Pela primeira vez artistas consagrados do axé music se apresentam no carnaval mineiro; Chiclete com Banana e Olodum cantam em Ouro Preto, enquanto Banda Eva e Tomate se apresentam em Muzambinho
Os 30 anos do axé music serão comemorados no próximo mês e o ano que marca as três décadas do ritmo baiano terá um carnaval atípico em Salvador. Pela primeira vez grandes nomes do axé deixam a capital da folia durante o carnaval para se apresentarem em outras cidades. Banda Eva e Tomate cantam no Bloco Vermes & Cia, em Muzambinho, Sul de Minas. Chiclete com Banana e Olodum são atrações confirmadas no Bloco Ouro Folia em Ouro Preto, cidade mineira que está entre os dez maiores carnavais do Brasil. Claudia Leitte desfila no carnaval carioca e canta em Santa Rita do Sapucaí, cidade sul mineira. Já Ivete Sangalo e Alinne Rosa, ex-vocalista do Cheiro de Amor, se apresentam no interior de São Paulo.
Os artistas negam que exista uma crise no ritmo e afirmam que a escolha de se apresentar fora de Salvador é uma maneira de levar o axé music para outros estados. “Não acho que seja uma crise, o Carnaval da Bahia é muito grande e todas as atrações baianas estão lá. Existe uma quantidade enorme de blocos de todos os tipos que completam o Carnaval. Logo, se um artista sai um ou dois dias de Salvador para mostrar seu trabalho em outras cidades, não altera muito a dinâmica do Carnaval baiano”, afirma Rafa Chaves, vocalista do Chiclete com Banana. A banda é uma das atrações do Bloco Ouro Folia, em Ouro Preto. Eles também se apresentam em Votuporanga, interior paulista, em Floriano, no Piauí e dois dias no Bloco Nana Banana, em Salvador.
A Banda Eva é atração confirmada no Bloco Vermes & Cia, em Muzambinho, cidade localizada no Sul de Minas Gerais. O grupo baiano também canta no Bloco Nu Outro e no Bloco Eva, ambos em Salvador. Para o vocalista do grupo, Felipe Pezzoni, sair de Salvador durante o Carnaval também é uma maneira de expandir a carreira. “É bacana também difundir o nosso som, o nosso Carnaval em outros Estados. Minas Gerais consome axé o ano inteiro e os mineiros tem uma energia tão similar com a do público baiano. É bom levarmos a nossa música para outros públicos”, conta o artista.
Em Salvador, além dos tradicionais blocos de axé, os soteropolitanos vão acompanhar blocos de sertanejo, funk e forró. Anitta, MC Guimê, Jorge e Mateus, Aviões do Forró e Wesley Safadão são alguns dos artistas que estarão na folia baiana. Para Pezzoni, o fato do sertanejo e de outros ritmos terem uma forte presença no Carnaval baiano é uma das características da folia. “O Carnaval sempre foi democrático com todos os estilos musicais. Vale lembrar que há alguns anos a música do Carnaval foi “Ana Júlia” do Los Hermanos. Sempre foi dessa maneira, sempre teve espaço para todos os estilos musicais e principalmente para os estilos que estão no auge. E o sertanejo vive esse momento”, conta o vocalista do Eva.
Victor Hugo, produtor da Arena Ouro Preto Folia, acredita que esse novo cenário vem para reafirmar Minas Gerais nos circuitos de grandes shows. “Contar com grandes nomes do axé music no carnaval mineiro fortalece ainda mais a festa que já é reconhecida em todo o país. Ouro Preto está entre os dez maiores carnavais do Brasil e Minas é um dos Estados que mais consome diferentes seguimentos do mercado fonográfico brasileiro. Com essas mudanças, o público não precisa mais se deslocar até Salvador para curtir os grandes nomes da Bahia, principalmente durante a festa carnavalesca”.
Três décadas
O axé music está comemorando 30 anos de história. Em 1985, Luiz Caldas, considerado o pai do axé, emplacou a música “Fricote” em todas as rádios do país e o hit é considerado o primeiro grande sucesso do ritmo baiano. Com o passar dos anos novos artistas foram surgindo e fortalecendo o movimento como Sarajane, Daniela Mercury, Asa de Águia e Cheiro de Amor.
Nos anos 90, o axé music foi responsável por grandes sucessos no Carnaval. Hoje, o sertanejo é predominante em todas as rádios do país e também emplaca vários hits durante a folia. De acordo com a Crowley Broadcast Analysis do Brasil, agência que monitora as músicas executadas nas rádios, apenas duas canções do axé music entraram noranking das 100 mais tocadas em 2014. Ivete Sangalo, com “Tempo de Alegria”, ocupa a 82ª posição e “Lepo Lepo”, do Psirico, a 91ª. A canção mais tocada no ano foi “Domingo de Manhã”, da dupla Marcos & Belutti.
O Chiclete com Banana critica a cobrança do público por novidades no ritmo baiano. “No meu entender, acredito que o axé chegou à maior idade. Ele não é novidade porque virou adulto em seu estilo musical. O axé é uma música que sofreu muito preconceito, mas conseguiu se firmar. O sertanejo também sofreu esse mesmo preconceito e conseguiu ultrapassar. Hoje, exigem muito do axé, sempre querem alguma novidade. Mas e o samba, que é imortal, o rock brasileiro e o pop rock, quais novidades eles têm apresentado? Esses ritmos não apresentam novidades porque são estabilizados e já bem adultos. E o axé se encaixa nesta mesma situação”, diz Rafa Chaves
Já para o vocalista do Eva, Felipe Pezzoni, o problema do axé music está na falta de espaço para os novos talentos. “Não surgiram coisas novas de um tempo pra cá e as que apareceram não tiveram o espaço merecido ou necessário para existir uma renovação. Mas não acredito em crise, eu acredito em ciclo. Sempre foi dessa maneira”. Na visão do artista, o ritmo, no entanto, continua em alta. “Apesar de não ter um estilo musical que fica o tempo todo no topo, as maiores artistas brasileiras são cantoras de axé, Ivete Sangalo e Claudia Leitte. Temos representantes que são ícones da música brasileira e são cantores de axé”, conclui o artista.
Para Pedro Pioli, produtor executivo do Carnaval de Muzambinho, a presença de cantores e bandas de axé no Carnaval mineiro é uma demanda que vem do público. “As atrações dos eventos são pensadas em prol do nosso público. Focamos na tentativa de agradá-los de um modo geral combinando diferentes estilos musicais que estão classificados na mídia atual como os melhores em seu segmento artístico”, ressalta o produtor.