Pesquisas em Andrelândia indicam a existência de novo distrito espeleológico no Sul de MG

Mais de uma dezena de cavernas e sumidouros foram registrados em afloramento quartzítico.


Uma expedição formada por membros do Núcleo de Pesquisas Arqueológicas do Alto Rio Grande (NPA) e da Sociedade Carioca de Pesquisas Espeleológicas (SPEC) visitou e documentou um importante conjunto de cavernas em quartzito em Andrelândia, no sul de Minas Gerais, no dia 02 de maio de 2015. O conjunto, formado por várias cavernas, sumidouros e outras feições exocársticas, é tão significativo que recebeu o nome de Distrito Espeleológico do Mato Grande. O afloramento quartzítico, ao que tudo indica, ocupa uma área abrangente ao longo da bacia do Rio Turvo Grande e está associado à Província Espeleológica Quartzítica de Andrelândia. A SPEC está providenciando o cadastro das ocorrências espeleológicas junto à Sociedade Brasileira de Espeleologia, para fins de difusão científica.

A expedição foi guiada por Jairo Gilmar, profundo conhecedor da região, e composta por 3 membros do NPA e 3 da SPEC. Foram registrados 07 sumidouros e 06 grutas, a maioria delas com várias dezenas de metros de extensão visitável e zonas afóticas, onde a luz natural não chega.

Algumas das cavidades apresentam pequenos espeleotemas característicos das cavernas em quartzito. Essas pequenas e frágeis formações podem levar centenas ou milhares de anos para se desenvolverem e, se não são espetaculares como as que surgem nas cavernas calcáreas, também são importantes: “Os espeleotemas guardam parte da história do desenvolvimento de uma cavidade natural e das transformações que aquele ambiente sofreu”, ensina Heitor Cintra, professor de Engenharia Ambiental e coordenador da SPEC.

Em apenas algumas horas de pesquisa foram encontradas duas espécies de morcegos, duas de batráquios, opiliões, aranhas e grilos especializados nos ambientes cavernícolas. Segundo Luana Isaías, biomédica e membro da SPEC, a fauna dessas grutas pode ser considerada rica quando comparada à de outros distritos espeleológicos similares.

As cavernas são úmidas, com presença constante de água ou mesmo de enxurradas durante o período chuvoso. As suas paredes são frágeis e sujeitas a esfarelamento e desabamentos frequentes. Segundo Gilberto Azevedo (engenheiro) e Carlos Eduardo Miranda (historiador), ambos do NPA, essas condições tornam remota a possibilidade de serem encontrados indícios arqueológicos pré-históricos, incluindo pinturas rupestres. Eventuais vestígios de ocupações antigas teriam sido destruídos pela umidade, arrastados pelas enxurradas ou cobertos pela areia quartzítica ou por desabamentos. Por outro lado, Marcos Paulo Miranda, também do NPA, destaca que essas mesmas características tornam as cavernas importantíssimas para a recarga dos aquíferos da região. A água das chuvas é conduzida para as cavernas e absorvida pelo solo arenoso, em direção ao lençol freático, de onde é liberada lentamente ao longo do ano. Em uma das cavernas, por exemplo, foram encontradas duas ressurgências e uma nascente. Toda a rede de drenagem está direcionada ao Rio Turvo Grande, integrante da Bacia do Alto Rio Grande, que é considerada como de preservação permanente pela legislação estadual. Isto aumenta a importância da preservação das cavernas e de suas áreas de influência, pois elas estão diretamente ligadas à qualidade e quantidade da água.

Andréa Ferreira, engenheira ambiental e membro da SPEC, alerta que essas cavernas são ambientalmente importantes, porém muito frágeis. Ela destaca que, além da investigação geológica, geomorfológica e mineralógica, também os valores paisagísticos, os recursos hídricos, a presença de espécies endêmicas ou ameaçadas de extinção, a diversidade biológica e a relevância socioeconômica devem ser avaliados para abertura de cavernas para visitação. E, como ela ressalta, “a visitação deve sempre ser feita com acompanhamento e orientação adequados para evitar danos ambientais e riscos para os visitantes”. Felizmente, esse fantástico patrimônio espeleológico está em ótimas mãos: o senhor “João Japonês”, proprietário da Fazenda Juca Abel onde as cavernas estão situadas, é um entusiasta da sua preservação e está tomando diversas medidas para evitar a degradação da área e recuperá-la das agressões passadas. Com a devida orientação, suporte e controle, o Distrito Espeleológico do Mato Grande poderá ser integrado com sucesso a circuitos de ecoturismo e de educação ambiental do Sul de Minas.



GLOSSÁRIO ESPELEOLÓGICO

Espeleologia – área da ciência dedicada ao estudo das cavernas, sua origem e evolução, do seu meio físico, de seu povoamento biológico atual ou passado, bem como dos meios ou técnicas que são próprios ao seu estudo.

Espeleotemas - deposições minerais em cavidades naturais subterrâneas que se formam por processos químicos, como exemplo as estalactites e as estalagmites.

Feições exocársticas: dolinas, uvalas, vales cegos, abatimentos, sumidouros, paredões, cânions, lapiás.

Patrimônio Espeleológico: conjunto de elementos bióticos e abióticos, socioeconômicos e histórico-culturais, subterrâneos ou superficiais, representado pelas cavidades naturais subterrâneas ou a estas associadas.

Ressurgências – locais onde a drenagem subterrânea retoma o curso superficial.

Sumidouros – locais onde a drenagem superficial adentra para o meio subterrâneo.

Fonte: NPA

Fonte Correio do Papagaio