A carga que desembarcou no aeroporto de Guarulhos (SP) trouxe, depois de uma semana de espera, 2 milhões de doses da vacina Oxford-AstraZeneca, aprovadas no domingo passado pela Anvisa juntamente com outras 6 milhões de doses da CoronaVac importadas da China — e que já estão sendo aplicadas pelos Estados e municípios em suas campanhas de vacinação.
E, também nesta sexta, a Anvisa deu aval para o uso emergencial de mais 4,8 milhões de doses da CoronaVac, essas rotuladas e embaladas pelo Instituto Butantan em São Paulo.
Com isso, o Brasil passa a contar até agora com 12,8 milhões de doses de vacinas para enfrentar a pandemia.
No entanto, embora a notícia seja de se comemorar, esse montante só dá conta, na prática, de imunizar o equivalente a 40,3% da população definida pelo governo federal como prioritária para a fase inicial da imunização.
O Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, publicado em dezembro pelo governo Bolsonaro, estabelece que a primeira fase da campanha de vacinação contra covid-19 no país deve ter como população-alvo trabalhadores da saúde, pessoas de 75 anos ou mais, pessoas com mais de 60 anos que estejam em casas de repouso ou clínicas geriátricas, população indígena e povos e comunidades ribeirinhas.
Nas contas do Ministério da Saúde, isso totaliza 14,8 milhões de pessoas, que exigirão 31,7 milhões de doses, já que todas as vacinas existentes no momento dependem da aplicação de duas doses (necessariamente da mesma vacina) em cada pessoa.
Novo pedido de aprovação à Anvisa
O segundo pedido de uso emergencial da CoronaVac à Anvisa havia sido anunciado recentemente por Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan — estas 4,8 milhões de doses, ao contrário do primeiro lote da CoronaVac, não vieram prontas da China, mas sim foram envasadas no Brasil pelo próprio instituto.
O Butantan afirma que a aprovação desta sexta-feira valida a produção nacional de um total de 40 milhões de doses da CoronaVac, pelo mesmo processo (e, portanto, sem a necessidade de um terceiro pedido de aprovação na Anvisa).
Um percalço, porém, é que essa produção total depende de insumos que o Brasil está tendo dificuldades de importar da China. O mesmo entrave está sendo enfrentado para a produção nacional da vacina da AstraZeneca, pela Fiocruz.
Na última semana, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello afirmou que "a China não tem dado celeridade aos documentos de exportação necessários para que o IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) saia e venha para o Brasil".
Procurada pela BBC News Brasil na quarta-feira (20/01), a Embaixada do Brasil na China disse que está "em contato com as autoridades chinesas e com a empresa responsável pelo fornecimento dos insumos para identificar a melhor maneira de resolver a questão".
A Fiocruz afirmou que a falta de previsão de entrega desses insumos pode atrasar a entrega do primeiro lote da vacina da AstraZeneca produzida no Brasil e esperada para 8 a 12 de fevereiro.
As doses da AstraZeneca são parte crucial do plano de vacinação do governo federal, que diz esperar contar com 100,4 milhões delas até julho deste ano.
Quanto da população precisa ser imunizada?
A disponibilidade de mais doses e o compasso de espera pelos insumos se insere na complexa discussão de o quanto uma população precisa estar vacinada para que o vírus de fato deixe de circular — e para que as pessoas possam retomar à vida normal pré-pandemia.
Não é uma conta fácil, uma vez que depende tanto da eficácia de cada vacina quanto da velocidade de circulação do vírus (um fator que ainda está sendo estudado, diante de um vírus relativamente novo para a ciência).
Em entrevista à BBC News Brasil em 19 de janeiro, a epidemiologista Carla Domingues, que comandou o Programa Nacional de Imunizações do Brasil entre 2011 e 2019, afirmou que estudos internacionais têm apontado que seria necessário vacinar cerca de 70% de uma população para o vírus de fato arrefecer.
Na ponta do lápis, 70% da população brasileira consiste em 147 milhões de pessoas, o que exigiria, então, a oferta de quase 300 milhões de doses para trazer proteção ampla.
