“Telhas nas coxas” com mais de 100 anos encontradas em Área de Preservação Ambiental

Antiga Fazenda Sharp será sede da ONG Arara e durante limpeza do terreno foram encontradas as telhas históricas.



No dia 18 de abril, enquanto era realizada uma limpeza do terreno onde será construída a sede da ONG Arara foram encontradas telhas cerâmicas do tipo romana, da época colonial, também conhecidas por “telhas nas coxas”. A expressão vem da antiga lenda que diz que eram fabricadas nas coxas dos escravos, por serem telhas com diferentes tamanhos e qualidades, moldadas de uma forma mais simples.

Robert Ricceli Oliveira, gestor ambiental e presidente da ONG Arara, foi quem encontrou as telhas e afirma ter ainda muito mais história a ser descoberta naquele local. O terreno, que tem 42 hectares, é o local da primeira construção de São Lourenço e também da primeira fonte de água, a Fonte Viana.

Todos os objetos históricos encontrados na fazendo irão fazer parte do acervo da ONG e serão expostos na sede, para visitação, garantiu o gestor ambiental.



Um breve histórico da Fazenda Sharp

Segundo a história levantada pelo presidente da ONG, dona Miguela Imenes e seu marido Bruno foram os primeiros proprietários da fazenda e moravam numa casinha aos fundos do terreno, onde foram encontradas as telhas. Há relatos de que viveram ali até o ano de 1906, quando aconteceu a enchente, também conhecida por “ a grande de 1906”. Por isso, Robert acredita que as telhas devem ter no mínimo 100 anos.

Após a morte de Bruno, a fazenda foi vendida a Antônio Francisco da Costa Ramos Sharp e, após o seu falecimento, permaneceu cerca de 20 anos desativada. Foi então incorporada pela Prefeitura e posteriormente levada a leilão. A Empresa de Águas São Lourenço arrematou o terreno, que passou para a Perrier e atualmente para a Nestle.

Em 2003, o Casarão (construído entre 1906 e 1910) foi tombado pelo Patrimônio Histórico de São Lourenço, através do Decreto Municipal Nº 1.940/2003. Nele passou a funcionar a Casa da Cultura, mas após transferência da Casa da Cultura para a Estação de Trem, o Casarão passou a sofrer com ação de vândalos e das intempéries. Com a falta de manutenção, o Casarão foi destruído, restando apenas ruínas da primeira construção de São Lourenço. Foi instaurado pela Nestle um processo por ato lesivo ao Patrimônio que tramitou na Justiça e apenas foi sentenciado no início de 2015.

“Por se tratar de área de extrema importância nas recargas de águas minerais, por possuir valores ambientais e históricos e evitando a sua destruição, a ONG Arara iniciou os trabalhos para transformar a área numa Unidade de Conservação de acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC)”, explica o presidente da ONG.

“Foram realizados consultas públicas, estudos e avaliações e em Dezembro de 2012, a área foi Decretada como Área de Preservação Ambiental Águas de São Lourenço, pelo Decreto Municipal Nº 4.385, onde foi feito um termo de Convênio com a ONG, que transferiu a Gestão do Local, pelos próximos 10 anos, renováveis por mais 10”, esclarece.

Apesar da ONG ser responsável pela gestão do local desde 2012, apenas agora com o final do processo que tramitava na justiça é que pôde começar os trabalhos no terreno.

Assim que saiu a decisão da justiça - que condenou como são responsáveis pela destruição do Casarão tombado, o então prefeito, Clóvis Aparecido Nogueira, mais conhecido por Nega Véia; o secretário de cultura, Natanael Paulino e Zélia Chagas, que substituiu Natanael na diretoria da Cultura -, a ONG finalmente começou os trabalhos no terreno.
A ONG Arara


A ONG Arara foi fundada em agosto de 2011 por um grupo de amigos, na época, alunos de gestão ambiental. A grande missão da ONG é a proteção dos animais silvestres, procurando atender 22 cidades da região, em parceria com a Polícia Ambiental.

A ONG pretende finalizar ainda em 2015 a construção da sede e ativar os trabalhos da Associação. “Teremos um centro de triagem de animais silvestres, espaço para educação ambiental, trilhas educativas e futuramente até um serpentário”, afirma Robert. O objetivo, além de realizar o trabalho de resgate, reabilitação e cuidados com os animais silvestres, é também criar um novo ponto turístico na cidade, que proporcione ao visitante experiências ao ar livre, que o aproxime da natureza e dos animais.

A ONG terá também um viveiro de mudas nativas e um centro de compostagem, e ainda terá uma grande biblioteca na sua sede, onde irá colocar o seu acervo de 7 mil livros sobre fauna, flora, biodiversidade, meio ambiente, que já dispõe.

Para o presidente é também muito importante a parceria com outras entidades do terceiro setor, como os escuteiros ou o grupo da terceira idade, para que todos em conjunto ajudem na preservação do terreno.

O terreno de 420 mil metros2 onde será a sede da ONG tem 120 mil metros2 de área de recarga e 230 mil metros2 de mata nativa e é hoje uma Área de Preservação Ambiental.

Para conhecer mais a ONG e os seus projetos visite o site: www.projetoarara.o
rg.br

Fonte: Correio do Papagaio