Ivan Prado, de 25 anos, mora em Poços de Caldas (MG) e foi único mineiro selecionado para intercâmbio profissional.
O sonho de ser engenheiro em uma grande empresa estatal era o projeto de vida do jovem Ivan Prado, de 25 anos, assim que percebeu que era hora de entrar na faculdade. Apaixonado por química, decidiu começar o curso de Engenharia Química na Universidade Federal de Alfenas (MG), no campus de Poços de Caldas (MG). A cidade é sua moradia desde os 8 anos, quando saiu de Paraguaçu, outra cidade do Sul de Minas.
Com uma carreira que parecia certa, Ivan surpreendeu os amigos e a família quando anunciou que iria trancar a faculdade.
“Antes de começar o curso, eu era uma pessoa extremamente tímida, tinha aspirações comuns. E pra mim estava tudo bem. Até que percebi que a engenharia não me realizava, não me deixava feliz. Me lembro do pessoal me perguntar se eu estava louco de largar a engenharia para começar um negócio novo ‘do nada’”.
O tal negócio era empreender, criar a própria empresa e trabalhar com projetos. A vontade era trabalhar com desenvolvimento de pessoas, paixão que surgiu durante um intercâmbio na Alemanha, quando ainda estava na faculdade. No exterior, estudou matérias como gestão da mudança e comunicação intercultural.
“Assim que tranquei a faculdade, comecei a estudar mais sobre gestão de pessoas e a dar cursos de oratória, gestão de tempo e autoconhecimento. Foi quando abri minha empresa”.
A “Caos Heróico” foi o primeiro empreendimento de Ivan, que abriu seu negócio como micro empreendedor individual para oferecer seus cursos a empresas e pessoas.
A vida começou a mudar quando o jovem foi convidado para uma palestra no presídio de Alfenas. Ao ter a primeira experiência dentro de uma prisão, Ivan percebeu que havia mais a ser feito no local e criou o projeto “Liber: desencadeando potenciais”.
“A intenção do projeto é fazer atividades com agentes e servidores para mudar a imagem que eles têm de repressores e torná-los educadores. Quero que eles entendam que têm o papel de ajudar o detento a sair dali como uma pessoa melhor e voltar para a sociedade. Fizemos treinamentos de comunicação, conflitos e surgiu efeito positivo, o trabalho fluiu melhor”.
Era preciso, a partir de então, começar a medir os impactos desse projeto na vida daquelas pessoas. Foi quando o jovem soube de um evento que iria reunir empreendedores nos Estados Unidos. Ele, então, se candidatou para o programa de bolsas de estudo profissional da Iniciativa Jovens Líderes das Américas (YLAI) 2017.
Entre milhares de inscritos, o nome de Ivan apareceu entre os 250 jovens líderes de 36 países da América Latina e Caribe selecionados para o evento. Foi o único morador de Minas Gerais selecionado.
O evento
Embaixadores dos Estados Unidos escolheram os empreendimentos sociais que se encaixavam para participar do evento. Entre 3 de outubro e 9 de novembro, Ivan e seus colegas selecionados terão treinamentos de liderança e empreendedorismo e quatro semanas de estágio em empresas.
“O mais interessante é que vou trabalhar em uma empresa focada no meu projeto. Vou poder aprender novos processos pra fazer meu projeto no presídio de Alfenas crescer ainda mais”.
O evento começa com uma conferência em Atlanta, na Geórgia. Depois dos treinamentos e estágio, o programa terá uma reunião para capacitação de lideranças em Washington.
A intenção é também criar um suporte permanente aos jovens empreendedores e uma rede de contatos que fortaleça os negócios entre Brasil e EUA.
Os projetos selecionados estão engajados em áreas como educação, empoderamento feminino, turismo, soluções financeiras sustentáveis, projetos habitacionais para pessoas de baixa renda, entre outros.
Ivan viajou na última segunda-feira (2) aos Estados Unidos. "As expectativas são as melhores. É um programa completo e tem muita gente trabalhando para fazer dar certo. Fomos totalmente financiados pelo governo dos EUA com passagem, hotel e alimentação. Tudo pra gente se manter focado em fazer contatos e desenvolver projetos".
Sobre apostar nos sonhos
A mudança nos caminhos fez Ivan aprender sobre tentativas e novos rumos de carreira. Apesar de não ter concluído a primeira graduação, decidiu voltar ao ambiente acadêmico, agora para o curso de Administração.
"Vi que a faculdade é muito mais que diploma ou aulas. Ela me trouxe oportunidades, contatos e novas redes. Hoje, eu vejo que trabalhar com pessoas é poder trazer oportunidades a elas. A ideia é fazer isso, ajudar com uma pergunta, uma palavra ou ensinamento para que cada um encontre sua jornada".
As mudanças nas relações com o trabalho e com as funções fez Ivan se arriscar e ser um empreendedor.
"Se você pesquisar um pouco sobre o futuro do trabalho, alguns especialistas dizem que mais da metade dos empregos atuais não vão existir, muito será automatizado. Mas isso não é exatamente negativo. Isso vai trazer para as pessoas a oportunidade de experimentar".
Parte de uma geração que se sente confusa em busca de carreiras e sonhos, Ivan acredita que não há uma fórmula perfeita para encontrar uma profissão. A dica está nas tentativas.
"Muita coisa vai dar errado. Mas você vai experimentando, vendo quem você é, e a partir dessa experimentação a gente vai achando o que é melhor", explica.
"Quando comecei lá atrás, nunca pensei que eu conseguiria pagar as minhas contas dando treinamentos. Hoje, estou nos Estados Unidos com tudo pago porque acreditei nisso há um ano e meio atrás. Ainda tenho um longo caminho pela frente, mas está começando a dar certo. E se no futuro não der mais, a gente muda de área e experimenta de novo".
Fonte: G1 Sul de Minas