O amor, por que não?



Ao longo da história dos seres humanos sobre o nosso planetinha, o amor tem sido muito cantado e pouco experimentado. Poetas cantam o amor, escritores escrevem sobre o amor, filósofos pensam o amor, a grande maioria provavelmente nunca o tendo conhecido realmente. Mas afinal, o que é esse fenômeno misterioso que damos o nome de amor?

O amor é uma energia. Uma poderosíssima energia capaz de criar mundos e transformar outros. Um perfume, uma fragrância, um movimento mágico. Algo bem diferente do que se convencionou chamar de amor. O amor liberta: ao mesmo tempo que nos torna auto-suficientes, nos aproxima do nossos companheiros de jornada sobre a Terra.

Não é esse amor que a humanidade vem vivenciando até aqui. O amor que conhecemos é na verdade uma afirmação de posse, uma moeda de troca, quando não é uma dependência, algo bem diferente do que ele é em essência. O amor que conhecemos está influenciado pelas, novelas da Globo, pelos filmes de Hollywood, e por romances que apesar de terem o seu valor , sequer tangenciam o que o amor é em verdade.

A Bíblia diz que o verdadeiro amor tudo crê, tudo espera, tudo compreende, é paciente, benigno, entre outras coisas. Jesus disse que toda a lei poderia ser resumida em dois mandamentos: amai o próximo como a ti mesmo e A Deus sobre todas as coisas. É impossível amar ao próximo sem que Antes a pessoa ame a si mesmo. É impossível oferecer o que não se tem. Uma regador vazio não molha as flores. E como seria possível amar ao próximo se não amarmos Deus, o princípio unificador de todas as coisas? Como é possível amar se não amarmos a Deus que é o próprio amor em sua mais potente expressão? Jesus vai mais longe e nos diz que devemos amar nossos inimigos. Uma fala sua que tem sido muito mal interpretada. Outro dia li na Internet um post de uma pessoa que dizia que amar o inimigo era um lema gerado pela hipocrisia cristã. Um duplo equívoco. Primeiro que Jesus não falou isso na condição de cristão (o que não era), e sim na condição de cristo, daquele que realizou a unidade com Deus e que por isso tem autoridade para falar em nome dele. Segundo que longe de hipocrisia, o que a frase de Jesus afirma é que se nutrirmos sentimentos ruins em relação ao nosso inimigo, caímos na dualidade, perdemos a unidade com o todo, voltamos ‘a estaca zero. Amar o inimigo não é possível através do humano, e sim do divino. Amar o inimigo significa que estamos avançados em nossa caminhada espiritual.

Mas nada disso se torna possível sem o cultivo do silêncio. O amor é filho do silêncio. O amor não tem circulado em nossos dias muito por causa do burburinho que nesse exato momento está efervescendo em cada mente humana. O homem foi condicionado ao pensamento. Vivemos numa cultura que valoriza o intelecto acima de qualquer coisa (talvez menos apenas que o dinheiro-rico pode ser burro). E amor não nasce na cabeça. O amor é um movimento do coração. Apenas quando cessa a inquietação mental é que ele pode surgir, exatamente como o sol surge após a dispersão das nuvens. Não existe outro modo.

A maneira mais eficaz de alcançarmos esse silêncio é a meditação. Meditar significa nos desapegarmos a qualquer pensamento. Não termos onde reclinar a cabeça, como também disse Jesus. Estarmos atentos a todo movimento que aconteça em nossas mentes, evitando qualquer tipo de juízo ou reflexão a respeito do que surja. Se pensarmos a respeito do que surge na mente já estaremos mergulhando no passado, o pensamento só pode trabalhar com informações anteriores. Se deixarmos o pensamento ir com a mesma facilidade com que vem, passamos a experimentar uma nova vibração, um frescor, uma originalidade que só é possível nessa vacuidade, o vazio fértil, no dizer dos budistas.

Se existe alguma Nova Jerusalém é este estado de consciência desperta produzida pela meditação. É esse estado que corresponde ao sonho que tinha recorrentemente na infância quando voava entre pombos sobre os céus da cidade. è esse estado que nos permite voar embora nossos pés ainda estejam pregados no chão. Que nos torna verdadeiramente divinos, embora humanos, e verdadeiramente humanos, embora divinos. Quem se estabelece nessa dimensão da existência se reencontra consigo mesmo, volta ao lar, sua residência cósmica, e provavelmente nunca mais voltará para a Terra. A não ser voluntariamente, com o único propósito de auxiliar a humanidade em sua jornada de encontro à liberdade.

AntônioAugusto Lima
Psicólogo, Publicitário e Poeta