Irmãs conquistam seguidores na web com dicas de alimentação saudável

Vídeos e postagens em blog ensinam receitas sem glúten e leite de vaca.
Ideia surgiu após advogada de Varginha descobrir alergia do filho ao leite.



Que a vida iria mudar, Tatiane de Castro não tinha dúvidas quando teve o primeiro filho em Varginha (MG). Mas ela se transformou radicalmente quando ela descobriu que Heitor tinha alergia à proteína do leite de vaca. Dois anos depois, a busca por informações na internet para substituir a alimentação mais comum a qualquer criança se transformou em blog.

A mãe se uniu à irmã nutricionista, Tamires Cardoso, e juntas elas pregam em vídeos e posts nas redes sociais a importância da alimentação sem proteínas agressivas ao organismo – como o glúten – e dos alimentos funcionais. Essa semana, um workshop gratuito na internet ajuda candidatos a mudar de vida até este domingo (31).
Tatiane e Tamires montaram blog com dicas de alimentos sem leite e glúten, Varginha, MG (Foto: Samantha Silva/G1)Tatiane e Tamires montaram blog com dicas de alimentos sem leite e glúten (Foto: Samantha Silva/G1)









Sem chão

A descoberta da alergia veio quando Heitor tinha apenas 8 meses e deixava o leite da mãe. Na primeira vez que ele tomou o leite de vaca, já reagiu e passou mal. Ao tentar o leite em pó, também não funcionou e ele foi parar no pronto-socorro com febre, coceira e manchas na pele. Ao ver os sintomas, os médicos já detectaram o problema com a proteína do leite.

"Eu fiquei desamparada no dia que eu descobri [a alergia do Heitor]", conta Tatiane. "A gente que está acostumada a comer de tudo, quando descobre isso, pensa: 'meu Deus, e agora? Ele não vai poder comer nada'. Mas não é assim, tem muitas alternativas."

Para dar outro tipo de leite, com a proteína hidrolisada, por exemplo, cada lata custaria cerca de R$ 180. "Aí a Tamires falou: 'vamos pesquisar alguma opção de leite vegetal'", conta. Segundo Tatiane, o médico não concordou com a ideia de dar esse tipo de leite, porque faltaria nutrientes.
Heitor bebe chocolate quente preparado sem leite de vaca pela mãe, Tatiane, em Varginha (Foto: Samantha Silva/G1)Heitor bebe chocolate quente preparado sem leite de vaca pela mãe, Tatiane (Foto: Samantha Silva/G1)









E foi aí que ela começou a pesquisar alimentos substitutos em vitaminas para o leite. Tatiane misturava ingredientes como chia, linhaça, suco verde com água de coco, couve, gengibre, cenoura, tudo que pudesse enriquecer o leite vegetal. Quando o Heitor começou a comer, frutas e verduras também entraram no cardápio.

"Eu sempre faço exames do Heitor, o hemograma, e tudo ótimo. E eu vejo pela saúde, ele quase não adoece, está super bem. O intestino funciona super bem", completa.

‘Blogando’ receitas
A ideia de criar o blog veio justamente pela dificuldade em encontrar receitas e informações na internet. Com 30 anos, Tatiane é advogada e até então era “turista” nas redes sociais. Com a alergia do Heitor, ela teve que descobrir novas formas de fazer as receitas tradicionais, como aquela broa caseira da avó, que teve o leite de vaca substituído pelo de nhame.
Atualmente, a página está com mais de 1,3 mil seguidores do Facebook e 1,5 mil no Instagram.


Leite de nhame? Pois é, outra receita que pode ser feita em casa, além do bolo de cenoura sem farinha de trigo, usando amido sem glúten, a tapioca, etc. “Fui testando, às vezes não dava certo, e até hoje vou tentando mexer em alguma coisa”, completa Tatiane. Além de substituir o leite, ela também optou por não dar alimentos com glúten para o Heitor, mesmo ele não sendo alérgico.

À medida que as receitas iam funcionando, ela publicava fotos dos pratos em seu perfil em uma rede social. “[Depois que eu publicava], as pessoas me pediam a receita. As amigas, algumas que inclusive têm filhos, a sogra, as primas do meu marido. E aí sugeriram de eu fazer um blog pra colocar tudo lá, porque às vezes eu demorava a passar a receita”, conta.

"Eu fiquei meio relutante, pensei: 'meu Deus, como eu vou arrumar tempo pra isso'? Mas depois eu pensei: 'poxa, mas pode ajudar outras mães'. Porque eu tive muita dificuldade [pra achar as receitas]."
Tatiane grava vídeos preparando as receitas na cozinha de casa, Varginha (Foto: Régis Melo/G1)Tatiane grava vídeos preparando as receitas na
cozinha de casa (Foto: Régis Melo/G1)


O blog Banquete do Bem entrou no ar em janeiro deste ano com o foco nas dietas que restringem as proteínas mais comuns que causam alergias, como o glúten e a do leite de vaca. De início, Tatiane simplesmente ia publicando as receitas com as dicas que ela testava na cozinha de casa.

As ideias eram boas para as mães que geralmente gastam muito dinheiro comprando alimentos específicos para alérgicos. "Dá pra usar farinha de arroz [por exemplo], que acha em todos os supermercados. Eu gosto muito de trabalhar com leite de nhame também, porque ele é barato e é versátil, serve pra muita coisa: chocolate quente, bolo, um suco. E ele é rápido e fácil de fazer."

