Cerca de 40 mil pessoas são esperadas nos dois blocos mais famosos.
Em Santa Rita do Sapucaí, movimentação estimada é de R$ 25 milhões.
Em Santa Rita do Sapucaí, movimentação estimada é de R$ 25 milhões.
Daniela AyresDo G1 Sul de Minas
A fama conquistada por blocos de carnaval organizados em espaços fechados, ao estilo das micaretas, se tornou uma marca da festa no Sul de Minas e uma fonte de renda para muitos empreendedores. Neste ano, só os dois blocos mais populares da região, o Bloco do Urso, em Santa Rita do Sapucaí (MG), e Vermes e Cia, em Muzambinho (MG), devem atrair cerca de 40 mil pessoas durante os quatro dias de folia- um filão para quem busca diversificar os negócios ou ter uma renda extra.
O impacto das festas no orçamento dos municípios ainda não é calculado pelas prefeituras e associações comerciais, mas apenas em Santa Rita do Sapucaí a organização responsável pelo evento carnavalesco calcula em R$ 22 milhões o valor movimentado na cidade em 2016. Para este ano, o montante deve chegar a R$ 25 milhões.
Os blocos que hoje atraem tanto público e dinheiro para a região começaram como pequenas organizações carnavalescas de rua no final dos anos 1990, em geral unindo grupos de 15 a 20 pessoas. Com o tempo, esses blocos cresceram, consolidaram uma marca e passaram a oferecer shows com artistas em destaque no cenário nacional. Se há oito anos, o ponto de encontro para esse tipo de festa era a rua, agora uma verdadeira arena é montada em terreno próprio. Para um dos blocos da região, o espaço adquirido tem 72 mil metros quadrados de área.
Hotéis lotados
Prestadores de serviços em geral e empresas são os principais beneficiários dessa renda, que alcança até quem não vive de investimentos, mas possui um imóvel. Com quatro hotéis e uma pousada, conforme levantamento da prefeitura, o turista que chega a Santa Rita do Sapucaí tem poucas opções de hospedagem na cidade.
Situação semelhante vive quem vai para Muzambinho- tanto que um site foi criado no município para aproximar visitantes dos moradores com casa para alugar e das 300 hospedagens disponibilizadas, metade já estava negociada até o começo da semana.
Mas a demanda é tão grande que sobram clientes até para as cidades vizinhas. Em Pouso Alegre (MG), a 22 Km de Santa Rita do Sapucaí, toda a rede hoteleira está reservada há meses para os foliões. São pelo menos 2,5 mil leitos ocupados até a próxima terça-feira (28).
"Já tem as empresas que fazem reserva dos quartos para essa época com três ou quatro meses de antecedência. No carnaval, por causa dos blocos, é difícil encontrar vaga em hotel. Pode pesquisar", desafia Juliana Carvalho Pereira, recepcionista de um hotel no Centro que tem 80 apartamentos e deve receber em torno de 300 pessoas durante o carnaval. Levando os foliões para casa
Atentos a toda essa movimentação, o estudante de engenharia da computação Bruno de Oliveira Toledo, de 22 anos, e outros dois sócios resolveram apostar no setor de transporte como modelo de negócio nos dias de folia. Na faculdade que frequentam, eles já haviam iniciado o desenvolvimento de um aplicativo que promete ser o "Tinder das caronas", mas agora a expectativa é expandir as possibilidades do empreendimento.
"Esse é o nosso primeiro 'insight' como sistema de mobilidade urbana", diz Toledo. "A nossa startup começou com o aplicativo de caronas, que ainda esta em fase de testes, e evoluiu para soluções em mobilidade urbana. Percebemos a dificuldade que o folião encontra em chegar ao local da festa com tranquilidade e segurança, muitas vezes tendo que estacionar longe por causa do número de veículos, então a gente criou alguns pontos de embarque, organizou o transporte disponível e as pessoas vão ser deixadas no nosso stand, dentro do espaço do bloco", conta.
Sediada em Santa Rita do Sapucaí, a startup vai oferecer transporte, por meio de algumas parcerias, entre o Centro e a Cidade do Urso, a 6,5 Km de distância. A capacidade de atendimento por viagem é estimada em 500 pessoas, com cinco pontos de embarque e desembarque. O pacote de ida e volta nos quatro dias sai por R$ 96.
"Como é uma experiência de negócio, o contato com o público não é feito por meio de um aplicativo. Criamos uma página da internet da nossa startup, a 'Hit the road', estamos fazendo as divulgações por lá. Enquanto eles [os foliões] se divertem, a gente leva para a casa", relata o estudante.
