Segundo professor da Unifal, algumas das decisões de prefeituras não expressam coerência e o melhor para a saúde pública.
O ano de 2020 está chegando ao fim e a pandemia de Covid-19 continua preocupando a população brasileira. No Sul de Minas, as medidas tomadas pelas prefeituras muitas vezes não agradaram os moradores ou causaram questionamentos entre pesquisadores.
Este é o caso do professor de epidemiologia e saúde coletiva da Unifal, Sinézio Inácio da Silva Júnior. Segundo o pesquisador, algumas das decisões tomadas por prefeituras da região não expressam coerência e o melhor para a saúde pública.
“Um exemplo tem sido a permissão de funcionamento de bares, restaurantes, academias e festas e a continuada proibição da reabertura de pré-escolas e escolas para crianças menores de 10 anos”, afirmou.
Na última terça-feira (29), Poços de Caldas (MG) publicaram uma nova resolução que restringe o funcionamento de bares e restaurantes em 40% da ocupação, mas libera as casas de festas para até 30 pessoas. De acordo com o Secretário de Saúde da cidade, Carlos Mosconi, a situação está sob controle no município e não há um aumento considerável de casos de Covid-19. Uma pesquisa feita pelo professor da Unifal registrou queda de 3% nos casos da doença na cidade, entretanto a média móvel de mortes aumentou na última semana.
“Até 29 de dezembro, por exemplo, enquanto o Sul de Minas teve na última semana um crescimento médio da média móvel de casos de 21%, Poços de Caldas teve diminuição de 3% (o que animou o relaxamento). Mas, também na última semana em Poços, o crescimento médio da média móvel de mortes foi de 305%”, explicou Sinézio.
Ainda de acordo com o professor, atualmente o Sul de Minas aparenta uma estabilidade no número de mortes, mas também uma tendência de aumento no número de casos. O aumento de casos e internações, possivelmente causado pelas atividades festivas de fim de ano, só será observado após o dia 5 de janeiro. Já o possível aumento de mortes após o dia 10 de janeiro.
“A pandemia não dá sinais de controle e no Sul de Minas, por exemplo, nós batemos o sétimo recorde de maior média móvel exatamente no dia de Natal. E na véspera batemos o recorde de novos casos com o registro de 719 diagnósticos confirmados”.
Para o professor, a falta de ajuda econômica do Governo Federal fez com que os governos locais tivessem mais dificuldade de fazer frente a uma situação que coloca em risco parte da própria segurança econômica do município. Outro fator importante é a pressão da população pela reabertura de atividades.
“Numa epidemia, nós não podemos nos guiar só pelo bom resultado de hoje, mas sempre pelo esforço de garantir o bom resultado de amanhã. É antipático, é ‘chato’? É! Mas é a realidade, e temos que ser adultos para ver, que nem sempre a realidade é do jeito que a gente gostaria”, finalizou.
Restrições no Sul de Minas
Além de Poços de Caldas, outros municípios do Sul de Minas restringiram o funcionamento de bares, restaurantes e comércio. Em Três Corações (MG), os comerciantes protestaram após a prefeitura divulgar as medidas restritivas.
A medida aconteceu após o Hospital São Sebastião atingir 100% de ocupação nos leitos de UTI exclusivos para a Covid-19 no município. A deliberação proibiu a abertura de restaurantes para atendimento ao público, a realização de eventos, funcionamento de cinemas, parques de diversões e clubes. Além da abertura e visitação de pontos turísticos e a prática de esportes coletivos.
Em Varginha (MG), a prefeitura prorrogou o estado de emergência na saúde pública por mais 60 dias a partir de 1º de janeiro, mas não aumentou a restrição do funcionamento de atividades consideradas de risco. Com isso, ficam mantidos os decretos relacionados à Covid-19 que já estavam em vigor, assim como as normas sanitárias estabelecidas para os setores da economia autorizados a funcionar.
Guaxupé (MG) e Passos (MG) proibiram festas, eventos, shows e confraternizações até o dia 4 de janeiro. Já em Itajubá (MG), a prefeitura proibiu o entretenimento em bares, restaurantes e similares. De acordo com as normas, os estabelecimentos deverão funcionar restritamente das 6h às 23h59. Após este horário, deverá ser impedida a entrada e o atendimento a novos clientes.
A Prefeitura de Cássia (MG) decidiu cancelar a queima de fogos de réveillon. Segundo a prefeitura, a medida acontece devido ao crescente número de casos positivos da Covid-19 na cidade e após o falecimento do pai do prefeito eleito, Reminho, José Rodrigues Pinto, devido a um enfisema pulmonar.
Covid-19 no Sul de Minas
A macrorregião Sul, que compreende a maior parte dos municípios do Sul de Minas, retornou para a onda amarela do Programa Minas Consciente do Governo de Minas Gerais nesta quarta-feira (30). A macrorregião havia regredido para a onda vermelha no dia 23 de dezembro.
Também nesta quarta-feira (30), a região registrou o maior número de casos de Covid-19 em apenas um dia, desde o início da pandemia. Ao todo, foram mais 17 mortes e outros 767 casos confirmados pela Secretaria de Estado de Saúde.
Com os novos casos, o Sul de Minas possui 52.907 registros da doença, com 1.236 mortes.
Fonte: G1 Sul de Minas