Pesquisadores de Santa Rita do Sapucaí se uniram em torno de projeto.
O sonho de retorno às pescarias de um aposentado de Santa Rita do Sapucaí (MG) pode estar mais perto de se tornar realidade. Após um câncer que comprometeu parte do movimento do braço esquerdo, José Sebastião Carneiro, de 68 anos, passou a enfrentar limitações que o afastaram, inclusive, do passatempo preferido. Mas um projeto idealizado pelo filho, um tipo de braço biônico, permite que “seo” Zé da Guarda tenha de volta pelo menos parte da mobilidade perdida.
A órtese, nome dado a aparelhos de uso externo ao corpo, foi feita em conjunto com engenheiros de biomédica e computação do Instituto Nacional de Tecnologia (Inatel) e é formada, basicamente, por um suporte, um motor, eletrodos (como os usados em eletrocardiogramas) e sensores. O mecanismo transfere impulsos de movimento de áreas saudáveis para regiões que sofreram algum tipo de paralisia.
No caso de "seo" Zé da Guarda, os sensores captam a intenção de movimento do músculo da parte superior de seu braço, que não foi afetada pelo câncer, mas é incapaz de, sozinha, possibilitar que ele execute movimentos de erguer e abaixar com o antebraço.
Perda do cotovelo
Há cerca de 1 ano e meio, o aposentado apresentou um câncer na ulna, um dos dois ossos que formam o antebraço e cuja uma das extremidades dá o formato do cotovelo.
"Apareceu como um nódulo pequenininho bem aqui", aponta "seo" Zé para uma área próxima ao pulso. "Em 45 dias, virou um tumor de 650 gramas, que 'garrou' no osso. O médico teve que operar e achou melhor tirar. Fiquei sem cotovelo. Você olha e parece um braço normal. Eu falo que é um braço de enfeite. Serve para nada, mas pelo menos tive a sorte de ser no esquerdo", comenta em tom de brincadeira.
A "perda do cotovelo", que é como o santarritense se refere à retirada da ulna, comprometeu não só a articulação do braço, mas também da mão esquerda. Desde então, ele não consegue fazer atividades simples, como pegar objetos ou carregar uma toalha apoiada no antebraço, muito menos pescar.
"Conviver com a perda de uma parte do corpo nunca é legal, mas a gente convive, né?", diz "seo" Zé da Guarda. "Agora meu filho começou a fazer esse molde para o braço. Eu tô otimista. Ele e as meninas da equipe perguntaram o que eu mais queria voltar a fazer e eu disse que é pescar. Na vida, tem que ser bola pra frente, mas ficar sem minha pescaria é ruim de mais. Só preciso de dois dedos de volta para segurar a vara e puxar o peixe", conta, dando risada.
Uma ideia e muito apoio
Estudante de tecnologia em gestão de telecomunicação, Danilo Carneiro, de 28 anos, não imaginava há três anos, quando entrou no curso, que seu destino cruzaria com a área médica. "Não tem nada a ver com minha especialidade. Nada", diz o filho de "seo" Zé. "Mas eu queria muito ajudar meu pai, para que ele tivesse uma melhora na qualidade de vida. Foi então que eu conheci uma professora e resolvi contar qual era a minha ideia."
Engenheira da computação, Crishna Irion reuniu estudantes da sua área de formação e do curso de engenharia biomédica para colocar em prática a ideia do braço biônico do aposentado pescador de Santa Rita do Sapucaí. Foram oito meses de pesquisas e testes até se chegar ao protótipo apresentado nesta semana durante a Feira de Tecnologia do Inatel (Fetin), que temina nesta sexta-feira (28).
"Eu disse para o Danilo que, nem se fosse de bambu e elástico, nós iríamos fazer a órtese", lembra Crishna. "A intenção nossa não é vender nem ganhar prêmio, mas ajudar uma pessoa a se sentir melhor e mais feliz", garante a professora.