Setor de alimentos aposta em comida saudável
Até uma empresa que trabalha com produção e entrega de refeições saudáveis achou um jeito de aproveitar o mercado dos blocos no Sul de Minas.
"Nós oferecemos um 'spa' em casa, com opções de refeição desde o café da manhã até o jantar. Criamos pacotes de carnaval para quem quer estar bem, com um físico mais enxuto, com energia [para pular carnaval]. A gente oferece a semana detox, com todas as refeições sem glúten, lactose, carne vermelha e açúcar, dietas low carb [com alimentos de baixa caloria], vegana e líquida. E as pessoas ainda podem adquirir produtos avulsos, como lanches", explica a administradora e sócia da empresa que faz entregas em Santa Rita do Sapucaí e Pouso Alegre, Vanessa Mendes Forchito, de 33 anos.
Diversão com estilo
Já a empreendedora Edna Motta, de 29 anos, faz uma pausa de duas semanas na confecção artesanal de roupas de sua marca para se dedicar exclusivamente aos foliões há três anos. Com a profissionalização dos blocos, os abadás deixaram de ser apenas uma camiseta folgada que traz a marca de um determinado grupo e ganharam status de objeto de moda com as inúmeras possibilidades que a personalização do tecido oferece.
"Teve um abadá customizado que chegou a custar R$ 100. A crise, no carnaval, pula. Ano passado, eu senti uma queda nas vendas da coleção, mas no carnaval não tem crise", garante Edna.
No pequeno ateliê onde Edna desenvolve modelos de camisetas e blusas junto com a mãe, em Borda da Mata (MG), outras três pessoas se juntam nos dias que antecede a folia para abrir os abadás, costurar de novo, bordar e cuidar do acabamento. A mão de obra sai a R$ 25 por peça e os acessórios são escolhidos ou comprados pelos clientes.
"O abadá se tornou um investimento para o folião", observa a empreendedora. "Você sabe que hoje em dia o céu é o limite, mas as peças bordadas e com pedrarias são as mais pedidas. Os abadás com gipir [renda de linha ou seda com motivos em relevo, formando arabescos] também são uma tendência", conta.
Uma das clientes mais antigas de Edna, a farmacêutica Janaína Fernanda Pereira, de 32 anos, já providenciou a versão fashion da camiseta de bloco que usará neste ano. "É um investimento bacana, com preço bom. O trabalho é maravilhoso, que dá um diferencial no abadá. Às vezes abusamos um pouco mais [no gasto], como no meu abadá de 2016, com pedras lindas, mas vale o gosto", garante.
A fama conquistada por blocos de carnaval organizados em espaços fechados, ao estilo das micaretas, se tornou uma marca da festa no Sul de Minas e uma fonte de renda para muitos empreendedores. Neste ano, só os dois blocos mais populares da região, o Bloco do Urso, em Santa Rita do Sapucaí (MG), e Vermes e Cia, em Muzambinho (MG), devem atrair cerca de 40 mil pessoas durante os quatro dias de folia- um filão para quem busca diversificar os negócios ou ter uma renda extra.
O impacto das festas no orçamento dos municípios ainda não é calculado pelas prefeituras e associações comerciais, mas apenas em Santa Rita do Sapucaí a organização responsável pelo evento carnavalesco calcula em R$ 22 milhões o valor movimentado na cidade em 2016. Para este ano, o montante deve chegar a R$ 25 milhões.
Os blocos que hoje atraem tanto público e dinheiro para a região começaram como pequenas organizações carnavalescas de rua no final dos anos 1990, em geral unindo grupos de 15 a 20 pessoas. Com o tempo, esses blocos cresceram, consolidaram uma marca e passaram a oferecer shows com artistas em destaque no cenário nacional. Se há oito anos, o ponto de encontro para esse tipo de festa era a rua, agora uma verdadeira arena é montada em terreno próprio. Para um dos blocos da região, o espaço adquirido tem 72 mil metros quadrados de área.
Hotéis lotados
Prestadores de serviços em geral e empresas são os principais beneficiários dessa renda, que alcança até quem não vive de investimentos, mas possui um imóvel. Com quatro hotéis e uma pousada, conforme levantamento da prefeitura, o turista que chega a Santa Rita do Sapucaí tem poucas opções de hospedagem na cidade.
Situação semelhante vive quem vai para Muzambinho- tanto que um site foi criado no município para aproximar visitantes dos moradores com casa para alugar e das 300 hospedagens disponibilizadas, metade já estava negociada até o começo da semana.
Mas a demanda é tão grande que sobram clientes até para as cidades vizinhas. Em Pouso Alegre (MG), a 22 Km de Santa Rita do Sapucaí, toda a rede hoteleira está reservada há meses para os foliões. São pelo menos 2,5 mil leitos ocupados até a próxima terça-feira (28).
