Líder comunitária constrói 'casa conceito sustentável' em Poços, MG

Imóvel possui tijolos ecológicos, captação de água e geração de energia.
Toda decoração e móveis da casa são de reaproveitamento.

Jéssica BalbinoDo G1 Sul de Minas
Cristina idealizou o que chama de "Casa Conceito", totalmente sustentável (Foto: Jéssica Balbino/ G1)Cristina idealizou o que chama de "Casa Conceito", totalmente sustentável (Foto: Jéssica Balbino/ G1)


Com um investimento de R$ 900 mil, a administradora de empresas e líder comunitária Cristina Monteiro Pereira, de 58 anos, conseguiu construir a casa dos sonhos, com todos os cômodos, móveis e decoração que gostaria em Poços de Caldas (MG). De São Paulo (SP), ela escolheu Poços para viver por causa da qualidade de vida no município e no imóvel desde março, ela conta que o diferencial mesmo está na funcionalidade: todo imóvel é sustentável e possui conceito. Nada é desperdiçado.

Com um terreno de 575 metros quadrados, a casa tem 255 metros de área construída e 17 cômodos, divididos em dois andares. Logo na entrada, um portão comprado via internet foi submetido a um processo de envelhecimento feito por Cristina, que queria dar uma cara ‘retrô’ ao objeto, a fim de combiná-lo com os tijolos ecológicos.
Toda sala, móveis e decorações são objetos de reaproveitamento (Foto: Jéssica Balbino/ G1)Toda sala, móveis e decorações são objetos de
reaproveitamento (Foto: Jéssica Balbino/ G1)


Já na sala, a diferença de temperatura é notada, uma vez que os mesmos tijolos fazem a inversão da temperatura. Além disso, não há risco de superaquecimento. “Se do lado de fora está frio, aqui dentro fica quente. Se está calor, aqui dentro fica mais fresco. Essa é uma das muitas vantagens do tijolo”, explicou Cristina.

Portas, janelas e batentes também são produtos de reaproveitamento de outras casas em que Cristina viveu, de construções de familiares ou de antiquários. O que poderia destoar encontra harmonia e equilíbrio entre os objetos, cores e funcionalidades. A vista também favorece a habitação: com vidros blindados e janelas altas é possível, de qualquer ângulo, avistar o Cristo Redentor no alto da Serra de São Domingos.


No quintal, um pomar será feito por Cristina. “Só vou plantar o que eu realmente gosto de comer. Já tenho mudas de batatas orgânicas, batata-doce e também teremos algumas frutas”, disse.

Por causa dos animais que possui, Cristina também destaca que em breve deve criar um biodigestor residencial e transformar as fezes em adubo.
Toda casa possui adaptação para cadeirantes e objetos reaproveitados (Foto: Jéssica Balbino/ G1)Toda casa possui adaptação para cadeirantes e tijolos ecológicos (Foto: Jéssica Balbino/ G1)
Adaptações e decorações
Outro diferencial do conceito é que a casa toda é adaptada para cadeirantes ou deficientes físicos. Embora não possua deficiência, Cristina já se antecipou. “Não sabemos da vida. Se amanhã ou depois eu, ou alguém da minha família precisar usar muletas ou cadeira de rodas, já temos tudo adaptado”.
As pedras normais são muito caras, já estas de demolição seriam pouco usadas e as comprei por um preço bem acessível. Sem contar que fica bem bonito"
Cristina Monteiro Pereira
líder comunitária
E isso pode ser comprovado pela largura das portas e passagens, bem como nos banheiros, com locais próprios para o uso de cadeirantes. As pedras decorativas do imóvel também são restos de demolições transformadas em um produto que não se deteriora.

“As pedras normais são muito caras, já estas de demolição seriam pouco usadas e as comprei por um preço bem acessível. Sem contar que fica bem bonito. Foi até uma discussão com o decorador, que achava que ficaria feio, mas eu sabia que não”, lembrou Cristina.

E ainda nesta linha de reaproveitamento, na pia da cozinha – feita em um formato pouco tradicional e que facilita a economia de água – há recipientes para separar o lixo orgânico do não orgânico. Gavetas próprias recebem, diretamente, o tipo do lixo.
Líder comunitária conseguiu criar sistema que filtra água da chuva para uso (Foto: Jéssica Balbino/ G1)Líder comunitária conseguiu criar sistema que filtra
água da chuva para uso (Foto: Jéssica Balbino/ G1)
Geração de água e energia


Entretanto, estas não são as únicas novidades da casa. Cristina também aderiu às placas fotovoltaicas e hoje ‘vende’ energia para o Departamento Municipal de Eletricidade (DME), além de captar e tratar a própria água.

