As principais áreas de preservação desmatadas na região são matas ciliares, às margens de nascentes, rios e mananciais. Elas protegem os cursos d'água do assoreamento e servem de habitat para diferentes espécies de animais, auxiliando na manutenção do equilíbrio ecológico.
Filho de agricultor, Hediel Sobrinho, de 23 anos, reconhece a importância de preservar o meio ambiente. O detento trabalha na horta do presídio de Passos, cuja produção é doada integralmente a uma instituição de combate ao câncer e agora é um dos nove presos que participam do curso de viveiro de mudas.
“Estou tendo a oportunidade de ampliar meus conhecimentos e transformar as outras pessoas, tanto quanto elas me transformaram, despertando-as para a consciência ambiental”, destaca Hediel.
A doação de mudas irá contribuir para a sustentabilidade ambiental da região, que possui uma economia baseada principalmente na agropecuária e no agronegócio.
O produtor rural José Reis, de 55 anos, foi criado na zona rural de Passos e após uma autuação da Polícia Militar Ambiental em 2011, teve que reflorestar as áreas de preservação da sua chácara, localizada no município vizinho de Itaú de Minas. Ele acredita que a doação das mudas ajudará a conservar a natureza local. “Passos, principalmente, possui muitas áreas que precisam ser recuperadas. Entristeço-me ao ver plantas nativas sendo destruídas”, relata.
O curso e a implantação do viveiro no presídio é fruto de uma parceria com a Polícia Militar Ambiental, o Instituto Social Educacional de Pesquisa de Minas Gerais (ISEPEN), a Associação Regional Proteção Ambiental (ARPA) e a Usina Itaiquara, produtora de açúcar e álcool.
A Polícia Militar Ambiental tem auxiliado na articulação com os outros parceiros e está ministrando o curso para os detentos selecionados. Rotineiramente, cidadãos que desmataram áreas de preservação são autuados pela corporação. Só ano passado as multas somaram R$ 1,9 milhão na região. Além do valor devido, eles são obrigados a reflorestar a área degradada.
“O novo projeto será bom para o preso, para a natureza e, consequentemente, para toda a sociedade”, destaca Thiago Salgado, tenente da Polícia Militar Ambiental.
A coordenadora do Núcleo de Ensino e Profissionalização, Kátia Pereira, acredita que esse é um trabalho inovador, pois quebra o estigma recíproco estabelecido entre o preso e o policial militar, através da possibilidade de uma relação colaborativa entre ambos.
A Usina Itaiquara de açúcar e álcool, que já tem experiência no cultivo de mudas, auxiliará na parte técnica e fornecerá, continuamente, todo o composto orgânico necessário para a produção.
O processamento da cana para a extração do caldo produz uma grande quantidade de subprodutos, um deles é a “torta de filtro”. Trata-se de um resíduo da indústria sucroalcooleira que pode ser utilizado como fertilizante.
“Não podemos descartar a torta de filtro em qualquer lugar. Por isso, fazemos um trabalho de compostagem desse resíduo, e, depois de 40 dias, o material está pronto para ser usado como composto orgânico nas plantações”, explica o gerente de meio ambiente da usina, Douglas Souza.
O curso e suas sementes
O curso teve início dia 16 de junho e tem previsão de 40h/aula, no mínimo, incluídas as partes teórica e prática e fornece um certificado para os presos.
Pelo trabalho ou pelo estudo, o sentenciado tem a oportunidade de atenuar a quantidade de pena a ele imposta. Na razão de um dia a menos a cada 12h de estudo ou três dias trabalhados.
Depois da capacitação, serão selecionados quatro detentos para trabalhar de forma remunerada no Horto Florestal de Passos, pertencente ao Instituto Social Educacional de Pesquisas de Minas Gerais (ISEPEN).
Por Dayana Lourdes Silva
Crédito fotos: Ascom Seds MG