
Dentre
tantos que participaram daquele grupo, também se destaca o apoio técnico às
apresentações: Cerny (contrarregra); Oto Roza (sonoplasta); Gino Peterle e José
Silveira (cenógrafos); Duarte Brochado (guarda-roupas); Álvaro Ramos e José
Rosa (eletricistas); Noé Sacchi Gomes, Aluisio Menezes e José da Rocha
(maquinistas); Silvia Figueiredo, Silvio Ferreira e Cacilda Marques
(maquiadores). Luiz Silveira era o Diretor do Departamento de Teatro e Diná
Menezes a subdiretora do Departamento Feminino.
A
partir de sua criação, dezenas de peças de renomados autores nacionais e
internacionais foram levadas a efeito, com destaque para a comédia em 3 atos
“Cala a boca, Etelvina”, de Armando Gonzaga; “Morre um gato na China”, uma
divertida comédia em 3 atos do afamado Pedro Bloch.
No
período de outubro de 1954 a
outubro de 1955 foram montadas 11 peças, sendo 33 representações (3 de cada
peça). Naif Rafael (então tesoureiro do grupo e ator) em 25 de outubro de 1955
expressava o agradecimento do grupo teatral ao então Presidente do CRAC, Walter
Toledo Menezes, que acreditou e incentivou essa significativa célula de cultura
na cidade de Caxambu. Da mesma forma, ao Governador eleito do Estado de Minas Gerais,
Dr. José Francisco Bias Fortes, que, estando em Caxambu com a família,
prestigiara o espetáculo “O divino perfume”, de Renato Vianna, encenado em 24
de outubro daquele ano.
“Deus
lhe pague”, de Joracy Carmargo, foi por diversas vezes interpretada, da mesma
forma que “O último Natal”, de Amaral Gurgel, um “verdadeiro cavalo de
batalha”, na expressão de Naif Rafael.
Dentre
os atores mais constantes do grupo teatral estavam o próprio Naif Rafael, Luiz
Silveira, Genilda Peterle e Americana Silveira, esta com talento e beleza
incomuns. Admirados pelo público da cidade, como também, e principalmente, pelo
público em trânsito nos hotéis de Caxambu, o Grupo de Teatro do CRAC foi alvo
de aplausos e elogios os mais diversos, mesmo porque encenava peças, inclusive,
para eventos especiais ocorridos na cidade, assim como Convenções do Rotary
Clube e a 5ª Semana do Cinema Brasileiro, aqui acontecida em abril de 1956. Isso
mesmo! Caxambu já sediou a Semana do Cinema Brasileiro, evento que a partir de
alguns anos passou para a cidade de Gramado, no Rio Grande do Sul.
Encenando
grande número de peças entre os anos de 1954 e 1960, o grupo mereceu aplausos
acalorados das mais variadas plateias. Exemplo disso, quando da realização da 5ª
Semana do Cinema Brasileiro, em abril de 1956, aqui estiveram personalidades
marcantes do cinema e do teatro brasileiros.
Gilda
de Abreu e Vicente Celestino naquela ocasião foram enfáticos: Encontramos no Teatro do CRAC um grupo de
artistas que nos emocionaram profundamente pela disciplina e entusiasmo que se
sentia durante toda a bela peça ontem representada. É por isso que deixamos
aqui impresso o nosso grande entusiasmo.
Outro
expoente do cinema nacional, Anselmo Duarte, na mesma ocasião e pela mesma peça
encenada – “Os transviados ou o Último Natal”, de Amaral Gurgel -, assim se
manifestou: Assisti a representação da
peça ‘Os transviados’ pelos artistas do CRAC. Um espetáculo digno da plateia
mais exigente, pois os artistas que tive a imensa satisfação de ver
representando são melhores que muitos profissionais e dignos do aplauso do
público mais exigente do Brasil. A esses rapazes que dirigem o CRAC e aos
magníficos artistas os meus mais sinceros parabéns. Nessa oportunidade, o
grupo teatral se fez representar por Luiz Silveira, Francisco Castilho, Diná
Menezes, Manoel Santos, Americana Silveira, Naif Rafael e Duarte Brochado.
Considerada
um outro “cavalo de batalha” a peça “Irene”, de Pedro Bloch, foi encenada por
diversas vezes em ambiente doméstico e em outros locais, assim como em Cruzília,
Baependi, Lambari e São Lourenço. No entanto, dignas de nota foram as
apresentações em Caxambu em duas oportunidades: a primeira delas, no dia 28 de
outubro de 1956, homenageando Eliza Guedes e Alda Mello, ambas por terem
conquistado o título de “campeã mineira de tênis”, nas modalidades simples e
dupla feminina; a segunda, nos dias 29 e 30 de janeiro de 1957, em benefício da
construção do monumento ao Cristo Redentor no alto do Morro do Caxambu. Em
ambas as representações, a equipe teatral era secundada no ponto por Salma
Sarkis.
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A peça “Irene”, vendo-se em cena Álvaro Clébicar, Americana Silveira e Diná Menezes |
Genolino
Amado foi outro grande autor teatral que honrou com o seu nome peças encenadas
pelo grupo amador do CRAC. Nascido em
Sergipe, membro da Academia Brasileira de Letras, foi um dos mais afamados
teatrólogos brasileiros do século XX, apresentando um afamado programa na Rádio
Nacional intitulado “Crônica da Cidade”.