No valor de R$ 800 cada placa, o custo final não é barato. Contudo, a economia de energia e a capacidade de gerar o que vai consumir é o diferencial em relação às tradicionais placas solares.

No caso das fotovoltaicas, elas não apenas geram como também permitem a armazenagem da produção para períodos sem iluminação do sol e a venda da energia excedente para as concessionárias.

“Na casa toda, toda a parte de tecnologia de energia não chegou ao custo de 10% do valor total da construção, ou seja, valeu a pena investir nisso”, comentou.

Já para captar água da chuva, Cristina possui duas caixas com capacidade de 20 mil litros cada. A água cai em calhas e é conduzida para dentro das caixas, onde, antes de entrar no abastecimento, é filtrada. A água também recebe cloro. Tudo é aplicado pela própria moradora ou pelo filho dela, de 25 anos, com quem divide a casa – além dos oito cães e uma dúzia de gatos, todos adotados da rua.

“Sempre me disseram que eu era louca, mas a vida toda pensei em construir uma casa assim, para ser o mais autossuficiente e sustentável possível, sem aquela coisa da ‘moda’ do sustentável.

Fiz o que eu gostaria de ter feito e no último ano, quando aconteceu uma grande estiagem e uma das piores crises hídricas, deixei de ser louca e passei a ser visionária. Sempre acho que o futuro será muito difícil”, contou.
Casa terá pomar no quintal com produtos orgânicos (Foto: Jéssica Balbino/ G1)Casa terá pomar no quintal com produtos orgânicos (Foto: Jéssica Balbino/ G1)
Casa conceito
Autodidata, Cristina nunca cursou nada relacionado à sustentabilidade, energia ou biologia, mas aprendeu lendo, conversando com outras pessoas e principalmente na internet, que ela classifica como a principal fonte de conhecimento.
Lustre feito de papelão, além de ecológico, contribui com a decoração (Foto: Jéssica Balbino/ G1)Lustre feito de papelão, além de ecológico, contribui
com a decoração (Foto: Jéssica Balbino/ G1)
“Eu não gastei muito para fazer a casa. O que temos que avaliar é o valor dela. E eu pesquisei demais, consegui reaproveitar muitas coisas e não comprei nada novo. Tudo é usado, reaproveitado, de segunda mão. O meu principal desafio é combinar as décadas em um mesmo ambiente”, relatou, ao mostrar a estante feita com sobras de madeira – e que serve como esconderijo para os 12 gatos que cria -, a mesa da sala de jantar feita a partir de uma mesa de churrasco e de estrado de cama e o armário, também reaproveitado e que permite que ela enxergue tudo que já dentro.

Aliás, ter os armários embutidos e com estantes largas é uma forma de evitar gastos desnecessários. “Com prateleiras grandes, eu consigo enxergar tudo que tenho, desde comida a utensílios e só compro o que realmente estou precisando. Não sou mão-de-vaca, mas sustentável. Contra o consumo desnecessário e desenfreado”.
Sistema faz moradores produzirem a própria energia em Andradas (Foto: Reprodução EPTV)Sistema faz com que empresário produza a própria
energia (Foto: Jéssica Balbino/G1)
Primeira casa no Sul de Minas com placas fotovoltaicas

Há dois anos, o empresário Danilo Maximiliano Marcon foi apresentado às placas fotovoltaicas por um amigo eletricista na cidade de Andradas (MG) e foi o primeiro morador do Sul de Minas a instalar o material no telhado de casa. Por captar a luz solar, as placas as transferem para um gerador, que convertem a energia em eletricidade.

O diferencial do sistema é que se a energia não for utilizada, pode ser revertida em créditos para serem abatidos na conta de luz. Desta maneira, é como se o consumidor estivesse vendendo energia à concessionária. Na casa de Marcon, 70% da energia utilizada pela família vem do sistema sustentável. “É um sistema que não dá trabalho, não faz barulho e não gera poluição. Resumindo, ele é confiável”, disse.

Ainda de acordo com Marcon, durante o dia é gerado mais energia do que o consumo, então, ela é enviada à Cemig – que abastece Andradas – e a noite essa energia retorna à casa do empresário.
Do G1