A esperança de que as chuvas de dezembro a março voltassem a tornar caudalosos os rios e os reservatórios mineiros evaporou com o prolongamento da estiagem que assola o Sudeste. Sem as precipitações previstas para dezembro e com a projeção de que o primeiro trimestre, que é o mais chuvoso do ano, seja de chuvas insuficientes, a Copasa já adota medidas de reforço, a Defesa Civil está em alerta, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) recomenda cautela e cidades em todo o estado, como Pirapora, que sofre com a redução do volume do Rio São Francisco, estão apreensivas com a possibilidade de que a seca deste ano seja pior que a de 2014, com grande risco de desabastecimento.
A situação é tão grave que, em plena estação chuvosa (outubro a abril), 102 municípios mineiros estão em situação de emergência e mais da metade dos reservatórios de Minas monitorados pela Agência Nacional das Águas (ANA) está com volume abaixo de 50%. A Grande BH não corre risco de desabastecimento, segundo a Copasa.
Em 5 de janeiro do ano passado, 113 prefeituras pediram auxílio ao governo do estado e à União por causa das enchentes, vendavais e desabamentos, segundo a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec). Ontem, exatamente um ano depois, apenas 12 cidades haviam sido atingidas por tempestades. De acordo com a Cedec, um alerta de chuva chegou a ser emitido pelos meteorologistas em dezembro passado, mas não chove. Por isso, a coordenadoria teve de ampliar as ações contra a seca, com 90 caminhões-pipa e 25 mil cestas básicas distribuídas para quem ficou sem água. Atualmente, por causa da seca, o estado se encontra em “alerta”, de acordo com a Cedec.
As chuvas irrisórias dessa estação somadas à seca prolongada do último ano deixaram 12 dos 23 reservatórios de hidrelétricas monitorados pela ANA e pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) com volumes d’água abaixo da metade. O pior deles é o de Retiro Baixo, no Rio Paraopeba, entre Pompéu e Curvelo, que está praticamente seco, chegando a 4,3% de seu volume total.
Em seguida, também em situação crítica, com 9,34% de seu volume, está a Usina de Baguari. Por ser do tipo “fio de água”, que não precisa de grandes barramentos, mas de um fluxo contínuo do rio, a usina tem um grande indicador de seca no Rio Doce, na altura de Governador Valadares, nona maior população do estado, com 245 mil habitantes. Em terceiro, está a Usina de Queimado, em Unaí, no Noroeste de Minas, com 8,65%.
ALERTA Segundo o alerta emitido no fim de dezembro pelo Inpe, o déficit de chuvas de dezembro no Norte de São Paulo, Centro-Sul de Minas Gerais e Rio de Janeiro se somou a anomalias do clima que impediram precipitações em outubro e novembro, gerando uma “estação chuvosa mais fraca em seu início”, para o Sudeste do país.
Diante disso, o instituto, que monitora os satélites meteorológicos nacionais e detém os bancos de dados desse setor, fez recomendação preocupante aos poder público sobre racionamento: “Este cenário requer maiores cuidados aos tomadores de decisão, principalmente em função das condições de baixa umidade do solo após longo período de estiagem e seca na Região Sudeste do Brasil”.
Para o biólogo Ricardo Motta Pinto Coelho, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a previsão é de falta de água. “A crise hídrica está sendo aguçada e com isso o racionamento de energia elétrica e de abastecimento é realidade que só os governos não querem ver. O baixo nível das águas é resultado de recargas de lençóis subterrâneos comprometidos e que respondem por 90% da água doce”, afirma.
Segundo o especialista, pouco tem sido feito pelo poder público para evitar desabastecimento: “Os governos deveriam orientar a população a tomar medidas de cautela no uso da água. Medidas de retenção de água deveriam estar sendo tomadas no meio rural”.
Tanto Coelho quanto o meteorologista do Instituto Mineiro das Águas (Igam) Adelmo Correia concordam que dezembro e janeiro são fundamentais para a recarga de reservatórios. “São os meses mais importantes, com médias históricas de quase 300 milímetros de chuvas, em Belo Horizonte, por exemplo. Fevereiro e março são importantes também, mas já apresentam uma expectativa menor, com médias históricas em BH de 206 e 142 milímetros, respectivamente, o que se repete em quase todo estado”, projeta Correia.
De acordo com Kléber Souza, do 5º Distrito de Meteorologia, não há previsão de chuva importantes para o próximos 15 minutos. “Ainda estamos sob influência de uma massa de ar seco que impede a chegada de frentes frias que são necessárias para provocar chuvas. Com isso, os próximos dias devem ser de calor intenso e pouca umidade”, afirma. A Copasa afirma que não há risco de faltar água por enquanto porque se preveniu, mas tudo vai depender do agravamento da estiagem no estado.
Fonte: www.em.com.br