Na cidade de Andradas, Epamig finaliza estudo com 11 tipos de uvas, permitindo que a produção no Sul de Minas possa ir além de Syrah e Sauvignon Blanc, bem adaptadas à região.
Enquanto o interesse por vinhos finos cresce de maneira expressiva no Brasil, a produção da bebida no Sul de Minas ganha novos horizontes. Além de Syrah e Sauvignon Blanc, tipos de uva que se adaptaram plenamente à região, outras cultivares devem ganhar os vinhedos em breve, ampliando as opções em mercado promissor. Levantamento feito pela Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) indica que o consumo no Brasil subiu 18,4% em 2020.
A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) está finalizando um estudo, realizado em parceria com a vinícola Casa Geraldo, sobre a eficiência de 11 cultivares, como Grenache, Tempranillo, Marsanne e Moscato Petit Grain.
Realizado ao longo de cinco anos, o estudo verificou o comportamento dessas uvas na região de Andradas a partir da técnica da dupla poda – que permite a colheita de frutas com ótima maturação no período de inverno. “Essas uvas responderam muito bem. O que falta agora é os vinhos passarem por análise sensorial dos enólogos para ver quais dessas variedades apresentam o melhor potencial enológico, para depois poder planejar uma produção comercial”, afirma Cláudia Souza, pesquisadora da Epamig.
A variedade de sabores é fundamental para a produção mineira crescer ainda mais em um mercado dominado por produtos internacionais, especialmente do Chile e da Argentina. “A syrah é a nossa rainha das uvas, é uma variedade vigorosa, com excelente potencial de maturação. Mas estamos tentando encontrar caminhos para expandir a produção, oferecer mais opções com viabilidade econômica”, conta Cláudia, que estima uma área de 150 hectares dedicados a vinhedos no Sul de Minas.
300 mil garrafas neste ano
De acordo com a Associação Nacional de Produtores de Vinhos de Inverno (Anprovin), a estimativa é uma produção de 300 mil garrafas de vinhos finos de inverno em 2021.
Todas essas bebidas foram produzidas a partir da técnica de dupla poda, que consiste na inversão do ciclo produtivo da videira, que altera para o inverno o período de colheita das uvas destinadas à produção de vinhos.
Uma prova da qualidade dos vinhos que têm sido produzidos no Sul de Minas são os prêmios conquistados ao longo dos anos em diferentes competições internacionais. Recentemente, a premiação Decanter World Wine Awards (DWWA) entregou medalhas a 14 rótulos produzidos na Mantiqueira (Minas e São Paulo), sendo três de prata e onze de bronze.
Entre os premiados, está a vinícola paulista Góes, que ganhou mercado com vinhos de mesa, mas agora investe também em produção de produtos finos, contando com parceria com a Epamig. “O brasileiro está valorizando o vinho. Os argentinos e chilenos chegam ao mercado com preço baixo, mas nem sempre eles têm qualidade. Conforme as pessoas vão ganhando memória enóloga, vão aprendendo a diferenciar os produtos e percebendo que, muitas vezes, vale a pena pagar um pouco mais por um vinho de qualidade”, explica a pesquisadora.
Poder precificar o produto é uma vantagem
De acordo com Eduardo Junqueira Neto, produtor do vinho Maria Maria, o investimento em vinho é de longo prazo. A plantação do vinhedo teve início em 2009 e vem crescendo ao longo do tempo – de cinco para 21 hectares em 12 anos. A expectativa é de que a produção dobre, chegando a 40 mil garrafas em 2021, e alcance a meta de 60 mil unidades no ano que vem.
Na fazenda Capetinga, em Três Pontas, o vinhedo divide espaço com café e cereais, mas apresenta oportunidades de lucro diferenciadas para os produtores. “Para commodities, o ganho depende da época. Este está sendo um bom ano para cereais. O café também depende do preço do mercado. Já o vinho, eu posso precificar e trabalhar melhor minha margem de lucro. Nós trabalhamos em todo o processo e o preço depende mais da qualidade do produto do que aquele colocado pelo mercado”, explica Eduardo. A qualidade é difundida com prêmios. Maria Maria recebeu medalhas em quatro dos últimos cinco concursos DWWA.
O investimento no negócio é alto e demanda paciência. Segundo Cláudia, somente um investimento em uma adega de 50 mil litros demanda aporte de R$ 1 milhão.