Todos pelo 'seo' Zé da Guarda
Da área de computação, a estudante de Maria da Fé (MG), Anna Gonçalves Miguel, de 25 anos, e a angolana de Luanda, Érica Necassi Axitação dos Santos, de 23, entraram com os conhecimentos em ferramentas e programas digitais e automação. A aluna de engenharia biomédica, Natali da Silva, de 25, levou para o projeto o domínio em desenvolver equipamentos de auxílio ao tratamento médico.
Um fisioterapeuta passou a acompanhar o aposentado para que ele e o braço mantenham a mobilidade e reduzir o risco de lesão com o uso da órtese. Um engenheiro biomédico formado também deu suporte na montagem do projeto.
"Como o 'seo' Zé ainda tem um osso do antebraço, o rádio, retomar parte do movimento dessa parte do corpo é possível", explica Natali. "O que a gente faz com a órtese é captar o estímulo de movimento que existe na parte de cima do braço e passar para a parte de baixo, o que permite que ele possa erguê-lo até 90° e abaixá-lo", conta.
"Colocamos sensores no braço dele e esses sensores é que captam o estímulo, que ativa o motor e permite que o antebraço se movimente", mostra Érica. "Vamos aperfeiçoar o equipamento para que ele fique menor e mais prático. Ele vai poder carregar em uma bolsa um motor menor. Para o protótipo, improvisamos com motor de vidro elétrico de carro e a órtese foi feita manualmente por um amigo nosso, que é engenheiro biomédico."
Anna, que se interessou pelo projeto justamente por ter uma irmã com movimentos limitados, conta que a experiência a deixou muito animada, pois nunca havia usado os conhecimentos em engenharia da computação para uma área que tem impacto direto sobre a saúde das pessoas. "Foi tudo o grande aprendizado. Tivemos que entender como o sensor funcionava, depois fazer as adaptações para as necessidades do 'seo' Zé", diz.
'Para mim, está 99,9% aprovado', garante aposentado
O paciente, carinhosamente apelidado de "fofinho" pela equipe, acompanhou todo o processo de amadurecimento do projeto, passou a fazer fisioterapia com maior regularidade, e aprovou o protótipo.
"Para mim está 99,9% pronto. Só falta ajustar melhor o molde, porque apertou um pouquinho aqui em cima", aponta para a região próxima do ombro. "A ideia começou com alguma pescaria e agora tem que ir até o fim", comemora.
O aposentado experimentou o protótipo da órtese pela primeira vez nesta quinta-feira (27). Para usá-la, os estudantes ainda precisam fazer ajustes para garantir o conforto e a segurança do novo amigo, o que pode levar cerca de três meses.
O filho de 'seo' Zé da Guarda já faz novos planos. "Com a minha formação, eu não teria como colocar em prática a ideia de ajudar meu pai. Comigo, era só uma ideia. Com a ajuda da equipe, virou uma oportunidade de ver meu pai mais feliz. Isso é fantástico! Agora a gente já pensa em fazer uma órtese para mão", revela.
"Conviver com a perda de uma parte do corpo nunca é legal, mas a gente convive, né?", diz "seo" Zé da Guarda. "Agora meu filho começou a fazer esse molde para o braço. Eu tô otimista. Ele e as meninas da equipe perguntaram o que eu mais queria voltar a fazer e eu disse que é pescar. Na vida, tem que ser bola pra frente, mas ficar sem minha pescaria é ruim de mais. Só preciso de dois dedos de volta para segurar a vara e puxar o peixe", conta, dando risada.
Uma ideia e muito apoio
Estudante de tecnologia em gestão de telecomunicação, Danilo Carneiro, de 28 anos, não imaginava há três anos, quando entrou no curso, que seu destino cruzaria com a área médica. "Não tem nada a ver com minha especialidade. Nada", diz o filho de "seo" Zé. "Mas eu queria muito ajudar meu pai, para que ele tivesse uma melhora na qualidade de vida. Foi então que eu conheci uma professora e resolvi contar qual era a minha ideia."
