Médico receita isolamento individual contra o coranavírus em Minas

Pesquisador da USP sugere afastamento de pessoas com sintomas gripais, inclusive do convívio familiar, com apoio do poder público, para reforçar medidas de combate à doença




As medidas tomadas até o momento em Minas Gerais para controlar a epidemia da COVID-19 retardaram a doença, mas a sensação de que a propagação do novo coronavírus (Sars-CoV-2) está domada é ilusória. Mesmo com o estado tendo um bom desempenho no que se refere à escalada da doença – entre os estados, está na 13ª posição no total de vezes em que o número de registros de casos em um dia dobrou em relação ao anterior e na 12ª na duplicação de mortes em igual período (veja mapas) –, é preciso fazer mais para conter o avanço da enfermidade. Uma das saídas seria a implantação de isolamentos individuais para pessoas com sintomas de gripe, quarentena de casos confirmados e de pessoas que tiveram contato com tais pacientes, ainda que isso seja determinado pelo poder público. A avaliação é do médico Márcio Sommer Bittencourt, pesquisador do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital da Universidade de São Paulo (USP) e professor da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, especialista que é referência em estudos para a contenção do vírus.
Ações do governo e das prefeituras colaboraram para esse retardamento da COVID-19, segundo análise do pesquisador, mas a abertura sem medidas muito instrutivas para a população e até rígidas, como quarentenas e isolamentos individuais, pode fazer com que o mal se propague rapidamente. “As políticas de governo e a intensidade do isolamento que a população praticou desaceleraram a doença. O problema é que se atenua a curva (de progressão da epidemia) sem acabar com a enfermidade. Podemos dizer que Minas está numa fase mais precoce, mas não em descenso ou redução controlada”, define.


O especialista propõe uma ação rígida que depende da coordenação do governador e prefeitos. “O que Minas Gerais e muitos outros estados fizeram até agora foi um distanciamento físico da sociedade. É útil, mas não resolve, pois uma pessoa que está com sintomas, ao se isolar em casa, transmite o vírus para a família. Muitos familiares estarão infectados, mas assintomáticos. Essas pessoas vão circular em algum momento, transmitindo o vírus para mais pessoas. O isolamento de quem tem sintomas gripais tem de ser individual. Sozinho num quarto, longe da família até que o prazo de contágio passe”, afirma.


Pessoas transmitem a doença de cinco a 14 dias depois dos primeiros sintomas, mas segundo o especialista, a média de nove dias cerca a maioria dos casos, pois após esse período a carga viral é muito pequena. Com isso, o isolamento individual por 10 dias barraria a COVID-19 naqueles casos suspeitos, mas não diagnosticados.


Em comunidades carentes, seria preciso auxílio público, com fornecimento de atestado médico de 10 dias para o afastamento da pessoa com sintomas suspeitos e até a definição de locais para albergar quem não tem condições. Os casos positivos não hospitalizados teriam indicação de quarentena imediata em casa ou em local providenciado pelo governo, cabendo também ao poder público iniciar uma criteriosa busca por pessoas que tiveram contato com o paciente, para que sejam submetidas ao isolamento individual. “É preciso fazer como na Coreia, onde vemos que há muitos testes, mas que também se buscavam as conexões feitas pelos infectados. Num mundo ideal, o governo teria de ir atrás de todas essas pessoas, acompanhando-as depois no isolamento, em casa, por telefone e aplicativos”.


Procurada, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais informou que tais medidas cabem às prefeituras. “Esta modalidade de acompanhamento, ou seja, em relação a familiares e contatos do paciente com suspeita ou confirmação de COVID-19, é realizada pelos municípios. Quando se trata de município com menor densidade populacional e capacidade econômica, a SES-MG presta apoio técnico a essa atividade, por meio das regionais de Saúde”.


Fonte: Estado de Minas