Família desvenda mistério de baús antigos com marcas de suástica no Sul de Minas

Baús foram encontrados em sítio de Andradas (MG). Historiadores apostam em versão que não liga os objetos aos nazismo.



Um sítio em Andradas (MG) guardou um mistério durante anos. Uma família que comprou a propriedade já mobiliada em 2005 encontrou dois baús antigos com marcas de suástica, símbolo que ficou conhecido por conta do nazismo. Mas, para historiadores, os baús do Sul de Minas não têm nenhuma ligação com a história alemã.

O detalhe da suátisca foi uma surpresa. Dois anos após a compra do sítio, a família de Polyana decidiu reformar os baús. Primeiro, foram envernizados. Depois, veio a troca dos forros, que revelou os carimbos de uma suástica em vermelho.

“Nós compramos o sítio com tudo que tinha dentro. Os meus pais compraram, deixaram os móveis, os objetos mais antigos, que minha mãe sempre gostou de coisas mais antigos. E tinha esses dois baús que minha mãe desde a primeira vez se apaixonou por eles”, contou a estudante Polyana Dias Bottos.

A primeira ideia era de que se tratava de um baú nazista, já que o movimento usava a suástica como símbolo. A família também encontrou as iniciais “A” e “C”. Na parte de trás, uma assinatura acompanhada do ano de 1931.

“Quando eu os vi de primeira, já me apaixonei. Eles estão comigo há mais de 14 anos. Quando vi a suástica, foi espanto. Você não espera que tenha um símbolo tão importante”, explicou a mãe de Polyana, Rosemeire Dias.

Na vizinhança, uma das referências é o seu Maé, que mora há 50 anos na região. Ele conta que na década de 1980, um alemão morava no sítio. “Alemão, sotaque alemão e tudo. Morava ele, a mulher e o genro dele e filha”, detalha Ismael Nogueira.

Maé conta ainda que o amigo se mudou com a família para interior de São Paulo. Ele lembra que o vizinho contava histórias da Alemanha, mas nunca o ouviu falar do nazismo.

Criado após o final da Primeira Guerra Mundial, o partida nazista teve como principal liderança Adolf Hitler, que chegou ao poder em 1934. Hitler afirmava existir uma raça superior, os “arianos”. Passou a exterminar judeus e outros povos em campos de concentração.

“Ao todo, mais de seis milhões de judeus e outros povos foram exterminados neste mais de seis anos de matança desenfreada provocada pelo nazismo”, contou o historiador Ricardo Souza.

Com a derrota da Alemanha após o fim da Segunda Guerra Mundial, vários nazistas fugiram do país. A América do Sul foi um dos destinos escolhidos.

Josef Mengele foi um dos nazistas mais procurados do mundo, conhecido como anjo da morte por ser apontado como responsável de milhares de mortes de judeus no campo de concentração de Auschwitz, na Polônia. Ele passou por vários países até chegar ao Brasil em 1960.

Antes de morrer, em 1979, no litoral de São Paulo, o médico morou em Serra Negra, cidade no interior paulista que fica a menos de 100 quilômetros de Andradas.

A dúvida é se algum nazista teria se escondido no Sul de Minas. “Se realmente passou por aqui, tudo mais, é um segredo muito bem guardado. Pode até ter convivido com a gente e ninguém está sabendo quem. Tudo pode”, conta a pesquisadora Nilza Alves de Pontes Marques.

Nilza já catalogou mais de 500 famílias de imigrantes italianos em Andradas. Também já relatou a criação de um partido fascista na cidade. Os estudos revelam ainda que Andradas recebeu pelo menos sete famílias de imigrantes alemães.

“São famílias que ainda estão por aqui, tem descendentes ainda. Não tem nenhuma ligação com a história nazista”.


A suástica em Andradas


O principal símbolo do nazismo, a suástica, é milenar. Surgiu muito antes de Hitler. Suástica vêm do sânscrito e significa bem estar.

“A suástica é um símbolo universal e que provavelmente tem origem lá na Índia. Mas o mundo clássico utilizou demais. Então ela se espalhou por esse mundo mais europeu. Ele foi absorvido por toda sociedade como um símbolo de sol, de renascimento”, explicou o pesquisador Antônio Carlos Rodrigues Lorette.


Em 1913, uma multinacional do setor petroleiro desembarcou no Brasil. A marca da empresa era a suástica. E é onde parte da história de Andradas começa a ser desvendada.

A empresa vendia querosene e gasolina. Em propagandas da época, é possível ver que ela transportava os produtos em caixas.

Dentro de um dos baús encontrados no sítio, é possível ver a inscrição da empresa. Para o professor, fica claro que os baús eram caixas usadas pela multinacional.

“Essa caixa que era comum na época para conduzir esses galões de petróleo, que também era utilizada nos tanques das bombas de rua, tinha impresso esse símbolo”, detalha Antônio.

Outro detalhe que prova que os baús de Andradas não têm ligação com o nazismo é que a suástica nazista é representada em preto, com as hastes viradas para a direita em sentido horário e ligeiramente inclinada.

“Eles [da empresa] colocavam o símbolo até com diferenciação de cores. Se não era vermelho, era azul, pra tentar identificar que tipo de combustível. Havia uma complexidade de marketing incrível. O uso do símbolo até de uma forma mais profissional na época, isso na década de 1920. Mas em 1933, que é a época do movimento nazista, a empresa decide trocar o símbolo”.

Com a revelação de que a marca não é nazista após mais de uma década, a dona dos baús, Rosemeire, ficou surpresa. “Quando a gente vê uma imagem dessa, a primeira impressão é que é um baú nazista, a vida toda achei que era. Pra todo mundo que queria tanto saber sobre ele, está aí a resposta”, celebra.

O mistério continua, já que a família não sabe a quem os baús pertenceram.

Fonte: G1 Sul de Minas