Engenheira da computação, Crishna Irion reuniu estudantes da sua área de formação e do curso de engenharia biomédica para colocar em prática a ideia do braço biônico do aposentado pescador de Santa Rita do Sapucaí. Foram oito meses de pesquisas e testes até se chegar ao protótipo apresentado nesta semana durante a Feira de Tecnologia do Inatel (Fetin), que temina nesta sexta-feira (28).
"Eu disse para o Danilo que, nem se fosse de bambu e elástico, nós iríamos fazer a órtese", lembra Crishna. "A intenção nossa não é vender nem ganhar prêmio, mas ajudar uma pessoa a se sentir melhor e mais feliz", garante a professora.
Todos pelo 'seo' Zé da Guarda
Da área de computação, a estudante de Maria da Fé (MG), Anna Gonçalves Miguel, de 25 anos, e a angolana de Luanda, Érica Necassi Axitação dos Santos, de 23, entraram com os conhecimentos em ferramentas e programas digitais e automação. A aluna de engenharia biomédica, Natali da Silva, de 25, levou para o projeto o domínio em desenvolver equipamentos de auxílio ao tratamento médico.
Um fisioterapeuta passou a acompanhar o aposentado para que ele e o braço mantenham a mobilidade e reduzir o risco de lesão com o uso da órtese. Um engenheiro biomédico formado também deu suporte na montagem do projeto.
"Como o 'seo' Zé ainda tem um osso do antebraço, o rádio, retomar parte do movimento dessa parte do corpo é possível", explica Natali. "O que a gente faz com a órtese é captar o estímulo de movimento que existe na parte de cima do braço e passar para a parte de baixo, o que permite que ele possa erguê-lo até 90° e abaixá-lo", conta.
"Colocamos sensores no braço dele e esses sensores é que captam o estímulo, que ativa o motor e permite que o antebraço se movimente", mostra Érica. "Vamos aperfeiçoar o equipamento para que ele fique menor e mais prático. Ele vai poder carregar em uma bolsa um motor menor. Para o protótipo, improvisamos com motor de vidro elétrico de carro e a órtese foi feita manualmente por um amigo nosso, que é engenheiro biomédico."
Anna, que se interessou pelo projeto justamente por ter uma irmã com movimentos limitados, conta que a experiência a deixou muito animada, pois nunca havia usado os conhecimentos em engenharia da computação para uma área que tem impacto direto sobre a saúde das pessoas. "Foi tudo o grande aprendizado. Tivemos que entender como o sensor funcionava, depois fazer as adaptações para as necessidades do 'seo' Zé", diz.
'Para mim, está 99,9% aprovado', garante aposentado
O paciente, carinhosamente apelidado de "fofinho" pela equipe, acompanhou todo o processo de amadurecimento do projeto, passou a fazer fisioterapia com maior regularidade, e aprovou o protótipo.
"Para mim está 99,9% pronto. Só falta ajustar melhor o molde, porque apertou um pouquinho aqui em cima", aponta para a região próxima do ombro. "A ideia começou com alguma pescaria e agora tem que ir até o fim", comemora.
O aposentado experimentou o protótipo da órtese pela primeira vez nesta quinta-feira (27). Para usá-la, os estudantes ainda precisam fazer ajustes para garantir o conforto e a segurança do novo amigo, o que pode levar cerca de três meses.
O filho de 'seo' Zé da Guarda já faz novos planos. "Com a minha formação, eu não teria como colocar em prática a ideia de ajudar meu pai. Comigo, era só uma ideia. Com a ajuda da equipe, virou uma oportunidade de ver meu pai mais feliz. Isso é fantástico! Agora a gente já pensa em fazer uma órtese para mão", revela.
Fonte: G1 Sul de Minas