"É um assunto controverso e com opiniões bem diversas, principalmente porque depende da capacidade de proteção de cada vacina", explica à BBC News Brasil Estevão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia.
Ou seja, é preciso levar em conta os resultados das fases 3 de testes clínicos das vacinas ofertadas.
A CoronaVac — por enquanto a vacina com maior prevalência no Brasil — ofereceu, nos testes feitos no país, proteção global de 50,38%. A da AstraZeneca, 70,4%.
"Uma vacina que tem uma capacidade menor de impedir o contágio — por exemplo a CoronaVac, com uma proteção de cerca de 50% — vai exigir mais gente sendo imunizada do que (se fosse com) a vacina da Pfizer, que tem 95% de proteção contra o contágio", prossegue Urbano.
"Se tivermos a CoronaVac como foco, então acredito que entre 50% e 70% da população precisará ter se vacinado, para termos o início de um efeito rebanho (quando a proteção coletiva trazida pela vacina impede a circulação ampla do vírus)."
Esse 70% da população vacinada com um imunizante que garante proteção a cerca de metade dos vacinados faria com que, no fim das contas, um terço da população total estivesse totalmente protegida, prossegue o médico. "Mas isso é difícil de prever", agrega o médico.
Vale lembrar que a CoronaVac apresentou eficácia maior (78%) ao evitar que pessoas infectadas com o coronavírus precisassem de atendimento médico e maior ainda ao evitar que essas mesmas pessoas desenvolvessem sintomas graves de covid-19.
Na prática, uma pessoa não vacinada exposta ao vírus tem o dobro de chance de desenvolver a covid-19 em relação a alguém que for vacinado com o imunizante.
O Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19 diz que o país está em negociações para obter 350 milhões de doses de diferentes vacinas.
Parte significativa desse montante, porém, se refere a memorandos de entendimento com fabricantes para as quais ainda não há pedidos de aprovação na Anvisa nem expectativa concreta de recebimento de lotes, como a Pfizer e a Janssen.
Na ponta do lápis, 70% da população brasileira consiste em 147 milhões de pessoas, o que exigiria, então, a oferta de quase 300 milhões de doses para trazer proteção ampla.
"É um assunto controverso e com opiniões bem diversas, principalmente porque depende da capacidade de proteção de cada vacina", explica à BBC News Brasil Estevão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia.
Ou seja, é preciso levar em conta os resultados das fases 3 de testes clínicos das vacinas ofertadas.
A CoronaVac — por enquanto a vacina com maior prevalência no Brasil — ofereceu, nos testes feitos no país, proteção global de 50,38%. A da AstraZeneca, 70,4%.
"Uma vacina que tem uma capacidade menor de impedir o contágio — por exemplo a CoronaVac, com uma proteção de cerca de 50% — vai exigir mais gente sendo imunizada do que (se fosse com) a vacina da Pfizer, que tem 95% de proteção contra o contágio", prossegue Urbano.
"Se tivermos a CoronaVac como foco, então acredito que entre 50% e 70% da população precisará ter se vacinado, para termos o início de um efeito rebanho (quando a proteção coletiva trazida pela vacina impede a circulação ampla do vírus)."
Esse 70% da população vacinada com um imunizante que garante proteção a cerca de metade dos vacinados faria com que, no fim das contas, um terço da população total estivesse totalmente protegida, prossegue o médico. "Mas isso é difícil de prever", agrega o médico.
Vale lembrar que a CoronaVac apresentou eficácia maior (78%) ao evitar que pessoas infectadas com o coronavírus precisassem de atendimento médico e maior ainda ao evitar que essas mesmas pessoas desenvolvessem sintomas graves de covid-19.
Na prática, uma pessoa não vacinada exposta ao vírus tem o dobro de chance de desenvolver a covid-19 em relação a alguém que for vacinado com o imunizante.
O Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19 diz que o país está em negociações para obter 350 milhões de doses de diferentes vacinas.
Parte significativa desse montante, porém, se refere a memorandos de entendimento com fabricantes para as quais ainda não há pedidos de aprovação na Anvisa nem expectativa concreta de recebimento de lotes, como a Pfizer e a Janssen.
Fonte: Yahoo Notícias