Beata de Baependi (MG) foi escolhida para ser tema no Carnaval do RJ. Escola Tradição diz que vai revisar pontos que estariam errados no texto.
"Isso está sendo dialogado e com certeza vai ser reparado. Acredito que vai ser uma forma de divulgar com todo o carinho e respeito que a nossa beata merece", diz o músico Agenor Ribeiro Ferreira Júnior, que está acompanhando o processo e também entrou em contato com integrantes da Tradição.
A sugestão de contar a história de Nhá Chica no carnaval carioca veio da própria escola de samba, que completa 30 anos. Segundo a assessoria de comunicação da escola, oito sambas-enredo já foram feitos para que apenas um seja o escolhido e represente a agremiação na avenida. Ainda conforme a assessoria, ainda não há uma data marcada, mas uma comissão deverá ir a Baependi para conversar com os moradores e conhecer mais de perto a trajetória de Nhá Chica.
Segundo o secretário de Turismo de Baependi, o município ainda não recebeu um comunicado oficial da escola de samba sobre a escolha de Nhá Chica como tema.
"É sempre muito bem vinda essas homenagens de mídia para Nhá Chica, manifestações culturais também", disse o secretário Filipe Condé.
Conforme historiadores, Francisca de Paula de Jesus, a Nhá Chica, nasceu por volta de 1810 no distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes, na zona rural de São João Del Rei (MG). No entanto, ela se mudou com a família ainda menina para Baependi. Com a morte da mãe, resolveu se dedicar à fé e à caridade, vocação que seguiu até morrer em 1895. Conhecida como Santa de Baependi, recebeu o título de Venerável e em maio de 2013 foi beatificada em uma cerimônia que reuniu 35 mil pessoas na cidade.
Na cidade, a escolha da beata como tema do carnaval dividiu opiniões. "Eu não concordo porque essa parte religiosa cabe mais à Igreja do que essa festa profana que é o carnaval", disse o músico aposentado Márcio José Manja. "É uma benção", disse a dona de casa Reni Francisca de Jesus.
A escola de samba Tradição informou que a sinopse que faz menção ao suposto estupro da mãe de Nhá Chica será revista. Até então, segundo historiadores, Nhá Chica seria filha de uma escrava e o pai é desconhecido. A beata morreu em 1895, com cerca de 85 anos de idade.
Fonte G1 Sul de Minas
Conheça a sinopse da Tradição para o Carnaval 2015:
GRES Tradição
Carnaval 2015 – Enredo: Nhá Chica: a beata negra e guerreira do Brasil
Autor: Leandro Valente
Nasci Francisca, negra, mineira, filha de escrava estuprada por seu senhor
Mas querida por Deus, que em nenhum momento me desamparou
De linhagem nobre africana, nunca me importei com beleza ou riqueza
Mesmo após minha alforria, procurei viver na pobreza
Aos dez anos, perdi minha mamãe
A dor foi uma espada que furou meu coração
Desde então, fui adotada por Nossa Senhora da Conceição
Sempre do meu lado, a mãe santa me fez decidir
Que era pelos pobres que eu deveria viver e pedir
Ganhei fama entre meu povo de São João Del Rei
A Francisca virou Nhá Chica
Aquela que nunca desiste
A mulher negra, devota e alforriada que a todos assiste
Venci a barreira da dor e do preconceito
Enfrentei invejas e desconfianças
Teimosa, pedi e juntei por três décadas
Construí a tão sonhada capela para minha mãe do céu
Mostrei a todos o valor de ser fiel
Deixei a vida cedo para ganhar a eternidade
Mas sempre rogo a Deus por todos que pedem por pão
Agora Beata e futura santa, sou enredo da Tradição!
Fonte Marquês da Folia