Bosque foi feito em homenagem ao pai e tem mais de 500 variedades.
É em um pequeno sítio na comunidade do Barreiro, zona rural de Campos Gerais (MG), que vive seu Afonso Oliveira de Lima, de 74 anos. Homem do campo, foi no pesado trabalho do dia a dia na roça que ele desenvolveu uma paixão que marcaria sua vida: o amor pela natureza. Tanto que, em homenagem ao pai, outro amante das plantas, seu Afonso decidiu formar um bosque particular em 1984. Muitas mudas e sementes plantadas depois, hoje o aposentado já conta com mais de 3 mil pés plantados, de 500 variedades diferentes.
Por ironia do destino, Afonso, que hoje se dedica a preservar a natureza, antes destruía. Ex-serrador, ele se mudou em 1962 para o sítio onde ainda mora para trabalhar com o sogro. Mais de vinte anos depois começou a plantar e nunca mais parou. Tomou gosto pela plantação e passou a não permitir que ninguém derrubasse nenhum pé.
"Até 1984 eu destruía. Aí eu larguei mão da serra e comecei. O primeiro 'pau' que eu plantei chama Guatambu. Pra todas as 'bandas' que eu ia eu trazia sementes. Cheguei a viajar para o Paraná, o estado de São Paulo, Mato Grosso. Trouxe sementes de madeira que não têm aqui na região. Fui tomando gosto e só não planto mais porque o terreno está acabando", conta o aposentado.
Hoje seu Afonso já tem três matas com espécies variadas, ou três "capãozinhos", como ele mesmo diz. Mas o que ele gosta mesmo são daquelas espécies diferentes, aquelas que ninguém tem. O bosque do seu Afonso tem até marfim, trazido do Paraná, entre outra raridades.
"Só de peroba tenho quatro tipos e eu gosto de todas elas. Tem peroba de gomo, perobão, peroba legítima... Jacarandá tem bastante. Ipê devo ter umas cinco qualidades, amarelo, rosa, tabaco, na primavera fica bonito", conta o seu Afonso.
Hoje o aposentado calcula que já deva ter uns dois alqueires de mata com as árvores que plantou e como ele mesmo diz, não perde semente.
"Quando eu planto, eu zelo delas, até pegar mesmo. Eu fico muito satisfeito. Eu me sinto bem vendo um 'arvoredo', uma árvore bonita, principalmente aquela que eu não conheço. Quando vejo alguma que eu nunca vi, fico louco para plantar aqui na minha região. Tem algumas como o 'Cumaru", que eu sei só de livro, gostaria de plantar", revela o seu Afonso.
Exemplo que passa para os filhos
O exemplo do seu Afonso, hoje passa para os filhos. Depois de 30 anos ajudando o pai a criar sua reserva particular, ninguém ali deixa cortar uma só árvore.
"Cortar ele não deixa e ninguém aqui concorda também. A gente gosta é que planta. É um exemplo para todos nós. É bom para todo mundo, a gente depende da natureza. A gente gostaria que todo mundo fizesse isso. Conheço poucas qualidades que ele tem, mas ajudei a plantar quase todas. Não é difícil plantar. É mais fácil plantar do que destruir", diz Marcos Antônio de Lima, um dos filhos do seu Afonso..
Tanta dedicação com a natureza já ganhou fama em Campos Gerais. Tanto que muitos estudantes saem de escolas da cidade para visitar o bosque particular do aposentado para conhecer mais sobre as plantas. Mais um motivo de orgulho para quem nunca teve oportunidade para se aprofundar nos estudos, mas tem muito a ensinar.
"Pra nós é um orgulho muito grande. Aqui sempre vem muita gente, estudante pra ver, pra perguntar para o papai sobre as árvores, sobre a natureza. Eles vêm sempre querendo descobrir coisas novas para fazer o trabalho da escola", conta a filha Vera Lúcia Lima Duarte.
Outro filho de seu Afonso, Roberto Lúcio de Lima já segue os passos de pais e já tem uma mini-reserva formada em casa, com 65 espécies diferentes de árvores. Para ele, o exemplo do pai tem que ser seguido.
"Eu estou começando agora, seguindo o exemplo dele. Na verdade, quase ninguém preserva, são raras as pessoas que estão preocupadas com o meio ambiente e preservando. Eu estou contribuindo pouco, mas estou com muita vontade de contriubir mais. Mesmo que não possa plantar, se a pessoa pelo menos cuidar, pelo menos preserve o que está nascendo", finaliza Roberto.