A peça “Avatar”, de sua autoria e escrita em 1948, é uma comédia em 3
atos, inspirada num conto de Theóphile Gauthier, sendo na ocasião de sua
estreia o papel de Lúcia interpretado pela talentosa Alice Silva.
“Compra-se
um marido” também merece registro: comédia em 3 atos, de autoria de José
Wanderley, várias vezes encenada, merecendo o aplauso acalorado de veranistas e
residentes de Caxambu. A foto a seguir mostra uma cena do 2º ato, estando
presentes na mesma Álvaro Clébicar, Genilda Peterle e Naif Rafael.
A
presença do teatro em nossa cidade, nos chamados “Anos Dourados” da cultura
brasileira, foi uma agradável realidade, devendo-se mencionar o apoio
incondicional sempre emprestado por Júlio Pereira, então proprietário do Hotel
Caxambu, não fosse ele um ex-ator do cinema português, tendo atuado com grande
destaque no longa metragem “Luiz de Camões”.
Lembramos,
também, por dever de justiça, de outros artistas que representaram no grupo
teatral do CRAC, para que a posteridade reconheça o esforço e o valor de cada
um deles: Álvaro Ramos, Dóra Luz, Elba Brochado, Elza Dauanny, Genovena Máximo,
Ilma Ferraz, Lúcia Magalhães, Maria do Carmo, Marília Caldas, Nilza Menezes,
Paulo Sacramento, Rilma Viotti e Ubirajara Mosqueira, além da competente
participação de José Pereira Dantas como cenógrafo, garantindo a todos os
espetáculos uma qualidade digna das grandes casas teatrais de outras praças.
Além
das peças já nominadas anteriormente, dignas de nota são: “Cala a boca,
Etelvina”, uma comédia de Armando Gonzaga; “Retalho”, um melodrama em 3 atos
traduzido por Dário Nicodemi; “O Isidoro”, comédia em 3 atos de João Garrucha;
“Morre um gato na China”, comédia em 3 atos de Pedro Bloch; “Se Anacleto
soubesse”, comédia em 3 atos de Paulo Orlando; “Aconteceu naquela noite”, em 3
atos, de autoria de J. Wanderley e D. Rocha; “O diabo enlouqueceu”, comédia de
Paulo Magalhães em 3 atos; “Apuros de um coronel”, comédia em 2 atos, de
autoria de Teixeira Pinto; o afamado “Deus lhe pague”, do consagrado dramaturgo
Joracy Camargo e a internacionalmente conhecida “Casa de Bonecas”, do dramaturgo
norueguês Henrik Ibsen, que mereceu, após a sua apresentação, o seguinte
comentário do então Presidente do Conselho Deliberativo da Associação Paulista
de Imprensa: Nada mais fácil do que
elogiar o grupo de teatro amador do CRAC nesta apresentação. Seus intérpretes
deram uma demonstração de conhecimento de teatro que muitos profissionais
gostariam de possuir. Posso afirmar, dentro da experiência que possuo, que os
amadores do teatro de Caxambu farão sucesso em qualquer cidade onde o teatro
seja mais difundido. Desejo felicitar o CRAC e, em particular o diretor
artístico, Julio Pereira, a quem se deve, como é óbvio, muito desse sucesso,
senão todo.
Em 1956, também por conta da
já mencionada Semana Nacional do Cinema, um outro famoso casal daria suas
impressões sobre o teatro amador do CRAC: a consagrada acordeonista Adelaide
Chiozzo e seu marido, o musicista Carlos Mattos, que assim se expressaram sobre
o nosso grupo teatral: Vivemos a grande
satisfação de assistirmos a peça Irene. Satisfação esta causada pelo desempenho
dos artistas que dela participaram. Fazendo votos de crescente êxito em suas
representações futuras, aqui deixamos nossas assinaturas, assinaturas estas portadoras
dos melhores votos de boa sorte. Carlos Mattos nasceu no Rio de Janeiro em
1926 e ali faleceu em 2006; era violonista e professor de violão; Adelaide
Chiozzo (foto) nasceu na cidade de São Paulo em 1931. Participou de grande
número de filmes da extinta Atlântida, quase sempre na companhia de Oscarito,
Grande Otelo, Ivon Curi e Eliana. Adelaide participou de algumas novelas na
televisão, sendo o seu último trabalho em “Feijão Maravilha”. Recebeu da Revista do Rádio o título de
“Namoradinha do Brasil” (muito antes de Regina Duarte).
Também dignos de notas foram os depoimentos
consignados pela professora de teatro da Escola Celestino da Silva, do Rio de
Janeiro, Juranda das Dores Gomes; da professora Yara Perdigão-Drapier, de São
Paulo e do casal Arthur Donato e Hermínia Faro Donato, que passaram as suas
bodas de 35 anos de casamento em Caxambu: É
verdadeiramente encantador encontrar-se n’um meio fraco de recursos, o ânimo
entusiasta de um grupo de estudiosos
para a realização de um templo de arte como o que nos foi dado apreciar
no espetáculo desta noite. Sobre este casal, ainda cabe uma anotação: o
grande escritor Pedro Nava, em sua obra Chão
de ferro, lembrou, através de um dos seus personagens, sua intimidade com o
general Silva Faro, pai de Arthur Donato, traçando uma bela estampa da moça: Hermínia tinha olhos de água-marinha.
Paulo Paranhos