Entenda o que é a hepatite misteriosa em crianças, seus sintomas e por que ela é perigosa

 



Doença que acomete menores já está em mais de 20 países e pode exigir transplante de fígado


Um tipo de hepatite aguda de origem desconhecida está acometendo crianças em ao menos 20 países. Muito severa, a doença não tem relação direta com os vírus conhecidos da hepatite, e 10% dos casos exigiu transplante de fígado.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 29/4, mais de 200 casos haviam sido reportados no mundo, a maioria (163) no Reino Unido. Houve relatos na Espanha, Israel, Estados Unidos, Dinamarca, Irlanda, Holanda, Itália, Noruega, França, Romênia, Bélgica e Argentina - a maioria em crianças de um mês a 16 anos, com uma morte relatada. No Brasil, sete casos suspeitos estão sob investigação.

A organização afirma ainda investigar a origem e as causas da doença, mas descarta relação com as vacinas contra Covid-19.

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da OMS na Américas e Caribe, descreveu com detalhes em um comunicado o que já se sabe sobre a hepatite e seus casos graves relatados em vários países.

1- O que é a hepatite aguda?

A síndrome clínica entre os casos identificados é a hepatite aguda (inflamação do fígado de forma abrupta) com enzimas hepáticas acentuadamente elevadas. O adenovírus foi detectado em pelo menos 74 casos; em 18 casos, testes moleculares identificaram a presença do adenovírus F tipo 41 e em 20 foi identificada a presença do SARS-CoV-2. Além disso, em 19 houve uma coinfecção por SARS-CoV-2 e adenovírus.

Os vírus comuns que causam hepatite viral aguda (vírus da hepatite A, B, C, D e E) não foram detectados em nenhum desses casos. Viagens internacionais ou conexões em outros países não foram identificados como fatores da doença. Sua real causa ainda está sob investigação pela OMS.

2- Quais são os sintomas e o tratamento?

Muitos casos de hepatite aguda apresentaram sintomas gastrointestinais, incluindo dor abdominal, diarreia e vômitos e aumento dos níveis de enzimas hepáticas (aspartato transaminase (AST) ou alanina aminotransaminase (ALT) acima de 500 UI/L), além de icterícia e ausência de febre.

O tratamento atual busca aliviar os sintomas, manejar e estabilizar o paciente se o caso for grave. As recomendações de tratamento podem ser aprimoradas assim que a origem da infecção for determinada.

3- Por que o surto de hepatite em crianças é considerado incomum? É devido ao adenovírus?

Em muitos casos, a infecção por adenovírus foi detectada nas crianças afetadas, e a ligação entre os dois está sendo investigada como uma das hipóteses para a causa da doença.

O adenovírus é um vírus comum que pode causar sintomas respiratórios, vômitos e diarreia, e, no geral, a infecção por tais vírus é de duração limitada e não evolui para quadros mais graves. Houve casos raros de infecções graves por adenovírus que causaram hepatite em pacientes imunocomprometidos ou transplantados, por exemplo. No entanto, as crianças infectadas eram anteriormente saudáveis.

4- O surto pode estar relacionado às vacinas contra Covid-19 ou com a própria Covid-19?

Com base nas informações atuais, a maioria das crianças relatadas com a hepatite aguda não recebeu a vacina contra Covid-19, descartando uma ligação entre os casos e a vacinação neste momento. Em alguns casos relatados, foi detectada a presença do vírus SARS-CoV-2, e esta é uma das linhas de investigação junto com outras, como o adenovírus.

5- O que os pais podem fazer para proteger as crianças?

O mais importante é ficar atento aos sintomas, como diarreia ou vômito, e aos sinais de icterícia – quando a pele e a parte branca dos olhos ficam amareladas. Nestes casos, deve-se procurar atendimento médico imediatamente.

A OPAS recomenda ainda o uso de medidas básicas de higiene, como lavar as mãos e cobrir a boca ao tossir ou espirrar para prevenir infecções, que também podem proteger contra a transmissão do adenovírus.

6- Que medidas são recomendadas para prevenir a propagação da doença?

Neste momento, a recomendação aos países é manterem-se informados, monitorarem e notificarem os casos.

Fonte: Instituto Butantan