Minas vai criar Plano de Desenvolvimento da Economia Popular Solidária
Desde 2000, a Economia Popular Solidária (EPS) tem sido alternativa de trabalho e renda para cerca de 10 mil famílias mineiras, segundo dados da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Um exemplo é o empreendimento de dona Francisca Paulina da Silva, que aos 66 anos e cheia de disposição, coordena uma cooperativa de confecções e artes, localizada no bairro Barreiro de Cima, em Belo Horizonte.
Natural do Ceará, ela encontrou na economia solidária sua grande oportunidade, desde que chegou a Minas Gerais, em 1976.
“Estava sem escolha, não tinha profissão, nem leitura, nenhum sonho. Aí apareceu essa nova força de esperança, eu me agarrei a ela e encontrei valores como respeito, dignidade e cidadania”, revela com satisfaçãodona Francisca, que há 17 anos trabalha com cooperativismo, 11 deles dedicados à economia solidária.
A cooperativa, da qual dona Francisca Paulina é também uma das fundadoras, conta hoje com 22 cooperadas trabalhando no reaproveitamento de retalhos de couro, tecidos e outros materiais. Neste cenário de sustentabilidade e organização coletiva, a coordenadora ressaltao sentimento de mudança de valores. “Vejo como uma mudança para um mundo melhor. A economia solidária proporciona o respeito à pessoa humana, temos mais voz e mais atitude. Antes, eu estando com minha barriga cheia, os outros que se danassem. Agora não, agora eu olho até o lugar onde piso, para não maltratar nem a grama”, descreve.
Exemplo de Esmeraldas
Outro exemplo bem sucedido de empreendimentos econômicos solidários em Minas está no município de Esmeraldas, na comunidade do Tijuco, às margens da BR-040. Aos 50 anos, João Lopes coordena uma cooperativa de cosméticos e produtos de limpeza à base de plantas naturais, cultivadas pelos próprios cooperados. Natural de Mantena, município mineiro localizado na divisa com o Espírito Santo, o coordenador mora em Esmeraldas há 18 anos com a esposa e quatro filhos. Dois deles trabalham na cooperativa.
João Lopes também é um dos responsáveis pelo Banco Esmeralda, banco comunitário de desenvolvimento que oferece serviços financeiros solidários, de forma associativa e comunitária, com circulação de uma moeda social própria da comunidade. Neste caso, a moeda criada pela comunidade é chamada de Moeda Social Esmeralda (M$), aceita em vários estabelecimentos da cidade.
Com o mesmo otimismo de dona Francisca, Lopes considera a economia solidária uma forma diferente de produção. “Não tem patrão e nem empregado, todos são donos do estabelecimento e decidem como fazer, tanto na produção quanto na gestão. Tem uma liderança, um coordenador, mas ele não age de forma autoritária; a posição do líder é coordenar os trabalhos de forma autogestionária”, explica.
João Lopes tem levado o exemplo de Esmeraldas a outras cidades do Estado. Em Igarapé, por exemplo, sua contribuição é ajudar um grupo a montar o banco comunitário de desenvolvimento. No sul de Minas, João vai realizar um curso de produção de cosméticos. “Não temos concorrência, temos parceiros. Quanto mais pessoas trabalhando desta forma, na mesma cidade, maiores são as chances de se formar uma rede de produção solidária”, avalia.
Plano Estadual de Economia Solidária
Os exemplos de dona Francisca Paulina e João Lopes mostram a importância dos 800 Empreendimentos Solidários existentes hoje em Minas e apontam a necessidade de ampliação das políticas públicas voltadas para o setor. Atenta a essas questões e seguindo a diretriz de fortalecer o diálogo com a população, a Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social (Sedese) vai realizar, nos dias 27 e 28 de fevereiro e 1º de março (sexta, sábado e domingo) o “Seminário de Construção do Plano Estadual de Desenvolvimento da Economia Popular Solidária”.
O evento acontece no Centro de Acolhimento São José, no bairro Cinquentenário, em Belo Horizonte, com abertura pelo secretário de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social, deputado André Quintão e participação de representantes do Movimento de Economia Popular Solidária dos 11 fóruns regionais em Minas. Também estarão presentes para a construção do plano conselheiros do Conselho Estadual de Economia Popular Solidária, da Comissão Nacional, palestrantes e relatores.
Expectativa
Se depender da expectativa de João Lopes e de dona Francisca, em Minas a economia solidária dará um grande passo com a implantação do Plano Estadual. “A gente quer construir de verdade, queremos que isso aconteça a vida inteira”, ressalta Lopes.
“Espero que esse plano seja para o Brasil uma esperança de mudança de verdade. Um compromisso dos governos e da sociedade, que sejam aplicados mais recursos, porque a economia solidária é feita de pessoas e pessoas que não vêm pedir esmola não. São pessoas que precisam de espaço para trabalhar e serem reconhecidas como cidadãos que estão contribuindo para a sociedade” avalia dona Francisca.
Serviço:
O que: Seminário de Construção do Plano Estadual de Desenvolvimento da Economia Popular Solidária
Onde: Centro de Acolhimento São José, Rua Júlio de Castilho, 561 - Bairro Cinquentenário
Quando: 27 e 28/02 e 1º/3