Em fevereiro, ela começou a postar vídeos também ensinando como fazer alguns pratos. Com o interesse de cada vez mais pessoas, surgiu a ideia de criar um projeto mais abrangente de mudança de vida. De filho pra mãe, ela mesma mudou seus hábitos alimentares para uma rotina mais saudável. “E aí entrou a Tamires com as informações técnicas, pra difundir a alimentação saudável pra todo mundo”, conta.



‘Limpando’ a mesa
Tamires Cardoso, de 28 anos, seguia a carreira de nutricionista em Curitiba (PR) quando resolveu fazer um curso técnico de gastronomia. Da passagem do consultório para a mesa dos restaurantes, ela engordou 7 quilos em dois anos. “Era muita comida. E a gente queria experimentar todos os pratos”, conta. Com a profissionalização, ela começou a trabalhar em indústrias de salgados, e em seguida, assumiu a gerência em uma panificação.

Foi só quando começou a trabalhar em uma empresa de sucos prensados a frio que ela aprendeu sobre os alimentos funcionais e se especializou na área. “Quando eu tirei da minha alimentação o leite e o glúten, eu perdi 13 quilos. Tem gente que acha que esse tipo de dieta é modismo, mas atualmente, pelo menos 60 doenças são associadas ao consumo de glúten”, afirma Tamires.
Eu sempre digo: alimento é mais barato que medicamento. É a longevidade. Porque tudo isso vai influenciar lá quando você tiver 60, 70 anos."
Tamires Cardoso, nutricionista


Entre as mais comuns, segundo ela, estão as “ites”: rinite, sinusite, bronquite, e até o autismo. “Você tira o glúten e o leite, os pacientes melhoram”, completa. Outros sintomas associados ao consumo de determinados alimentos são a enxaqueca, gases, vômito, intestino preso, caspa, unha frisada ou quebradiça, ressecamento de pele.

“Você vai intoxicando seu organismo aos poucos, tanto quem tem a intolerância como alimentos que prejudicam qualquer organismo. E só quando você para de usar, que você percebe o quanto faz mal. Eu costumo dar o exemplo de um balde com água suja. Se você está limpando o chão e enxaguando o pano na água suja, você não percebe quanto mais sujeira está entrando na água. Mas se você pega o pano sujo e coloca na água limpa, aí você vê a sujeira”, explica.

Tamires deixou o emprego e manteve apenas o consultório de nutrição para entrar no projeto Banquete do Bem. No blog, ela dá as dicas de substituições de alimentos e informações sobre cada dieta e as mudanças no organismo que elas podem causar.
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Irmãs gravam vídeos com receitas e dicas para internautas mudarem alimentação, Varginha (Foto: Reprodução/Facebook/Banquete do Bem)Irmãs gravam vídeos com receitas e dicas para internautas mudarem alimentação
(Foto: Reprodução/Facebook/Banquete do Bem)

Projeto possível?
Mas em pleno século da vida corrida de trabalho fora de casa, família, compromissos, a pessoa tem tempo para fazer comida em casa? “Se a pessoa tem tempo pra dormir, ela precisa arrumar um tempo pra fazer a sua comida. A principal ideia é congelar os alimentos. Hambúrgueres caseiros, por exemplo, que podem ser fritos na hora. Molho de tomate pra fazer um macarrão. As frutas é só lavar e comer, outras nem precisa lavar. E sempre levar a marmita [pro trabalho]”, ‘bate o martelo’ Tatiane.
Alimentos ou ingredientes funcionais são aqueles que produzem efeitos benéficos à saúde. Além de suprir as funções nutricionais básicas do organismo, reduzem riscos de doenças crônicas degenerativas, como câncer e diabetes.


E outra pergunta que não quer calar. Sem leite, sem ingredientes com glúten, a comida é mesmo boa? “Não tem como falar que 'nossa, é igualzinho, é perfeito, idêntico', mas assim, eu penso que se a pessoa tem interesse em mudar ela tem que ir dando oportunidades para os alimentos. Tem coisas muito saborosas e até melhores. Quem está acostumado a tomar leite com achocolatado, num caso desse [a receita acima de chocolate quente sem leite], teria que adoçar mais um pouco pra começar a se adaptar”, responde Tatiane.

Tamires completa frisando a importância de pensar na qualidade de vida, que evita tantos problemas no futuro. “Eu sempre digo: alimento é mais barato que medicamento. Dá mais trabalho e às vezes vai gastar um pouco mais, mas você vai ter mais nutrientes e não só energia, que muitas vezes é uma falsa energia e não a que o seu organismo precisa. É a longevidade. Porque tudo isso vai influenciar lá quando você tiver 60, 70 anos”, finaliza.

Workshop
Os vídeos do workshop são veiculados ao vivo pela internet. Basta a pessoa fazer o cadastro e acessar o material gratuitamente. São vídeos com receitas e dietas, além de aulas sobre os alimentos e a influência deles no organismo.

Após o workshop, que segue até domingo em horários variados, se a pessoa quiser adquirir o Pacote Premium, ela passa a ter acesso ilimitado aos vídeos, além de bônus com sessões de coach. Além da Tatiane e da Tamires, outros especialistas também são convidados para participar do workshop.

Fonte: G1 Sul de Minas/EPTV