Famílias e Governo devem trabalhar juntos contra desaparecimentos

Segundo a polícia a maioria dos casos está relacionada a problemas de relacionamento e abuso de álcool e outras drogas







A família de Letícia viveu dias de angústia. O irmão dela, de 43 anos, sumiu no dia 20 de julho. R.A.L. falou com a ex-mulher e depois ninguém teve notícias dele. Os irmãos o procuraram em hospitais e até no Instituto Médico Legal. Só depois decidiram ir à Delegacia Especializada de Localização de Pessoas Desaparecidas.

A Polícia Civil de Minas Gerais, que tem um efetivo especializado para este caso e metodologia científica de busca, dá orientações importantes de como a família deve proceder. O primeiro passo deve ser o registro da ocorrência. Foram registrados 5.278 casos em Minas Gerais de janeiro a julho de 2015.

Neste caso, é fundamental que o relato tenha o máximo de informações, mesmo que algumas delas possam ser constrangedoras. Os irmãos de R.A.L. contaram aos investigadores sobre os problemas dele com a bebida e a separação recente. “Nunca pensamos que isso aconteceria e não sabíamos o que fazer” revela Letícia.

Uma vez registrada a ocorrência, a delegacia fornece um cartaz físico e digital para que o desaparecimento seja anunciado pelos parceiros da Polícia Civil: veículos de imprensa e redes sociais. A família também pode fazer essa divulgação, se quiser. A partir daí, os investigadores monitoram esses canais.

No caso de R.A.L., as informações chegaram por meio de um post no facebook três dias após o desaparecimento. Ele vagava em Itabirito. Estava confuso, sujo e embriagado, mas agora aceitou tratar-se. O médico que o atende disse que R.A.L. sofreu um surto causado pela depressão e pela bebida.

Mais de duas semanas depois do retorno do irmão, Letícia respira aliviada “Passamos uma agonia até encontrá-lo, mas a polícia resolveu o caso rapidamente. Agora meu irmão mora comigo, está sendo tratado e estamos mais atentos a ele”.

Motivações

Segundo o delegado Thiago Saraiva, os principais motivos dos desaparecimentos na fase adulta são a deterioração dos laços afetivos e o abuso de álcool e outras drogas. Muitas vezes, a vítima é encontrada em locais onde o acesso ao vício é facilitado.

Uma pessoa nunca desaparece apenas por escolha própria, a experiência da Polícia Civil mostra que isso não é correto. Relações interpessoais, vivência no trabalho, vícios e até doenças são os verdadeiros motivos dos paradeiros, independentemente da classe social da pessoa.

O sumiço acontece quando o indivíduo não se sente aceito pela família e pela sociedade, ou quando não se vê capaz de superar os próprios problemas. O quadro psicológico, segundo a polícia, se assemelha ao da depressão.

O desaparecimento de adultos e adolescentes corresponde a mais de 90% dos casos registrados em Minas Gerais. O desejo deles é escapar dos problemas mudando de cidade ou se envolvendo com drogas e álcool.

Já as crianças são a minoria nos registros e, em geral, elas se perdem dos pais em locais com grande movimento, como shoppings ou festas. Neste caso, testemunhas costumam encaminhar os pequenos para a polícia ou administradores dos locais.

Os idosos são vítimas das próprias doenças. O Alzheimer e a demência senil fazem com que os mais velhos percam a capacidade de se localizar e o desaparecimento é uma consequência dessa limitação. Mas o que mais preocupa é que pessoas com um desses diagnósticos têm saúde frágil e cada minuto sem a devida assistência pode contribuir com agravamento do quadro.

Busca imediata

As primeiras 48 horas do desaparecimento são fundamentais para que as autoridades possam identificar se houve crime, como morte ou sequestro. O delegado Thiago Saraiva destaca que aguardar 24 horas é o maior erro que a família pode cometer.





Há 12 anos, os mineiros contam com a delegacia de desaparecidos, portanto, a polícia deve ser notificada assim que houver suspeita do sumiço.

Em média, o paradeiro é descoberto em até cinco dias - isso se a pessoa não foi vítima de crime, o que pode aumentar o período de investigação.

Investigações

Os trabalhos da polícia são determinados pelas características sociais e psicológicas de cada pessoa. O registro da ocorrência gera um alerta no Sistema Integrado de Defesa Social e as informações ficam imediatamente disponíveis para a Delegacia Especializada de Localização de Pessoas Desaparecidas.

Em seguida, são colhidos depoimentos de parentes e amigos a fim de encontrar o motivo do sumiço. A partir daí, é providenciado o cartaz físico e digital com foto e telefones de contato da polícia e de familiares da vítima, que é encaminhado aos veículos de imprensa e demais parceiros para divulgação.

As buscas são feitas de acordo com o perfil do desaparecido, elaborado pela polícia. “Se for usuário de crack, serão feitas diligências nas crackolândias. Se o problema for com a família, as buscas serão nas rodoviárias. E o cadastro de moradores de rua e frequentadores de albergues, feito pelas prefeituras, tem contribuído para a localização” explica o delegado.

Os policiais também procuram em hospitais, no Instituto Médico Legal e em hotéis. Os bens da pessoa passam a ser monitorados, como o prontuário do veículo, pois uma multa pode ser uma pista. As operações bancárias podem entrar na pesquisa, caso a Justiça autorize. As investigações só terminam quando a pessoa, ou o corpo dela, é encontrada.

Informações Agência Minas