Crise financeira atinge municípios em cheio e faz carnaval ficar 'de lado' no Sul de Minas

Prefeituras de pelo menos quatro cidades já cancelaram a festa neste ano devido à falta de recursos.



A crise financeira que atinge o Estado de Minas Gerais afetou em cheio uma das festas populares mais tradicionais do país. Com o atraso de repasses que ultrapassam os R$ 600 milhões para municípios do Sul de Minas, várias cidades da região já anunciaram que não haverá comemorações do carnaval em 2019 financiadas com dinheiro público.

Na semana passada, a Prefeitura de Três Corações anunciou a suspensão da festa. Em nota, a prefeitura disse que a verba que seria destinada ao carnaval será revertida para a compra de uniformes para alunos da rede municipal.

Além de Três Corações, Guaxupé, Lavras e Andradas já tinham tomado a mesma medida. Em Andradas, as comemorações do aniversário da cidade, no dia 22 de fevereiro, também foram canceladas.

Sem desfiles e com menos blocos em Poços

Em Poços de Caldas, dois dos blocos mais tradicionais do carnaval na cidade anunciaram que não irão às ruas no evento deste ano. A organização dos blocos "Em Cima da Hora" e "Tok Toa Toa" alegaram falta de apoio e incentivo do poder público.

Na cidade, o desfile das escolas de samba foram suspensos há 3 anos depois que a prefeitura deixou de repassar verbas para as escolas por falta de prestação de contas da Associação das Escolas de Samba e Blocos.

Sobre os desfiles que estão suspensos há três anos, a prefeitura afirma que a principal questão ainda é o problema na prestação de contas da Associação das Escolas de Samba e Blocos. Em relação ao carnaval de 2019, a prefeitura alega falta de verbas.

Festas mais acanhadas

Em São Lourenço, onde desfila o tradicional "Bloco do Pijama", a festa vai acontecer normalmente, mas de forma mais acanhada. Segundo a assessoria de comunicação da prefeitura, os custos tiveram que ser reduzidos, com menos atrações e prioridade para apresentação de artistas locais. A rede hoteleira já está com quase 100% de ocupação.

Em Varginha, o tradicional "Banho da Dorotéia" está confirmado para acontecer no dia 23 de fevereiro, das 16h às 23h, em frente à Concha Acústica. Segundo o secretário de Turismo, Barry Charles Sobrinho, a opção de se realizar um pré-carnaval pelo terceiro ano consecutivo já é por si só uma medida de economia.

"Na realidade o Banho da Dorotéia já é um corte de custos, porque o ideal mesmo, a vontade do município era de realizar um carnaval, então como fica muito caro realizar um carnaval de quatro, cinco noites, a ideia foi de realizar um pré-carnaval até por esse motivo, de economia. Fica muito mais em conta você fazer um pré-carnaval, em uma data anterior ao carnaval, o custo das atrações é mais barato, do som, de todos os fornecedores, e é um dia só", disse o secretário por telefone ao G1.

Com menos dinheiro nos caixas das prefeituras, os foliões que não quiserem ficar sem pular carnaval em algumas cidades terão que abrir o bolso para comprar abadás de blocos particulares. Em Poços de Caldas, por exemplo, o Bloco das Misses espera que 450 foliões participem do desfile neste ano.

“A gente nunca dependeu de apoio do órgão público. Então, a gente vende os nossos abadás, mandamos fazer vários desde o primeiro ano, este é o nosso terceiro ano. É com a venda dos abadás que a gente consegue colocar o bloco na rua”, disse a madrinha do bloco, Sônia Junqueira, para o EPTV 1.


Tendência com a crise

Para o contador e professor de contabilidade pública e orçamento da Universidade Federal de Alfenas (Unifal), Cláudio Alberto Caríssimo, o cancelamento de festas como o carnaval, com recursos públicos, é efeito direto da queda de arrecadação dos municípios.

"O Brasil vive esse aumento de crise ainda. Caiu a arrecadação, tanto a nível federal, quanto estadual. Em função (da dívida), as prefeituras estão com caixa bem menor, elas têm despesas que são obrigatórias, inclusive tem até percentuais constitucionais e outras despesas que não são obrigatórias e elas acabam sendo preteridas, como neste caso", diz o professor.

Para o professor, o problema é ainda mais grave para aqueles municípios que dependem quase que exclusivamente dos repasses federais e estaduais.

"Os municípios têm uma arrecadação própria muito baixa. Aqueles que têm um esforço de arrecadação maior, com IPTU, ISS, uma taxa de coleta de lixo, nesses municípios que fazem esse esforço, a dificuldade é menor, ao passo que outros municípios são completamente dependentes da transferência do Estado e da União, e aí ficam com essa situação de caixa complicado, principalmente quando tem atraso, que é o que está acontecendo em Minas Gerais", explica o professor.

No entanto, o professor acredita que cortes como as verbas para o carnaval, sejam medidas momentâneas e que poderão retornar à normalidade no futuro.

"Acredito eu que, retomando a economia, voltando a arrecadação aos patamares que eram antes, acredito eu que voltarão esses gastos, porque o pessoal (prefeituras) têm que cortar de algum lugar. O município não pode deixar de gastar com educação, saúde. A cultura é importante, mas é aquela história: os municípios precisam se adaptar, os cidadãos terão que se adaptar, buscar outras formas de se divertirem", diz o professor.


Fonte: G1 Sul de Minas