente faz de qualquer tamanho", explica.
A pé, em muitas ocasiões, os dois percorriam os 40 minutos que separam o Centro de Monte Sião da casa deles, bem no alto do morro, para pegarem os preciosos papéis que iam para o lixo das confecções. Rolos de 10 kg ou 20 kg com restos de tinta, que seriam inutilizados para eles se fossem amassados e molhados.
"Hoje não pegamos tanto papel, mas temos rolos de folhas por toda a casa, até debaixo da cama", relata Vera. "Naquela época, a gente estocava muito, porque a gente não podia perder a oportunidade de ter uma boa estampa para as sacolas. Então começamos a oferecer nas lojas, porque vimos que as sacolas ficaram boas, só não resistem à umidade. Levamos muitos nãos, mas, aos poucos, temos conseguido apoio."
A ideia da alça feita com retalho de tricô veio mais tarde, após teste com vários materiais. "Ninguém vendia esse retalho, mas ninguém queria dar. A gente chegou a trocar sacolas pela sobra da costura e não recebeu o material. Teve uma pessoa que pediu R$ 50 por 2 Kg", recorda Umberto.
Atualmente, o casal já tem alguns fornecedores e sonha em aumentar a produção. "A gente pensa em ter uma máquina. Deve ter algo do tipo para um empreendimento como o nosso, porque hoje tudo depende mais do Umberto. Eu e os meninos já tentamos fazer, mas ele reclama de sair torto. E sai mesmo", ri dona Vera, que também quer chegar à faculdade, ser professora ou secretária. "Eu sei que a gente chega lá."