O que o fenômeno social dos “rolezinhos” representa foi o tema da redação do Enem PPL 2014. O assunto não intimidou Jonathan, que na época cumpria pena no Presídio de São Joaquim de Bicas I. A média final do detento no exame foi prejudicada pela nota baixa em matemática, mas o sonho em cursar geologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) ou Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) não cessou. O interno, que concluiu o ensino médio em 2008, e exercia atividade profissional de chaveiro, sonha em frequentar uma universidade e refazer a sua vida.
O exame aplicado nas unidades penitenciárias, unidades socioeducativas e também nas unidades prisionais federais tem, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação, o mesmo grau de dificuldade e o mesmo número de questões do Enem tradicional.
A última edição do Enem PPL teve 38.101 inscritos. Em Minas Gerais, 111 unidades prisionais e 28 APAC’s participaram do exame, inscrevendo 5.889 internos. A pedagoga do Presídio de São Joaquim de Bicas I, Elaine Cristine Marques Gomes, considera o desempenho de Jonathan uma grande conquista. “Nós nos sentimos orgulhosos, pois estimulamos os internos a se inscreverem e a participarem. A unidade estimula os internos a mostrarem para a sociedade que eles estão interessados em seguir um caminho melhor”, diz Elaine.
Além de Jonathan, o detento Laurent Rodrigues de Oliveira também está sendo motivo de orgulho para a unidade de São Joaquim de Bicas I. As notas elevadas na redação - 820 pontos – e nas demais áreas do conhecimento podem possibilitar Laurent Oliveira a realizar o seu desejo, que é cursar filosofia na UFMG. Elaine Gomes inscreveu o interno no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e agora eles aguardam o resultado das chamadas regulares.
No Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, localizado em Belo Horizonte, 81 candidatas se inscreveram no Enem PPL. Dentre elas, destaca-se o desempenho de Grisellyd Taygla Alves, que foi aprovada na chamada regular do Sisu para o curso de Educação Física, da Universidade Federal de Viçosa, Campus Florestal. A detenta, que cumpre pena em regime semiaberto, já é aluna do curso Técnico em Mineração desde o segundo semestre de 2014, quando foi aprovada pelo Sisutec.
A pedagoga da penitenciária, Miriam Célia dos Santos, aposta que muitas internas vão conseguir bolsas integrais do ProUni. “Os bons resultados desta edição refletem a importância da parceria entre a escola da unidade e as pedagogas que acompanharam o desempenho das internas e distribuíram material de estudo para auxiliá-las”. Mriam se refere às 29 detentas que obtiveram nota e critérios para participação no Sisu e às 17 que alcançaram pontuação suficiente para pleitear vagas no PROUNI.
Esta foi a quinta edição do Enem PPL aplicada nas unidades prisionais do estado. De acordo com levantamento da Diretoria de Ensino e Profissionalização da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi), o estado registrou um aumento de 146% no número de unidades participantes em relação à primeira edição do Enem PPL. Na primeira vez, em 2010, Minas Gerais inscreveu 233 presos de 24 unidades.
Ensino das unidades prisionais
Em Minas Gerais cerca de 8.500 detentos estudam. Deste total, 7.142 estão matriculados nas 99 escolas instaladas dentro das unidades prisionais do estado. São 5.770 cursando o ensino fundamental, 1.197 matriculados no ensino médio e 175 no ensino superior.
Fonte: SEDES