Dantas Mota: o poeta preferido de Drummond



José Franklin Massena de Dantas Motta nasceu em 22 de março de 1913, na antiga Vila de Carvalhos, na época distrito do município de Aiuruoca. Estudou em Itanhandu no prestigiado Colégio Sul Mineiro e naquela cidade publicaria, em 1932, seu primeiro livro: Surupango.
Formou-se em 1938 na Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais, foi advogado militante, exercendo seu mister por mais tempo em Aiuruoca. Além disso, mantinha contato permanente com escritores no Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, mais particularmente com Carlos Drummond de Andrade, com quem se correspondia e encontrava esporadicamente, desenvolvendo, conforme mesmo afirmou Drummond, uma poesia sui generis.
         
Vejamos uma página desse extraordinário poeta:
Canção da casa vazia
I
O tempo parou e frio, lá fora,
é o sol das almas.
Verdadeiramente falando, este não é um tempo de...
preparação. Antes,
de quaresma e envelhecimento.
Exemplos: da cal nas paredes,
da moldura nos retratos,
das cadeiras nas salas,
do verniz nos móveis,
das construções nos prazos antigos,
da chuva nas calhas,
até mesmo da dor no corpo morrendo
Março Março Março: Pai,
olha, lá fora, como o vento do outono
brinca com as roupas nos varais!
II
O sol ainda não esquentou de vez, Pai,
Porém, se o sol se esquentar de vez,
As quaresmas lá fora se salientarão tanto,
Que a gente sentirá a tristeza da agonia,
A despedida da Terra.

Principalmente, Pai,
Se as cigarras derem de cantar.
                                               (Esparsos)
Para Drummond, o verso mais característico de Dantas Motta é o das Elegias do País das Gerais, de 1961. Os títulos são reveladores: Primeira Epístola de Jm. Jzé. da Sva. Xer. -- o Tiradentes -- aos Ladrões Ricos; e Segunda Epístola do Tiradentes Apóstolo ao Ilustríssimo e Excelentíssimo Sñor Capitão-General de Mar & Terra Destes Povos do Brasil. 
Nessa obra, Dantas Mota, como diz Drummond, quebra todos os compromissos com a palavra ritmada para soltar apenas o palavrão retumbante e definitivo. De fato, aí o poeta expele um desabafo de revolta. Numa expressão que combina texto jurídico com sermão religioso, ele usa o mártir da Independência para invectivar as injustiças do presente. No texto que serve de introdução às Elegias, Drummond também conta que Dantas devia sentir-se muito ligado ao Tiradentes, uma vez que descendia do capitão Vicente Ferreira da Mota, um dos condenados da Inconfidência.
         Dantas Motta faleceu em 2 de fevereiro de 1974 e, em entrevista ao “Estado de S. Paulo”, em 1975, Carlos Drummond de Andrade afirmou que dialogar com Dantas Motta lhe dava a sensação de estar conversando com alguém que, sob a aparência de Dantas, se chamava Minas Gerais. Era Minas dialogando comigo, com sua fala especial, seu cigarro de palha. Sua ironia e doçura misturadas. Não essa Minas convencional, submissa, concordante, cautelosa… Mas a Minas aberta, revisora, contestatória, que não se conforma com a mesmice dos princípios estabelecidos e expõe a exame nomes, situações, ideias, com infatigável espírito crítico

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* Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais