Novo suspeito de morte de mãe e criança é preso em Poços de Caldas

Pai de santo foi detido após mandado de prisão temporária de 30 dias.
Principal suspeito revelou ter relacionamento homossexual com o homem.

A Polícia Civil de Poços de Caldas (MG) prendeu na tarde desta quarta-feira (24) o funcionário público Carlos Henrique Ramos, de 36 anos, suspeito de ter participado das mortes da diarista Aline Rosa da Silva, de 30 anos e a filha dela, Tammy Caroline da Silva, de 3 anos, no último sábado (20). Segundo o delegado responsável pelo caso, Cleyson Rodrigo Brene, o suspeito foi detido temporariamente por no máximo 30 dias para ser novamente interrogado.

De acordo com a polícia, o funcionário público foi detido no terreiro de candomblé que ele comanda como pai de santo, no bairro São José, em Poços de Caldas. Ele é suspeito de ter instigado o pedreiro Marcos Francisco Pedrilho, de 22 anos, a matar a esposa e a filha esganadas.

“Em depoimento, o Marcos Pedrilho disse que teria sido influenciado por Carlos Henrique, com quem teria um caso homossexual. Ele nos informou também que o pai de santo teria dito, ora incorporado, ora não, para ele se livrar das duas. Ele também disse que o assassinato da esposa e da filha, justamente no dia do aniversário de 36 anos do padrasto da vítima, seria um presente para ele”, informou o delegado.
Carlos Henrique Ramos quis dar entrevista e disse não ter envolvimento no caso (Foto: Jéssica Balbino/ G1)Carlos Henrique Ramos quis dar entrevista e disse
não ter envolvimento (Foto: Jéssica Balbino/ G1)


Carlos Henrique, ao lado do advogado de defesa, negou qualquer participação. “Eu não tenho envolvimento nenhum com o crime ou com o Marcos. Eu acabei de perder integrantes da minha família. Quero que a justiça seja feita. Eu estou colaborando o tempo todo com as investigações, eu não tenho envolvimento nenhum homossexual com ele, tanto que tenho um relacionamento com a mãe da Aline há 21 anos e não fiz nada, afinal, que motivo eu teria para fazer algo contra minha família?”, declarou.

De acordo com o delegado, testemunhas tanto da parte de Marcos Pedrilho como da parte de Carlos Henrique confirmaram a bissexualidade de ambos, porém não o envolvimento amoroso. Ele também não descarta a hipótese de uma acareação entre os envolvidos.

“Podemos fazer uma acareação entre eles, sim, já que o Carlos Henrique nega que eles eram próximos, mas o Marcos e outras testemunhas informam no terreiro que eles tinham uma relação forte, onde Marcos era tido como ‘pai pequeno’ que serviria ao ‘pai maior’. O que nos preocupa é desvendar o crime em que duas pessoas foram assassinadas cruelmente, como a perícia confirmou a asfixia”, detalhou Brene.
Carlos Henrique Ramos foi conduzido por policiais civis (Foto: Jéssica Balbino/ G1)Carlos Henrique Ramos foi conduzido por policiais civis (Foto: Jéssica Balbino/ G1)






























A Polícia Civil pediu a quebra do sigilo telefônico de Aline Rosa da Silva e Marcos Francisco Pedrilho. A intenção é saber se nas conversas entre ambos há indícios de que o crime foi premeditado e se houve a participação de Carlos Henrique. Ainda na tarde desta quarta-feira, o delegado responsável pelo caso se reuniu com um especialista em religiões – candomblé e umbanda – para obter explicações sobre possíveis rituais que teriam ligação com magia negra.

O crime
No último sábado, Aline Rosa da Silva e a filha dela, Tammy Caroline da Silva foram encontradas mortas na casa que viviam com Marcos Pedrilho. Ele confessou ter matado as duas asfixiadas e que o motivo do crime seria pessoal. Mas, durante as investigações, a Polícia Civil desconfiou da versão apresentada e na terça-feira (23) apreendeu, na casa da família, objetos e livros, entre eles um tratado de magia, e uma carta escrita há três anos provavelmente com o sangue de Marcos.
Delegado Clayson Rodrigo Brene falou sobre o caso (Foto: Jéssica Balbino/ G1)Delegado Clayson Rodrigo Brene falou sobre o
caso (Foto: Jéssica Balbino/ G1)


Durante o interrogatório, Marcos disse ao delegado que foi influenciado pelo padrasto da vítima, Carlos Henrique Ramos. Segundo ele, os dois tinham um relacionamento amoroso e a morte das duas seria um presente de Marcos para ele.

