Cerca de 200m da procissão serão cobertos por mantas feitas na cidade.
'Acho que é uma bênção', diz moradora que vai ajudar pela 1ª vez.
A poucos dias da procissão de Corpus Christi, Aparecida Zanelato Zanutto, de 65 anos, dá os últimos arremates no tapete. A peça vai formar, junto com mantas de malhas de tricô, cerca de 200 metros do percurso de Jacutinga (MG) por onde passará a hóstia, representação do "corpo de Cristo" no ritual da Igreja Católica celebrado no dia 26 de maio. É a primeira vez que a artesã ajuda nos preparativos da celebração a qual costuma ir apenas para rezar. Neste ano, no entanto, sua fé vai se somar ao talento em criar com as mãos.
"Acho que é uma bênção para mim, por acreditar muito em Deus, poder ajudar. Porque eu sempre venho na procissão, mas nunca trabalhei assim nela", conta emocionada, enquanto os dedos ágeis se movem de um lado para o outro, dando forma à homenagem da jacutinguense ao ritual que relembra a caminhada do chamado "povo de Deus" para a "Terra Prometida".
Assim como dona Cida, outras dezenas de pessoas têm dedicado parte do seu tempo para organizar a procissão da Paróquia Santo Antônio e ao menos 100 peças, com 2 metros por 1,5 metro de tamanho, estão sendo confeccionadas para forrar parte dos 600 metros de trajeto.
O tipo de trabalho escolhido pela artesã usa a técnica de patchwork com acabamento em tricô. Há duas semanas, ela escolhe e une retalhos para finalizar com fios de lã. Mas a maioria das mantas tem como base as malhas de tricô que dão fama à cidade.
Dona de uma das centenas de malharias que a cidade possui, Fabiana Nicoletti decidiu produzir e doar 10 tapetes. A equipe da igreja escolheu as imagens sacras que seriam impressas e a confecção começou a produzir as peças.
"Achei uma ideia legal por ser turística, além de ter a parte religiosa. É uma oportunidade de mostrar o trabalho, que é feito no tricô, em um dia em que muito turista estará na cidade", avalia.
Fabiana conta que cada tapete leva cerca de 2h para ficar pronto. O desenho é criado digitalmente e a máquina faz a leitura, escolhendo as cores de fios que vão integrar a trama. É uma amostra de que o tricô de Jacutinga também pode estar presente na decoração das casas.
"A cidade está toda engajada", garante Cynthia Luzia Roberto Fávaro, que coordena os preparativos para a procissão. "Porque muitas pessoas vêm para a cidade acompanhar essa procissão e surgiu essa ideia de unir a fé com a criatividade das pessoas. Ainda não vai dar para cobrir todo o trajeto com os tapetes, mas queremos que o projeto continue", conta
com apoio de empresários de vários segmentos, moradores, associação comercial e prefeitura, a Paróquia Santo Antônio também busca resgatar a cultura de se enfeitar as ruas de Jacutinga, conforme a tradição católica que remonta ao século 13, e conquistar os cerca de 10 mil visitantes que devem passar pela feira de malhas da cidade, no pavilhão que fica logo atrás da igreja. A celebração começa às 17h de quinta-feira.
"A procissão de Corpus Christi é uma festa popular e as pessoas, por hábito, costumam enfeitar as ruas, mas os moradores contam que, com a feira de malhas [tradicional na mesma época do ano e que está na 39ª edição] começou a existir um conflito entre a celebração e a festa, pelo trajeto da procissão", relata o pároco Jésus Benedito dos Santos. "Agora houve esse acordo, de unir as duas tradições em um trajeto menor e este ano vai ter enfeite."
Em meio a reproduções de símbolos da sua fé - Jesus Cristo, o cálice, a pomba que remete ao Espírito Santo -, dona Cida sente energia redobrada para terminar o tapete, que não tem nenhum desenho, mas nem por isso é menos representativo. "Vou fechar a minha loja, se Deus quiser, e vou à procissão. E eu acho que o pessoal, vendo os tapetes, vai gostar mais do nosso trabalho. Vai ser uma bênção também porque as vendas não estão tão boas e acho que vai ajudar", espera.
Fonte: G1 Sul de Minas/EPTV