"Já tem as empresas que fazem reserva dos quartos para essa época com três ou quatro meses de antecedência. No carnaval, por causa dos blocos, é difícil encontrar vaga em hotel. Pode pesquisar", desafia Juliana Carvalho Pereira, recepcionista de um hotel no Centro que tem 80 apartamentos e deve receber em torno de 300 pessoas durante o carnaval. Levando os foliões para casa
Atentos a toda essa movimentação, o estudante de engenharia da computação Bruno de Oliveira Toledo, de 22 anos, e outros dois sócios resolveram apostar no setor de transporte como modelo de negócio nos dias de folia. Na faculdade que frequentam, eles já haviam iniciado o desenvolvimento de um aplicativo que promete ser o "Tinder das caronas", mas agora a expectativa é expandir as possibilidades do empreendimento.
"Esse é o nosso primeiro 'insight' como sistema de mobilidade urbana", diz Toledo. "A nossa startup começou com o aplicativo de caronas, que ainda esta em fase de testes, e evoluiu para soluções em mobilidade urbana. Percebemos a dificuldade que o folião encontra em chegar ao local da festa com tranquilidade e segurança, muitas vezes tendo que estacionar longe por causa do número de veículos, então a gente criou alguns pontos de embarque, organizou o transporte disponível e as pessoas vão ser deixadas no nosso stand, dentro do espaço do bloco", conta.
Sediada em Santa Rita do Sapucaí, a startup vai oferecer transporte, por meio de algumas parcerias, entre o Centro e a Cidade do Urso, a 6,5 Km de distância. A capacidade de atendimento por viagem é estimada em 500 pessoas, com cinco pontos de embarque e desembarque. O pacote de ida e volta nos quatro dias sai por R$ 96.
"Como é uma experiência de negócio, o contato com o público não é feito por meio de um aplicativo. Criamos uma página da internet da nossa startup, a 'Hit the road', estamos fazendo as divulgações por lá. Enquanto eles [os foliões] se divertem, a gente leva para a casa", relata o estudante.
Setor de alimentos aposta em comida saudável
Até uma empresa que trabalha com produção e entrega de refeições saudáveis achou um jeito de aproveitar o mercado dos blocos no Sul de Minas.
"Nós oferecemos um 'spa' em casa, com opções de refeição desde o café da manhã até o jantar. Criamos pacotes de carnaval para quem quer estar bem, com um físico mais enxuto, com energia [para pular carnaval]. A gente oferece a semana detox, com todas as refeições sem glúten, lactose, carne vermelha e açúcar, dietas low carb [com alimentos de baixa caloria], vegana e líquida. E as pessoas ainda podem adquirir produtos avulsos, como lanches", explica a administradora e sócia da empresa que faz entregas em Santa Rita do Sapucaí e Pouso Alegre, Vanessa Mendes Forchito, de 33 anos.
Diversão com estilo
Já a empreendedora Edna Motta, de 29 anos, faz uma pausa de duas semanas na confecção artesanal de roupas de sua marca para se dedicar exclusivamente aos foliões há três anos. Com a profissionalização dos blocos, os abadás deixaram de ser apenas uma camiseta folgada que traz a marca de um determinado grupo e ganharam status de objeto de moda com as inúmeras possibilidades que a personalização do tecido oferece.
"Teve um abadá customizado que chegou a custar R$ 100. A crise, no carnaval, pula. Ano passado, eu senti uma queda nas vendas da coleção, mas no carnaval não tem crise", garante Edna.
No pequeno ateliê onde Edna desenvolve modelos de camisetas e blusas junto com a mãe, em Borda da Mata (MG), outras três pessoas se juntam nos dias que antecede a folia para abrir os abadás, costurar de novo, bordar e cuidar do acabamento. A mão de obra sai a R$ 25 por peça e os acessórios são escolhidos ou comprados pelos clientes.
"O abadá se tornou um investimento para o folião", observa a empreendedora. "Você sabe que hoje em dia o céu é o limite, mas as peças bordadas e com pedrarias são as mais pedidas. Os abadás com gipir [renda de linha ou seda com motivos em relevo, formando arabescos] também são uma tendência", conta.
Uma das clientes mais antigas de Edna, a farmacêutica Janaína Fernanda Pereira, de 32 anos, já providenciou a versão fashion da camiseta de bloco que usará neste ano. "É um investimento bacana, com preço bom. O trabalho é maravilhoso, que dá um diferencial no abadá. Às vezes abusamos um pouco mais [no gasto], como no meu abadá de 2016, com pedras lindas, mas vale o gosto", garante.