Mensagens em rede social
Outra informação apresentada pela Polícia Civil são as mensagens publicadas pelo suspeito em uma rede social após o crime. Segundo o delegado, mãe e filha foram mortas por volta das 15h e cerca de 17h10 ele postou fotos e mensagens, tanto da mulher como da filha. Além das postagens, o jovem possivelmente usou a senha da esposa para acessar o perfil dela e ainda comentou uma postagem que ele mesmo fez.
Marcos Pedrilho disse estar arrependido das mortes (Foto: Jéssica Balbino/ G1)Marcos Pedrilho se entregou após o crime
(Foto: Jéssica Balbino/ G1)


“A primeira postagem dele foi feita às 17h, dizendo que amava muito a família. A segunda postagem foi feita às 17h08, onde ele postou um álbum com fotos da família, em que ele aparece também e a terceira postagem foi às 17h12, com uma foto da vítima grávida onde ele dizia ‘que saudade desse barrigão’”, disse Brene.

Para o delegado, as postagens evidenciam que o crime pode ter sido planejado por ele e não algo passional, como ele tentou alegar. “Ele estava com elas mortas, dentro de casa, e postou as mensagens com frieza."

Ainda segundo a polícia, Marcos apagou as mensagens que existiam nos telefones, tanto dele como de Aline. Os aparelhos estão com a perícia, que tenta recuperá-las.

Carta escrita com sangue
Na manhã de terça-feira (23), os investigadores da Polícia Civil voltaram à casa onde Marcos Pedrilho vivia com a mulher e a filha. No local, a mãe e o padrasto da Aline acompanharam a ação dos policiais, que apreenderam objetos como uma luminária no formato de uma torre com um dragão, livros como um tratado de magia e a carta escrita com sangue.
Carta que teria sido escrita com sangue do rapaz foi apreendida (Foto: Thalles Bruno/ EPTV)Carta que teria sido escrita com sangue do rapaz
foi apreendida (Foto: Thalles Bruno/ EPTV)


A carta seria uma despedida endereçada à Aline, onde Marcos diz que quando a esposa estivesse lendo a carta ele provavelmente estaria morto. No material ele pedia desculpas por a ter abandonado, mas não suportaria vê-la nos braços de outro.

Ele ainda pedia que a Aline cuidasse bem da filha e na hora de se despedir, dizia que escreveu a carta com o sangue para provar à esposa que a ama. Marcos desenhou um coração cravejado por um tridente com as iniciais dele e dela e assinou a carta.

Questionado sobre a carta escrita com o sangue do suspeito do crime, o delegado informou que o jovem reconheceu a autoria do material e que isso pode ter ligação com o fato de que uma vez ele tentou se matar, cortando os pulsos. “Ele teria cortado os braços a pedido do pai de santo, que teria dito que os pulsos dele tinham que jorrar sangue para que ele salvasse a vida da filha dele que ainda ia nascer”, esclareceu Brene.

Em entrevista ao G1, a mãe do jovem, Rudineia Aparecida da Silva Mariano Leal, disse que foi ela que encontrou a carta na casa da avó do jovem, em Poços de Caldas, e confirmou que ela teria sido escrita com o sangue dele.

“Não sei o que se passou com meu filho, acredito que ele agiu por influência, mas não sei dizer de quem. Nós somos candomblecistas, mas escrever com o sangue não tem nada a ver com a religião. Fui eu que achei essa carta há anos. Na época eles tinham se separado porque ele ‘chifrou’ ela e ela não queria mais nada com ele. Eu dou razão pra ela, mas ele queria se matar”, revelou a mãe do jovem.

Fonte: G1 Sul de Minas